sábado, 7 de outubro de 2023

MAIS CITAÇÕES (252)

 
Imagine o leitor que, lá por 1998 dois países do Sudeste asiático [tinham ganho a realização de um campeonato do mundo de futebol e que decidiram incluir nessa candidatura a Indonésia, então potência ocupante de Timor-Leste].

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[Imagine-se que a Indonésia] projetava a construção de um grande estádio de futebol em Dili, anunciando que ali se realizaria um dos jogos desse mundial.

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Que reação a esse plano lhes exigiria a sociedade portuguesa [caso Costa fosse PM e Marcelo PR]?

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[Que] repudiassem firmemente, em nome de um país que então se mobilizava totalmente contra a ocupação de Timor, uma tal manobra de branqueamento futebolístico da violação mais grosseira do direito internacional.

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Que ambos dessem voz a nada menos que a autodeterminação daquele povo irmão.

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[Tudo isto é ficção] porque, menos de um quarto de século depois desse imaginado 1998, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa tecem hinos e louvores à organização – essa sim, verdadeira – de um campeonato do mundo de futebol que envolve um Estado (Marrocos) que ocupa ilegalmente o território do Sara Ocidental, no qual anuncia que vai construir um grande estádio para a realização de um dos jogos da competição.

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É enquanto cidadãos de uma democracia que inteligentemente vê no direito internacional uma salvaguarda contra os grandes poderes fácticos deste mundo que temos obrigação de não seguir Marcelo e Costa na sua desmemória tão conveniente.

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O Mundial que vem aí (…) é um vexame para o país que se irmanou com a resistência timorense contra uma ocupação que os “realistas” de então (e eram tantos…) ditavam que devíamos deixar seguir.

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E é uma vergonha para quem apregoa, dia sim, dia sim, que não podemos ceder um milímetro aos ocupantes ilegais de territórios de outros povos.

José Manuel Pureza, “Público” (sem link)

 

É-me evidente a desproporção entre a indignação com os protestos e a motivação dos protestos [relativamente à ação das ativistas que atiraram tinta verde ao ministro do Ambiente).

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Tirando o recurso ao TEDH [Tribunal Europeu dos Direitos do Homem], qualquer radicalidade subversiva — sem a qual as sociedades definham — para assinalar o tema mais dramático que a Humanidade já enfrentou é vista como ilegítima.

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O movimento pela justiça climática mobiliza milhões de jovens por um bem comum. 

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Pertencendo a uma geração que nada fez e tinha toda a informação necessária, custa-me não estar incondicionalmente do seu lado.

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[Onde há quem peça ponderação] eu exaspero com a dormência.

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A an­siedade, que resulta dessa lucidez [de que se vêm os sinais], apenas é mais provável em quem tem mais futuro pela frente. Sobretudo quando percebem que a pressão não está a resultar.

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Oito anos depois dos Acordos de Paris, nenhum país está a cumprir as metas para limitar o aumento de temperatura a 1,5 graus.

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E o Governo britânico até decidiu adiar cinco anos a proibição da venda de carros a combustão e das caldeiras a gás.

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Como disse o Papa Francisco, estas supostas radicais apenas “preenchem um vazio da sociedade inteira”.

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A democracia não trata da mesma forma a radicalidade que quer esmagar direitos e a que os quer ampliar.

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Mas porque, mais do que os fins não justificarem os meios, sei que os meios fazem os fins.

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Só que há uma radicalidade intrínseca à emergência climática só comparável ao risco de uma guerra nuclear.

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Não é fácil manter uma posição de princípio sem vacilar quando a causa é a sobrevivência da Humanidade. 

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Nunca lidámos com nada destas dimensões, pelo menos se levarmos a sério o que dizem os cientistas.

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A minha reação a estas ações é de vigilância perante os excessos, mas com a noção do que está em jogo.

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Os que acreditam no que Guterres tem dito sabem que a quem sobreviver parecerá ridícula a nossa indignação com os protestos perante a dimensão trágica do que eles tentam sinalizar. 

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Sempre achei megalómana a convicção de que se está do lado certo da história, como se soubéssemos como ela vai acabar. Só que, neste caso, até sabemos. 

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

E nem a lagoa dos Salgados [no Algarve], para onde estava prevista e aprovada uma reserva natural, se safa de mais um projeto imobiliário, que, por atrasos oficiais inexplicáveis, está em vias de ir para a frente.

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Portugal tem uma vulnerabilidade costeira significativa, dada a sua exposição ao sistema Atlântico Norte e a fragilidade das suas arribas e faixas arenosas. E, mesmo assim, ainda se autorizam novos empreendimentos aí?

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Como é que se vai dar uma licença de habitação a estas casas?

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Depois da aprovação, ficamos todos corresponsáveis pelos danos e prejuízos causados pelos temporais.

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Quem vai arcar com as responsabilidades que decorrem destas e de outras brutalizações da natureza e do direito será o Estado. 

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Com a atual legislação, seremos todos nós que vamos pagar os custos dos estragos que estes empreendimentos sofrerem e provocarem.

Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)

 

Será que os problemas com que o Governo se depara para responder aos anseios e necessidades dos portugueses resultam de uma aceleração imprevista da realidade, ou é o Governo que, em muitos casos, opta por “avançar” começando por meter a marcha-atrás?

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António Costa é um político experimentado, conhece a coisa pública e os contextos internos e externos e é primeiro-ministro há oito anos. 

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O PM tem hoje uma leitura trapalhona, insuportável, sobre a Escola. 

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Persiste, contra tudo, em não resolver o problema da contagem do tempo.

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Como autarca de Lisboa sabia que a Lei das Rendas Assunção Cristas era desastrosa, que era urgente reabilitar espaços das grandes cidades, que se aceleravam os problemas de acesso à habitação para os jovens. 

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Na saúde, as políticas do Governo - excetuando o período da pandemia (…) - têm sido desastrosas. 

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Propositadamente, confunde o investimento do OE em Saúde (…) com o investimento no SNS. 

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Entra no jogo da Direita que apresenta alterações na política fiscal como a banha da cobra que melhora os rendimentos das pessoas, que substitui os salários, que garante acesso à habitação e a “atração de talento”.

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A Direita só tem para oferecer doses mais amplas do andar para trás.

Carvalho da Silva, JN


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