[A
polémica sobre a habitação] é tudo uma farsa em que se usam duas máscaras: os
que gritam que querem que se mantenha a solução liberal, que já provoca um
desastre social, e o Governo que finge que vai tomar medidas valentes.
(…)
O
resultado será que nem uma única casa será objeto do tal arrendamento forçado.
(…)
[Para
a direita e para o PS] o nosso futuro é a economia do turismo e, portanto,
paciência para a habitação.
(…)
Até
agora, a habitação em Portugal tem sido o arquétipo do sucesso liberal.
(…)
A Lei
Cristas, apontada pelo primeiro-ministro num debate com ela como origem do
desastre, foi por ele cuidadosamente preservada.
(…)
Em vez
de apoiar os proprietários na reabilitação com a condição do arrendamento,
autorizou-se a vaga do Alojamento Local.
(…)
Em vez
de construção pública, entregou-se a habitação à finança.
(…)
O
mercado é rei.
(…)
Curiosa
perspetiva [a do ataque dos liberais], que, aliás, acusa mais de metade dos
países da União Europeia (que controlam as rendas) ou os liberais do Canadá.
(…)
Pelo
menos um dos fundadores do liberalismo [Adam Smith] pensou nesta questão: será
que o direito do proprietário da casa é absoluto?
(…)
A
sociedade tem de impor regras ao mercado, dizia o pai do liberalismo.
(…)
O
problema é que é o turismo, desde 2019, que representará mais de metade das
exportações.
(…)
Não é
a capacidade produtiva, é a exploração das vantagens do território e dos
salários baixos para manter uma atividade centrada no “complexo
turístico-imobiliário”.
(…)
Para o
futuro, isto é a ilusão do dinheiro fácil a esconder a degradação da economia
portuguesa.
(…)
É a
ideia para Portugal que é partilhada por liberais e pelo Governo atual.
(…)
Resultou.
A taxa de crescimento do turismo no Valor Acrescentado Bruto foi duas vezes a
da média nacional.
(…)
O
impacto é a subida dos preços da habitação.
(…)
No
turismo, o trabalho é mais jovem, mais feminino, mais precário e menos
qualificado do que a média nacional.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O dia
24 de fevereiro fez-nos entrar pela realidade adentro de uma agressão cimentada
em narrativas falsas e forçadas por parte das autoridades russas.
(…)
Mas nada justifica uma agressão gratuita a civis.
(…)
Nada justifica ataques a maternidades com mulheres e
recém-nascidos.
(…)
Cada
dia que passa, um a mais. Mais um em que a urgência da paz é maior, mas onde
parece crescer o esquecimento dessa urgência.
(…)
Iniciada
há 12 meses, a agressão russa à Ucrânia continua a transgredir o direito
internacional humanitário até aos dias de hoje.
(…)
As imagens que nos chegaram da guerra permanecerão na nossa
memória coletiva.
(…)
O
bombardeamento do Teatro de Mariupol, apesar de a palavra Дети (crianças) estar
escrita nas laterais do edifício e visível para os atacantes.
(…)
O decorrer do último ano mostrou-nos a falta de vontade da
Rússia em terminar o conflito.
(…)
Num
país onde as pessoas com mais de 60 anos constituem quase um quarto da
população, os idosos têm sentido dificuldades acrescidas.
(…)
A falta de condições das habitações multiplica-se por toda a
Ucrânia. O frio passou a ser constante.
(…)
As falhas de energia (…) dificultam o acesso das
crianças à educação.
(…)
Nesta
destruição, o agressor justifica-se para roubar crianças que diz que está a
salvar e a reeducar, a nacionalizar e a dar para adoção a famílias russas,
retirando-as das suas na Ucrânia.
(…)
Não
estou a dizer que dotar a Ucrânia de meios para se defender não é correto. Bem
pelo contrário: é correto. Mas não podemos só falar disso.
(…)
A narrativa tem de incluir a paz. Os processos de paz, as
negociações de paz, a paz, insistentemente a paz.
(…)
É por todos os civis ucranianos que merecem um país
reconstruído, sarado e em paz. É urgente a paz.
Pedro A. Neto (AI), “Público” (sem link)
A emoção liga-se à demagogia e veste um fato à medida do desastre quando
serve os interesses mais irracionais e populistas.
(…)
É caso para dizer que há um PSD que
concretiza a deontologia em lições e um PSD sem inteligência emocional para
silenciar os dislates.
(…)
Perante as condições em que vemos
imigrantes a viver em Portugal, sub-humanas, escravizantes ou que configuram
tráfico humano, admitir que se escolham nacionalidades na fronteira em razão do
sangue ou do nível de adaptabilidade "darwiniana" é francamente
perigoso.
(…)
As declarações de ambos [Montenegro e
Moedas] são pontos de vizinhança conjunta ao sistema e, como referiu o líder da
extrema-direita, uma "aproximação de posições".
(…)
Olhemos para o que refere Marcelo Rebelo
de Sousa como pontuação moral em dose dupla: a "cópia perde sempre para o
original" cola Montenegro a Ventura e Moedas às
certezas-inabaláveis-que-nunca-se-enganam de Aníbal Cavaco Silva.
Miguel Guedes, JN
As últimas semanas têm sido pródigas em discussões sobre
pobreza, modos de vida, sobrevivência e contestação.
(…)
Do que
sabemos, o mundo ficou sempre mais desigual a seguir a cada uma dessas crises e
consequentes medidas de austeridade.
(…)
Quase metade da população vive num certo limiar de
fragilidade e, desenganem-se os populistas, ninguém gosta de estar nesse limbo.
(…)
Neste
panorama, a subida generalizada dos preços, foi o sismo que faltava para pôr em
causa o frágil contrato social da sociedade portuguesa.
(…)
Vinte por cento dos indivíduos mais pobres têm uma despesa
superior ao rendimento.
(…)
Os produtos alimentares têm um peso de 19,2% na despesa das
famílias mais pobres e de 11% nas mais ricas.
(…)
Quanto às rendas, o peso no orçamento das famílias mais
pobres é 6,9 vezes superior ao das famílias ricas.
(…)
Claramente, o perfil de despesa das famílias mais pobres
centra-se nos consumos essenciais.
(…)
O que
essas famílias não vivem, mas veem são os lucros recorde das empresas de
energia, dos bancos, retalho, e até o Estado tem superavit.
(…)
Ou seja, há um testemunho colectivo de que a riqueza existe,
está é mal distribuída.
(…)
Segundo a OCDE, num estudo de 2019, em Portugal são precisos
125 anos para uma família sair da pobreza.
(…)
Quem
está na base da pirâmide económica do país tem laços afectivos e redes de
solidariedade desconhecidas do grande público, mas completamente orgânicas para
os seus constituintes.
(…)
Por
isso devemos ter renovada esperança quando surgem movimentos de base como o Vida
Justa, disponíveis para vir a público – como no próximo dia 25 de
Fevereiro.
(…)
Não estamos habituados que a base da pirâmide venha a
público, num país onde até a representação social é um privilégio.
Esperemos que isso mude em breve.
António Brito Guterres, “Público” (sem link)