(…)
É possível estancar a perda de influência social e encetar
recuperação.
(…)
A Esquerda é bem plural, mas dialoga pouco, e pesa bastante a
parte que opta pela cedência à Direita.
(…)
É necessário que a Esquerda interprete a nova era em que
estamos.
(…)
Na última década do século passado era claro que as
instituições e poderes que nos trouxeram até aqui estavam esgotados.
(…)
Os problemas que levam as pessoas a sentirem-se desprotegidas
têm um somatório de causas e impactos.
(…)
Os problemas com a habitação, a imigração, o SNS, a Escola
Pública carecem de interpretações sociológicas e políticas.
(…)
O Governo da “geringonça” teve grande apoio nos planos social
e económico, desde a sua formação até 2019, e mesmo depois.
(…)
O problema foi que o “programa comum” era minimalista e
António Costa e o PS foram possuídos pela soberba política.
(…)
Só a ação convergente para uma política social transformadora
e boas relações evitarão o desastre.
(…)
[É nas eleições autárquicas] que se podem mais facilmente
identificar oportunistas e forjar aproximações sem perda de identidades
específicas.
Quando vim trabalhar com ecólogos e biólogos, cientistas
ambientais, trouxe comigo não apenas os instrumentos da sociologia, mas
sobretudo a vontade de interrogar a aparente separação entre o social e o
natural, tão sedimentada na tradição científica moderna.
(…)
Estávamos preocupados em mostrar a importância das dimensões
sociais e culturais nos processos ecológicos e em mostrar que os fenómenos
ecológicos são, também eles, socialmente produzidos, mediados por formas de
ocupação, uso, perceção e simbolização dos territórios.
(…)
Mas faltava ir mais longe e aprofundar as estruturas de poder
e as formas de desigualdade que moldam as configurações ecológicas do mundo em
que vivemos.
(…)
[De qualquer modo], é preciso desmontar os próprios
modos de produção do conhecimento que naturalizam as desigualdades,
invisibilizam os conflitos e silenciam os sujeitos não humanos.
(…)
Cada vez mais jovens cientistas sociais reconhecem a urgência
de pensar o mundo para além das dicotomias sujeito/objeto, humano/não humano.
(…)
Sentem que faz sentido reconhecer a agência das águas, das
florestas, dos animais, das pedras.
(…)
[Há que] reconhecer que habitamos mundos partilhados, e
que esses mundos exigem novas formas de conhecimento, mais humildes, mais
relacionais, mais implicadas e comprometidas com o todo.
Fátima Alves, “diário as beiras”
Eu não preciso de achar piada à Joana Marques, para defender
que ela tem todo o direito de fazer o humor que entender.
(…)
Quem não gostar, não vê, que é o que eu faço, mas não precisa
– nem pode – tentar calá-la.
(…)
A grande dificuldade em aceitar que o humor tem limites é
definir quais são esses limites.
(…)
Porque é que a minha sensibilidade é mais válida do que a de
quem acha piada ao que eu acho lamentável?
(…)
[Aconteceu no Brasil um humorista ser condenado] a mais de
oito anos de prisão por um conjunto de piadas infelizes é negar o que de melhor
o humor nos dá: um espaço de absoluta liberdade, evasão e criatividade.
(…)
No dia em que os humoristas começarem a ter medo de ser
processados – ou, pior, presos – o humor acaba, porque ele é fruto da
Liberdade. E amar a Liberdade é amá-la sempre, mesmo – e especialmente – quando
ela é desconfortável.
(…)
O humor tem que ser democrático, senão não existe. E na
Democracia, já sabemos, cabem todos. É isso que a define.
(…)
Eu não gosto da música dos Anjos, mas defenderei sempre o
direito que eles têm a fazer a música que entendem e o direito que, quem gosta,
tem a ouvi-la.
(…)
Também não gosto particularmente do humor da Joana Marques,
mas espero que ela tenha sempre todo o espaço para o fazer.
(…)
Do que eu gosto mesmo é da Liberdade, que dá a cada um o
direito de se expressar livremente.
(…)
E o que eu espero é que a Liberdade seja um fato que, mesmo
quando desconfortável, serve a todos por igual.
(…)
O
humor pode ser à vontade do freguês, mas a Liberdade não.
Martha Mendes, “diário as beiras”
Posso dizer que não me recordo de viver uma época pautada por
uma situação política global tão caótica e de difícil decifração quanto a que
agora nos cabe.
(…)
Prova disto é a visível incapacidade dos analistas políticos,
mesmo dos mais bem preparados, para interpretar os acontecimentos em curso e
lhes antecipar consequências.
(…)
A principal razão pela qual se torna agora particularmente
difícil analisar escolhas e prever saídas no domínio da política global,
prende-se com quatro fatores: o esvaziamento das grandes ideologias, o
menosprezo pelo papel da ética, a banalização das escolhas erráticas e o
excesso de informação.
(…)
A perda dos faróis da ideologia trouxe consigo um
esvaziamento de horizontes, abrindo espaço a uma afirmação limitada ao curto
prazo de objetivos e de valores.
(…)
O triunfo do individualismo e do conceito de «sucesso»,
articulados com a expansão do neoliberalismo, tornaram obsoleta a ideia de que
ela deve fundar-se, como desejou Camus, «em comportamentos que a legitimam ou
contrariam».
(…)
O cidadão comum espera agora tudo e o seu contrário.
(…)
Já o quarto fator, que amplia os demais, traduz-se na
reprodução excessiva, acrítica e não hierarquizada de informação, tendente a
disseminar por todo o lado a dúvida, o engano, a incerteza e a instabilidade.
(…)
Nestas condições, todo o juízo crítico do analista político,
que não é um adivinho, se torna arriscado, com forte tendência para se
concentrar nas meras hipóteses e para se tornar falível cinco minutos depois.
Rui Bebiano, “diário as beiras”
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