(…)
Muito menos ficar descansada face às imensas
insuficiências observadas
(…)
O Governo, na ânsia de favorecer a sua imagem,
fez pouco do que devia, dedicando-se à gestão da comunicação (a maior parte
fora do tempo e com alguns disparates) apresentando Montenegro como governante
salvador.
(…)
A otimização do lucro ignora o princípio da
precaução.
(…)
O lucro como objetivo supremo reclama
integração e internacionalização das atividades em “redes” cada vez maiores,
mas aumenta os riscos.
(…)
A rede portuguesa está dependente de Espanha
sem poder observar o que lá se passa, mas tem de assegurar o fornecimento de
energia aos portugueses.
(…)
Há investimentos para a garantia de
fornecimento de energia à população que, pela sua dimensão e delicadeza, só os
estados estão em condições de os fazer.
(…)
A presença do Estado na propriedade, na
produção, distribuição e definição das condições de consumo, bem como na
garantia do funcionamento de instrumentos de avaliação e controlo permanente, é
imprescindível.
O
Governo húngaro tornou-se um dos principais financiadores da extrema-direita europeia e um dos grandes
difusores das ideias reaccionárias a nível do continente.
(…)
O
resultado das eleições canadianas de segunda-feira deve ter nublado os céus de
Budapeste – e de algumas outras capitais europeias, onde o dinheiro de Orbán
chega.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A relação
entre os ricos e o poder vem de tempos imemoriais como explica Guido
Alfani, professor de História Económica na Universidade Bocconi, em Milão.
(…)
Perante
o aumento profundo das desigualdades, desconfiados dos políticos e agastados
com a incapacidade dos partidos para resolver no curto prazo os problemas
profundos que afectam as democracias ocidentais, os eleitores deixam-se atrair
pelas propostas dos ricos.
(…)
Sejam
políticos de extrema-direita dispostos a dar a cara pelos projectos de
financiadores que antes ficavam nas sombras e agora aparecem à luz do dia.
(…)
Estamos
a assistir a “uma nova versão do neoliberalismo que segue o caminho do
thatcherismo e do reaganismo, mas que claramente tirou a máscara em relação a alguns
componentes progressistas.
(…)
Nesta versão, a democracia tornou-se “um
entrave”, um “sistema falhado” que é preciso desmantelar.
António Rodrigues, “Público”
(sem link)
[Montenegro] ao ser primeiro-ministro, faz das
suas más práticas um caso nacional com sérios prejuízos.
(…)
[Os] “centros
de influência” significam muitas vezes que uma rede não escrutinada tem acesso
directo e privilegiado ao poder político, seja a nível local ou nacional.
(…)
A
Spinumviva é, a nível local, um desses “centros de influência”, e a sua
clientela não foi ao escritório de advogados (…) [senão] pelo facto de ser a “empresa” de Luís
Montenegro.
(…)
A
“influência” que gere é a de Montenegro, antes e depois de ele lá estar
formalmente, como pessoa com os contactos certos no partido, na autarquia, no
PSD local e nacional.
(…)
Não é
necessariamente pela qualidade do seu trabalho, mas pelos seus contactos
próximos do Governo, a administração fiscal, autarquias poderosas, etc., que
são “grandes escritórios” e continuam a sê-lo.
(…)
Já
escrevi que quem manda muito em Portugal não são muitas vezes os detentores de
cargos formais, ministros, deputados, autarcas, mas esse círculo que actua nos
gabinetes, que exerce o poder de escolha para cargos relevantes ou, ainda
melhor, tem o poder de veto.
(…)
Os clientes da Spinumviva estão a fugir da
empresa, porque o que era ontem uma vantagem hoje é um prejuízo.
(…)
A censura por más práticas graves não implica
que essas práticas sejam ilegais.
(…)
O
primeiro erro [de Montenegro] é não ter fornecido a informação devida, e ainda
o não ter feito ao dia de hoje, sobre os clientes da sua empresa familiar, para
poder haver um julgamento sobre eventuais conflitos de interesse.
(…)
O segundo erro deriva do primeiro, é não ter
dissolvido a sua empresa logo que se tornou primeiro-ministro.
(…)
Ao não
o fazer, torna-se impossível dissociar a empresa da força que lhe trouxe
clientes de vulto e facturação: Luís Montenegro.
(…)
O
terceiro erro tem que ver com o facto de Montenegro, pela condução do processo
e pela falta de esclarecimentos, ter transformado este caso numa crise nacional,
levando à queda do Governo e a novas eleições.
Pacheco Pereia, “Público” (sem link)
O que quero evidenciar é que apagão revelou, de
forma quase brutal, a arquitetura invisível da nossa vida coletiva.
(…)
Falhou tudo o que, sem darmos por isso,
sustenta a normalidade.
(…)
As pessoas foram deixadas entregues a si
mesmas, num vazio comunicacional que gerou confusão, medo e reações
instintivas. .
(…)
Como se, para além da falha de energia, se
tivesse revelado também uma falha política, moral e social.
(…)
Só reagimos quando a disrupção atinge níveis
irrecuperáveis. É assim em relação ao apagão ou às alterações climáticas.
(…)
E é assim com a deterioração lenta, mas
contínua, dos serviços públicos a que assistimos na saúde, na educação, etc.
(…)
O setor privado, por sua vez, persegue lucros
imediatos, deixando o interesse coletivo em segundo plano. E tem na sua mão os
sectores vitais da nossa vida.
(…)
Mas o que o apagão revelou, à semelhança da
pandemia, é a fragilidade total de um modo de vida que construímos assente
sobre uma promessa de conforto.
(…)
Vendemos o nosso tempo ao sistema.
(…)
Quanto mais queremos consumir e pertencer, mais
temos de trabalhar. E quanto mais trabalhamos, menos tempo temos para viver a
vida.
(…)
Tudo para poder continuar a existir dentro de
um sistema que nos diz que só somos felizes se formos produtivos, eficientes e,
sobretudo, consumidores ativos.
(…)
De repente, não havia consumo, nem distração,
nem produção. Só o tempo.
(…)
O problema é que o modelo em que vivemos não
nos permite parar.
(…)
Quantos apagões mais serão precisos até
decidirmos mudar de sistema, e não apenas de fornecedor?
Fátima Alves, “diário as beiras”
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