(…)
Neste momento, é isso que está em causa: transparência.
(…)
O cancelamento do relatório do Centro
Carter e a retirada do seu pessoal do país não augura nada de bom.
(…)
Seria um fenómeno
político que um presidente com os resultados económicos de Nicolas Maduro
conseguisse uma maioria absoluta de votos.
(…)
Todo o comportamento do
governo (…) torna muitíssimo plausível a tese da fraude eleitoral.
(…)
[Antes de Chavez, a
Venezuela era] uma cleptocracia em que quase toda a riqueza ficava nas mãos de
uma pequena minoria de privilegiados.
(…)
[Hugo Chávez] chegou ao
poder pelo voto e pelo voto lá permaneceu muito tempo, com forte apoio das
camadas mais pobres do país.
(…)
Os resultados iniciais
foram positivos.
(…)
[O movimento que levou
Chávez ao poder ] veio da elite militar.
(…)
Todo o seu perfil era o
de um caudilho. Como é tradição latino-americana, aliás.
(…)
Na fase inicial, o
chavismo conseguiu redistribuir riqueza num país fortemente desigual. Por isso
ganhou eleições. Hoje, distribui pobreza.
(…)
[Substituiu] uma elite
económica corrupta por uma nova burguesia “bolivariana” igualmente corrupta.
(…)
Não conseguiu mudar
estrutura económica do país, deixando-o no mesmo lugar para o futuro.
(…)
A questão geral que se
levanta é se, num país fortemente desigual e onde vigora o extrativismo
colonial, é possível fazer mudanças por via daquilo a que chamamos democracia
liberal.
(…)
Lula mostrou que é
possível fazer diferente sem pôr em causa as regras democráticas.
(…)
Lula percebeu que se
saísse das baias democráticas, mesmo quando o sistema as ignorou, estaria
perdido.
(…)
Só dentro dessas baias
[democráticas] se liberta um povo da tirania da miséria e da desigualdade.
(…)
Quando se esmaga a
democracia também se esmaga a luta pela igualdade.
(…)
A democracia social é
uma mentira quando se tira ao povo o direito a determinar o seu futuro.
(…)
Dirão que Lula não
mudou o sistema económico do Brasil. Nem Chavez ou Maduro o fizeram, na
Venezuela.
(…)
Era evidente que quando
o petróleo deixasse de pagar o bolivarianismo o regime e a sua nova elite se
agarrariam ao poder e aos privilégios.
(…)
A Venezuela não é uma
ditadura pura.
(…)
[Mas] é nisso mesmo que
se está a transformar, às mãos de Maduro.
(…)
Ao viciar estas
eleições, o ainda presidente da Venezuela pôs fim à soberania popular.
(…)
Parece ser dos mais
pobres que vem o maior desespero.
(…)
Logo em 2002, a
oposição supostamente democrática tentou um golpe contra o presidente
legitimamente eleito.
(…)
Como explicou o senador
democrata Chris Murphy, “tentámos construir um golpe na Venezuela em abril de
2019 e ele explodiu-nos na cara”.
(…)
É verdade que a
oposição quase nunca reconheceu resultados eleitorais, mesmo quando perdeu
realmente.
(…)
O confronto, na Venezuela é (…) entre alternativas
económicas e dependências externas que estão contra ou a favor da democracia
conforme precisem ou não dela.
(…)
O desespero, em vários destes países latino-americanos, é ser
muito difícil encontrar quem acredite na democracia quando o lado oposto
promete uma forte mudança social e económica.
(…)
O que está em causa é a vontade de mudança manifestada pelo
povo soberano.
(…)
Em nome do povo, só fala o povo.
(…)
E o povo parece ter escolhido (…) derrubar um governo que lhe
oferece pobreza.
(…)
[Os mais pobres] sentem a violência da crise económica dos
últimos dez anos.
(…)
[Maduro] pode ser mais ou menos violento, mas o fim está à
vista.
(…)
O presidente brasileiro pediu para Maduro dar acesso às atas
eleitorais.
(…)
O que está em causa, nestas eleições, é, antes de tudo, o
respeito pelo voto popular, em relação ao qual não pode haver adversativas.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem
link)
Não chega ser-se pobre, tem de se parecer mesmo pobre.
(…)
Se se detetar o mínimo "luxo", acaba-se todo o
reconhecimento das dificuldades alheias.
(…)
E cola-se um ano ao outro, sem que [se] espaireça, sem que
conheça outros locais, outras pessoas.
(…)
O
motivo pelo qual, tantos e tantas trabalham para poderem viajar tem exatamente
a ver com o facto de funcionar como terapia, limpeza da alma.
(…)
As
sondagens mais recentes indicam-nos que os portugueses estão a viajar e cada
vez mais, mas como toda a estatística, os números podem falar por si, mas
escondem outras realidades.
(…)
A realidade de quem, mesmo trabalhando, não tem dinheiro para
usufruir de umas merecidas férias, longe do quotidiano.
(…)
Quando
temos tudo, quando herdamos património ou poupanças, acusamos os outros de não
serem empreendedores o suficiente, de não serem audazes, de não serem inteligentes
para criarem riqueza.
(…)
Quem nunca passou por "apertos" (…), não sabe o que
é viver no fio da navalha.
(…)
O
português faz contas de cabeça até para pagar um gelado com mais de duas bolas
aos filhos. E isso não são férias.
Liliana Carona, “Público” (sem link)