quarta-feira, 1 de maio de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (101)

 
Não esperava que [o desfile do 25de abril] fosse, provavelmente, a maior manifestação desde o 1º de maio de 1974.

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A razão da enchente impressionante parece-me óbvia: 50 anos depois, os inimigos mais frontais do 25 de abril elegeram 50 deputados. 

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O desconforto de parte da direita democrática com a data, por nela ter tido um papel secundário (…), não é uma novidade.

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Primeiro tentaram vender a ideia da “evolução”, diminuindo o papel fundador de abril.

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Como não resultou, tenta-se equiparar o 25 de novembro, a travagem de um processo que se estava a descontrolar, ao 25 de abril.

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Com o aparecimento do Chega, o saudosismo perdeu a vergonha. A extrema-direita cresceu muito e é possível que vá crescer mais.

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O susto é tal que tendemos a ignorar que nós, os que amam abril, somos a larga maioria do país. 

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Como se viu na quinta-feira, a memória da mais bela revolução do século XX é uma arma poderosa contra isso.

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[A força simbólica de abril também está associada] à descolonização e a um conjunto impressionante de conquistas sociais.

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Somos uma democracia mais sólida do que a espanhola. Com menos traços autoritários. (…) É por causa da revolução e da força popular de abril.

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[O facto de o 25 de abril ter sido um golpe de baixa patente] ajudou a que fosse tomado pelo povo ao fim de poucos dias, transformando-se numa revolução.

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[“25 de abril sempre”] é o apelo que nos fará sair à rua sempre que a minoria do ódio mostrar os dentes.

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Mas, mesmo em comparação com tantas democracias na Europa, a nossa tem uma força especial: não nos foi oferecida.

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[A democracia foi conquistada] por militares vindos do povo e por um povo que não queria apenas o voto e a palavra, queria a paz e a dignidade, sair da guerra e sair do bairro de lata.

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Na última quinta-feira, mostrámos que somos uma ruidosa maioria que não ficará calada perante a fanfarronice saudosista.

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Não será fácil murchar este cravo.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)

 

1 de Maio de 1886. Nesse sábado e nos dias seguintes, em Chicago, nos Estados Unidos da América, dezenas de pessoas foram feridas e mortas pela polícia.

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[Massacrados por reclamarem] a limitação do horário de trabalho a oito horas diárias e 48 horas semanais.

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Então, há 138 anos, o trabalhador (ainda) não tinha dia. Era um trabalhador “sem dia”.

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Morreram a lutar pela vida, por uma míngua de descanso pessoal e de disponibilidade para a família, por porem cobro a jornadas de trabalho que podiam ir até às 10, 12 e mesmo 16 horas de trabalho por dia.

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Salários miseráveis, trabalhos penosos e insalubres, condições de segurança e saúde no trabalho e horários de trabalho desumanos, trabalho infantil [que a História regista no contexto da Revolução Industrial onde preponderava o ultraliberalismo económico]

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O Dia do Trabalhador passou a ser assinalado em Portugal em 1890 e, suspensa e reprimida pela ditadura durante 48 anos, a sua manifestação livre só se verificou pela primeira vez no 1.º de Maio de 1974.

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Até ao 25 de Abril de 1974, [o trabalhador] podia, a qualquer momento e sem explicação ou causa (justa ou injusta), ir para “o olho da rua” (ou até preso, se reclamasse muito).

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Nesse 1.º de Maio como Dia do Trabalhador de há meio século, ainda que não tendo passado pela prévia violência e morte de há 138 anos, o trabalhador acreditou com convicção no direito ao exercício de um trabalho seguro.

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[A 1 de maio de 2024, ao trabalhador português] aflige e revolta a dúvida de se tal dia significa (ainda) o Dia do Trabalhador, naquele seu sentido social, de identidade colectiva no e pelo trabalho.

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Uma vida que pela precariedade do que lhe é sempre central como suporte e condicionante – o trabalho – se torna também cada vez mais permanentemente precária em tudo o que dia a dia a consubstancia.

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O significado das expectativas deste dia de há 50 anos retrocedeu em não poucos domínios das condições de trabalho [como, por exemplo, a sobre-intensificação do trabalho].

João Fraga de Oliveira, “Público” (sem link)

 

As reparações pelos crimes do colonialismo português surgiram inesperadamente na ordem do dia, pela mão de um ator ainda mais inesperado [Marcelo Rebelo de Sousa].

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As narrativas que Ventura, Núncio e tantos outros propagam – de que Portugal “trouxe a civilização” aos territórios colonizados – ignoram as inúmeras formas de organização social e política dos povos africanos que viviam nestas terras.

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Um país que se debruça sobre o seu passado precisa de repensar e desconstruir os mitos imperiais, repetidos como verdades incontestáveis, e nos quais ainda assentam vários elementos da identidade nacional portuguesa.

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[O argumento] que reduz a história do colonialismo a uma amálgama de “coisas boas e más” do passado que nada nos dizem respeito, é a quantidade de pessoas vivas que sofreram às mãos do aparelho colonial português.

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O passado não é um artefacto perdido em tempos memoriais nos quais alguns escolhem mexer, mas, pelo contrário, forma uma estrutura de poder densa na qual todos estamos imersos.

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Debater as reparações não significa remexer num passado longínquo e inócuo, como alguns o pretendem pintar, mas sobre como essa história dá forma ao nosso presente.

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Porque não avançar, agora, com uma Comissão da Verdade do Colonialismo Português (…) ?

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Assistimos a processos semelhantes na Bélgica, Holanda, Alemanha e França.

Leonor Rosas e João Moreira da Silva, “Público” (sem link)


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