(…)
[A
ministra da Habitação] tem três meses para apresentar “novos
instrumentos”, mesmo que “provisórios”.
(…)
A
habitação tem sido tratada pelo Governo com a mesma displicência com que tratou
qualquer problema estrutural.
(…)
A
promessa de resolver as carências urgentes teve a mesma sorte que a de garantir
a cada pessoa um médico de família.
(…)
[Mas] o
apodrecimento da questão [da habitação] fez disparar os alarmes.
(…)
No
programa eleitoral de 2019, o PS propôs “uma meta muita clara: erradicar todas
as carências habitacionais até ao 50º aniversário do 25 de Abril, em 2024”.
(…)
[Após
muito mais retórica vinda a público], execução, nada.
(…)
Em
2022 houve novas eleições e lá veio a mesma promessa.
(…)
Houve
quem acreditasse, chegou o dinheiro [do PRR].
(…)
Mais
uma vez, continuamos na promessa dos médicos de família — vai haver, não
pergunte nem como, nem quando, nem se.
(…)
O
ultimato do primeiro-ministro à ministra, que felizmente se vai resolver a bem
com os tais “instrumentos”, resulta da perceção de que, se não se fizer nada,
mais vale parecer.
(…)
80%
das famílias compraram casa, a maioria continuará a pagá-las por eternidades (…),
mas os filhos não podem comprar (…) nem arrendar casa (as rendas subiram 7,6%
em 2022).
(…)
Em
Portugal os jovens e já não tão jovens vivem em casa dos pais, em média, até
aos 34 anos, um desastre geracional.
(…)
Ao
mesmo tempo, o mercado imobiliário está pujante.
(…)
O
poder das empresas imobiliárias permite-lhes vencer a realidade do país, pela
simples razão de que têm a procura estrangeira.
(…)
As
casas são mais caras em Lisboa do que em Milão, Madrid e Barcelona.
(…)
Para o
poder imobiliário, o desastre social que está a ser multiplicado na habitação é
um bom negócio.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Percebeu-se
a desorientação do Governo com a explosão dos professores que combinou exaustão
com indignação em consequência das políticas aplicadas entre 2006 e 2009.
(…)
[Foram ignorados] os inúmeros sinais de um estatuto social
desvalorizado, e sucessivamente humilhado, de uma profissão tão difícil e
exigente.
(…)
O mundo mudou e, acima de tudo, é imperativo que os
professores reconstruam o ambiente democrático da escola.
(…)
Urge
partir de quatro eixos – carreira, avaliação, gestão e burocracia – e discutir
propostas sustentáveis com um ponto prévio: a carreira implicará investimento e
as outras reduzirão despesa.
(…)
[Um dos objetivos das políticas aplicadas, entre 2006 e 2009
foi] a precarização das profissões mais numerosas do Estado social. Resultou
num crepúsculo das democracias.
(…)
Objectivamente, a carreira dos professores registou duas
décadas de precarização.
(…)
O surpreendido Governo recorreu a tácticas antigas: público
contra professores e propostas que repetem o que existe.
(…)
O
processo de vinculação resulta novamente de uma intimação, e não de qualquer
boa vontade, de Bruxelas em 21 de Julho de 2022.
(…)
A recuperação do tempo de serviço reclama há muito um
qualquer faseamento e exige estudos financeiros actualizados uma vez que
milhares de professores já se reformaram ou estão em escalões de topo.
(…)
Acima de tudo, nenhuma profissão pode ser avaliada como os
professores portugueses.
(…)
A farsa administrativa, com avaliadores sem "olhos nos
olhos" com avaliados, tem requintes totalitaristas.
(…)
Há soluções civilizadas [de avaliação de professores] não
métricas e a decência democrática usa mecanismos elevados para a requalificação
de profissionais.
(…)
O
descrito agravou-se porque se impôs (2009) um modelo autocrático de gestão de
escolas que abriu portas a parcialidades avaliativas, e organizacionais.
(…)
Portanto, e no domínio da gestão, um primeiro passo será
regressar ao modelo anterior a 2009.
(…)
[Sobre burocracia], desde que há escolas
que os professores devem estar sempre preparados para a prestação de duas
contas: como gerem o programa da disciplina que leccionam e como avaliam os
alunos.
(…)
Aplicou-se aos professores uma inversão do ónus da prova que
explica a insanidade burocrática.
(…)
Só
surpreende [a atual explosão] quem vivia numa bolha ilusória alimentada pelas
organizações da situação que asseguravam que o bom seria governar sem os
incompreensíveis professores.
Paulo Prudêncio, “Público” (sem link)
Razões ponderáveis para a defesa da
dignidade no trabalho estão em discussão e debate alargado, em sede de
especialidade parlamentar, sem que se evite o habitual bloqueio central pelos
interesses.
(…)
É perante velhos truques que estamos.
(…)
A repercussão da dinâmica do poder exige,
sistematicamente, o cumprimento ponderoso da agenda, gerando novos poderes e
novas questões sem resposta. A insustentabilidade é gigante.
(…)
As obrigações de uma maioria absoluta
deveriam acarretar, por higiene pública, um acrescido sentimento de náusea
perante o exercício da opacidade.
(…)
O que havia sido aprovado em matéria de
remissão de créditos laborais pode cair perante a pressão de quem manda.
A
economia da Arábia Saudita superou a da Índia
como a de maior crescimento no mundo em 2022 – 8,7% contra 6,8%. Em grande
medida ajudada pelos preços altos do petróleo.
(…)
A
gratidão de Kristalina Georgieva pelo maná saudita liga pouco à situação de
direitos humanos no reino, onde o clima de terror não tem paralelismo na
história moderna da Casa de Saud.
(…)
Em 2022, foram 147 execuções, 90 delas por crimes não violentos.
(…)
Para
Georgieva [Diretora Executiva do FMI], a Arábia Saudita é um “ponto brilhante”
para a economia mundial, como lhe chamou há duas semanas, no Fórum Económico
Mundial, em Davos.
(…)
A iluminação alimentada pelo petróleo de um dos maiores
produtores do planeta ofusca quaisquer escrúpulos ocidentais.
(…)
Em tempo de guerra, não se tangem inquietações.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Tomará
o PS alguma medida que condene legalmente esta sistemática violação da
Constituição [com repetidas palavras de incitamento ao ódio por parte da
extrema-direita na AR] ou ficar-se-á por palavras vãs, como na repreensão de
Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, ao líder do
partido Chega por este, mais uma vez, fazer um discurso racista numa sessão
parlamentar?
Cristina Roldão, “Público” (sem link)
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