(…)
[Imagine-se
que a Indonésia] projetava a construção de um grande estádio de futebol em
Dili, anunciando que ali se realizaria um dos jogos desse mundial.
(…)
Que reação a esse plano lhes exigiria a sociedade portuguesa
[caso Costa fosse PM e Marcelo PR]?
(…)
[Que] repudiassem
firmemente, em nome de um país que então se mobilizava totalmente contra a
ocupação de Timor, uma tal manobra de branqueamento futebolístico da violação
mais grosseira do direito internacional.
(…)
Que ambos dessem voz a nada menos que a autodeterminação
daquele povo irmão.
(…)
[Tudo isto é ficção] porque, menos de um quarto de
século depois desse imaginado 1998, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa
tecem hinos e louvores à organização – essa sim, verdadeira – de um campeonato
do mundo de futebol que envolve um Estado (Marrocos) que ocupa ilegalmente o
território do Sara Ocidental, no qual anuncia que vai construir um grande
estádio para a realização de um dos jogos da competição.
(…)
É
enquanto cidadãos de uma democracia que inteligentemente vê no direito
internacional uma salvaguarda contra os grandes poderes fácticos deste mundo
que temos obrigação de não seguir Marcelo e Costa na sua desmemória tão
conveniente.
(…)
O
Mundial que vem aí (…) é um vexame para o país que se irmanou com a resistência
timorense contra uma ocupação que os “realistas” de então (e eram tantos…)
ditavam que devíamos deixar seguir.
(…)
E é
uma vergonha para quem apregoa, dia sim, dia sim, que não podemos ceder um
milímetro aos ocupantes ilegais de territórios de outros povos.
José Manuel Pureza, “Público” (sem link)
É-me
evidente a desproporção entre a indignação com os protestos e a motivação dos
protestos [relativamente à ação das ativistas que atiraram tinta verde ao ministro
do Ambiente).
(…)
Tirando
o recurso ao TEDH [Tribunal Europeu dos Direitos do Homem], qualquer
radicalidade subversiva — sem a qual as sociedades definham — para assinalar o
tema mais dramático que a Humanidade já enfrentou é vista como ilegítima.
(…)
O
movimento pela justiça climática mobiliza milhões de jovens por um bem comum.
(…)
Pertencendo
a uma geração que nada fez e tinha toda a informação necessária, custa-me não
estar incondicionalmente do seu lado.
(…)
[Onde
há quem peça ponderação] eu exaspero com a dormência.
(…)
A ansiedade,
que resulta dessa lucidez [de que se vêm os sinais], apenas é mais provável em
quem tem mais futuro pela frente. Sobretudo quando percebem que a
pressão não está a resultar.
(…)
Oito
anos depois dos Acordos de Paris, nenhum país está a cumprir as metas para
limitar o aumento de temperatura a 1,5 graus.
(…)
E o
Governo britânico até decidiu adiar cinco anos a proibição da venda de carros a
combustão e das caldeiras a gás.
(…)
Como
disse o Papa Francisco, estas supostas radicais apenas “preenchem um vazio da
sociedade inteira”.
(…)
A
democracia não trata da mesma forma a radicalidade que quer esmagar direitos e
a que os quer ampliar.
(…)
Mas
porque, mais do que os fins não justificarem os meios, sei que os meios fazem
os fins.
(…)
Só que
há uma radicalidade intrínseca à emergência climática só comparável ao risco de
uma guerra nuclear.
(…)
Não é
fácil manter uma posição de princípio sem vacilar quando a causa é a
sobrevivência da Humanidade.
(…)
Nunca
lidámos com nada destas dimensões, pelo menos se levarmos a sério o que dizem
os cientistas.
(…)
A
minha reação a estas ações é de vigilância perante os excessos, mas com a noção
do que está em jogo.
(…)
Os que
acreditam no que Guterres tem dito sabem que a quem sobreviver parecerá
ridícula a nossa indignação com os protestos perante a dimensão trágica do que
eles tentam sinalizar.
(…)
Sempre
achei megalómana a convicção de que se está do lado certo da história, como se
soubéssemos como ela vai acabar. Só que, neste caso, até sabemos.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
E nem
a lagoa dos Salgados [no Algarve], para onde estava prevista e aprovada uma
reserva natural, se safa de mais um projeto imobiliário, que, por atrasos
oficiais inexplicáveis, está em vias de ir para a frente.
(…)
Portugal
tem uma vulnerabilidade costeira significativa, dada a sua exposição ao sistema
Atlântico Norte e a fragilidade das suas arribas e faixas arenosas. E, mesmo
assim, ainda se autorizam novos empreendimentos aí?
(…)
Como é
que se vai dar uma licença de habitação a estas casas?
(…)
Depois
da aprovação, ficamos todos corresponsáveis pelos danos e prejuízos causados
pelos temporais.
(…)
Quem
vai arcar com as responsabilidades que decorrem destas e de outras
brutalizações da natureza e do direito será o Estado.
(…)
Com a
atual legislação, seremos todos nós que vamos pagar os custos dos estragos que
estes empreendimentos sofrerem e provocarem.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
Será que os problemas com que o Governo se depara para
responder aos anseios e necessidades dos portugueses resultam de uma aceleração
imprevista da realidade, ou é o Governo que, em muitos casos, opta por
“avançar” começando por meter a marcha-atrás?
(…)
António Costa é um político experimentado, conhece a coisa
pública e os contextos internos e externos e é primeiro-ministro há oito anos.
(…)
O PM tem hoje uma leitura trapalhona, insuportável, sobre a
Escola.
(…)
Persiste, contra tudo, em não resolver o problema da contagem
do tempo.
(…)
Como autarca de Lisboa sabia que a Lei das Rendas Assunção
Cristas era desastrosa, que era urgente reabilitar espaços das grandes cidades,
que se aceleravam os problemas de acesso à habitação para os jovens.
(…)
Na saúde, as políticas do Governo - excetuando o período da
pandemia (…) - têm sido desastrosas.
(…)
Propositadamente, confunde o investimento do OE em Saúde (…)
com o investimento no SNS.
(…)
Entra no jogo da Direita que apresenta alterações na política
fiscal como a banha da cobra que melhora os rendimentos das pessoas, que
substitui os salários, que garante acesso à habitação e a “atração de talento”.
(…)
A Direita só tem para oferecer doses mais amplas do andar
para trás.
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