sábado, 3 de maio de 2025

MAIS CITAÇÕES (331)

 
[Sobre o apagão] existe muito por esclarecer. Só uma sociedade acrítica pode aceitar que a situação de complexa crise, vivida durante mais de meio dia, foi bem gerida.

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Muito menos ficar descansada face às imensas insuficiências observadas

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O Governo, na ânsia de favorecer a sua imagem, fez pouco do que devia, dedicando-se à gestão da comunicação (a maior parte fora do tempo e com alguns disparates) apresentando Montenegro como governante salvador.

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A otimização do lucro ignora o princípio da precaução.

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O lucro como objetivo supremo reclama integração e internacionalização das atividades em “redes” cada vez maiores, mas aumenta os riscos.

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A rede portuguesa está dependente de Espanha sem poder observar o que lá se passa, mas tem de assegurar o fornecimento de energia aos portugueses.

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Há investimentos para a garantia de fornecimento de energia à população que, pela sua dimensão e delicadeza, só os estados estão em condições de os fazer.

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A presença do Estado na propriedade, na produção, distribuição e definição das condições de consumo, bem como na garantia do funcionamento de instrumentos de avaliação e controlo permanente, é imprescindível.

Carvalho da Silva, JN

 

O Governo húngaro tornou-se um dos principais financiadores da extrema-direita europeia e um dos grandes difusores das ideias reaccionárias a nível do continente.

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O resultado das eleições canadianas de segunda-feira deve ter nublado os céus de Budapeste – e de algumas outras capitais europeias, onde o dinheiro de Orbán chega.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

A relação entre os ricos e o poder vem de tempos imemoriais como explica Guido Alfani, professor de História Económica na Universidade Bocconi, em Milão.

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Perante o aumento profundo das desigualdades, desconfiados dos políticos e agastados com a incapacidade dos partidos para resolver no curto prazo os problemas profundos que afectam as democracias ocidentais, os eleitores deixam-se atrair pelas propostas dos ricos.

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Sejam políticos de extrema-direita dispostos a dar a cara pelos projectos de financiadores que antes ficavam nas sombras e agora aparecem à luz do dia.

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Estamos a assistir a “uma nova versão do neoliberalismo que segue o caminho do thatcherismo e do reaganismo, mas que claramente tirou a máscara em relação a alguns componentes progressistas.

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Nesta versão, a democracia tornou-se “um entrave”, um “sistema falhado” que é preciso desmantelar.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

[Montenegro] ao ser primeiro-ministro, faz das suas más práticas um caso nacional com sérios prejuízos.

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[Os] “centros de influência” significam muitas vezes que uma rede não escrutinada tem acesso directo e privilegiado ao poder político, seja a nível local ou nacional.

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A Spinumviva é, a nível local, um desses “centros de influência”, e a sua clientela não foi ao escritório de advogados (…) [senão] pelo facto de ser a “empresa” de Luís Montenegro.

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A “influência” que gere é a de Montenegro, antes e depois de ele lá estar formalmente, como pessoa com os contactos certos no partido, na autarquia, no PSD local e nacional.

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Não é necessariamente pela qualidade do seu trabalho, mas pelos seus contactos próximos do Governo, a administração fiscal, autarquias poderosas, etc., que são “grandes escritórios” e continuam a sê-lo.

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Já escrevi que quem manda muito em Portugal não são muitas vezes os detentores de cargos formais, ministros, deputados, autarcas, mas esse círculo que actua nos gabinetes, que exerce o poder de escolha para cargos relevantes ou, ainda melhor, tem o poder de veto.

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Os clientes da Spinumviva estão a fugir da empresa, porque o que era ontem uma vantagem hoje é um prejuízo.

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A censura por más práticas graves não implica que essas práticas sejam ilegais.

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O primeiro erro [de Montenegro] é não ter fornecido a informação devida, e ainda o não ter feito ao dia de hoje, sobre os clientes da sua empresa familiar, para poder haver um julgamento sobre eventuais conflitos de interesse.

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O segundo erro deriva do primeiro, é não ter dissolvido a sua empresa logo que se tornou primeiro-ministro.

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Ao não o fazer, torna-se impossível dissociar a empresa da força que lhe trouxe clientes de vulto e facturação: Luís Montenegro.

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O terceiro erro tem que ver com o facto de Montenegro, pela condução do processo e pela falta de esclarecimentos, ter transformado este caso numa crise nacional, levando à queda do Governo e a novas eleições.

Pacheco Pereia, “Público” (sem link)

 

O que quero evidenciar é que apagão revelou, de forma quase brutal, a arquitetura invisível da nossa vida coletiva.

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Falhou tudo o que, sem darmos por isso, sustenta a normalidade.

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As pessoas foram deixadas entregues a si mesmas, num vazio comunicacional que gerou confusão, medo e reações instintivas. .

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Como se, para além da falha de energia, se tivesse revelado também uma falha política, moral e social.

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Só reagimos quando a disrupção atinge níveis irrecuperáveis. É assim em relação ao apagão ou às alterações climáticas. 

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E é assim com a deterioração lenta, mas contínua, dos serviços públicos a que assistimos na saúde, na educação, etc.

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O setor privado, por sua vez, persegue lucros imediatos, deixando o interesse coletivo em segundo plano. E tem na sua mão os sectores vitais da nossa vida.

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Mas o que o apagão revelou, à semelhança da pandemia, é a fragilidade total de um modo de vida que construímos assente sobre uma promessa de conforto.

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Vendemos o nosso tempo ao sistema.

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Quanto mais queremos consumir e pertencer, mais temos de trabalhar. E quanto mais trabalhamos, menos tempo temos para viver a vida.

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Tudo para poder continuar a existir dentro de um sistema que nos diz que só somos felizes se formos produtivos, eficientes e, sobretudo, consumidores ativos.

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De repente, não havia consumo, nem distração, nem produção. Só o tempo. 

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O problema é que o modelo em que vivemos não nos permite parar. 

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Quantos apagões mais serão precisos até decidirmos mudar de sistema, e não apenas de fornecedor?

Fátima Alves, “diário as beiras”


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