(…)
Em Portugal, justificamos este crescimento com falhas éticas, a
estagnação económica ou os ciganos.
(…)
Se um fenómeno é transversal a boa parte do Ocidente também têm de
existir algumas razões transversais.
(…)
[Uma delas tem a ver com] as redes sociais e a sua assombrosa
capacidade de disseminar desinformação e criar bolhas.
(…)
As explicações são tantas que ganhámos o hábito de, quando
qualquer coisa corre mal, dizer que fará crescer a extrema-direita, alimentando
uma profecia que se autorrealiza.
(…)
Deixem-me tentar mais uma: o voto tornou-se mais irresponsável
porque se tornou mais inconsequente.
(…)
Se olharmos para a composição do voto da extrema-direita em vários
países, nem sempre são os sectores mais desesperados da sociedade que mais
votam nela.
(…)
As pessoas querem “abanar isto” porque, no fundo, sabem que por
mais que abanem nada de relevante para a sua vida vai cair.
(…)
Não são as fundações do Estado de Direito Democrático, que nunca
deveriam ceder à pressão da maioria, que são inabaláveis.
(…)
São as opções políticas e económicas, que é o que,
precisamente, deveria ir a votos.
(…)
Quando a Grécia tentou desviar-se do programa de governo europeu
(não eleito) ficou claro que nem isso, nem uma saída pacífica do euro, lhe
seria permitido.
(…)
Já os ataques à democracia na Hungria e na Polónia não provocaram
qualquer crise na EU.
(…)
As bolsas vibraram com a vitória de um louco furioso como Javier
Milei, na Argentina.
(…)
Os governantes de extrema-direita até podem ser incompetentes, mas
nem isso é obrigatório, nem é exclusivo seu.
(…)
O dano é ao “outro”, seja o mais pobre, o imigrante, o gay, o
cigano ou a mulher emancipada.
(…)
[Votar na extrema-direita] é para “os” chatear.
(…)
[As pessoas] intuem, pela experiência, que o seu voto já não tem
essa capacidade de mudar radicalmente as suas vidas.
(…)
Se os Estados têm muito menos poder, também o têm os políticos e o
voto que os elege.
(…)
O crescimento da extrema-direita não é causa da degradação da
democracia. É consequência.
(…)
A vitória da extrema-direita não é uma perturbação da democracia
dormente que o capitalismo globalizado impôs, é apenas o seu novo estádio.
(…)
[A
democracia] apenas definhará. Está a definhar.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
[Será
a] quarta vez que me junto a activistas e especialistas de todo o globo para
exigir justiça climática, acompanhando as negociações que vão decorrer e trabalhando
para as influenciar.
(…)
Esta
cimeira acontece após um ano de eventos climáticos catastróficos, em que foram
quebrados dois tipos de recordes: por um lado, recordes de temperatura; por
outro, recordes de lucro de petrolíferas.
(…)
Terão estes recordes algo a ver um com o outro?
(…)
O
Verão de 2023 foi o mais quente da Terra desde o início dos registos globais em
1880, de acordo com os estudos do Instituto Goddard de Estudos Espaciais (GISS)
da NASA.
(…)
A verdade é que as COPs têm sido campos férteis
para os interesses fósseis.
(…)
O
presidente da COP28 [é] nada mais nada menos que Sultan al-Jaber, chefe da
empresa petrolífera estatal dos Emirados Árabes Unidos, a Adnoc.
(…)
Segundo
a BBC, os EAU planeavam, de facto, usar o seu papel de anfitriões da COP para
discutir e fechar negócios de gás natural e petróleo.
(…)
Ora: numa conferência que visa reduzir as
emissões globais, a sua presidência tenta discutir em paralelo projectos que as aumentarão.
(…)
Como
não poderia faltar, segundo um documento provisório, uma das empresas
representadas neste pavilhão [de Portugal] será a EDP: a mesma que continua a
lucrar com a produção de electricidade através de gás fóssil.
(…)
Vivemos
tempos distópicos, num mundo distópico. Um mundo distópico em que continuamos a
investir em combustíveis fósseis mesmo sabendo que nos estão a destruir.
(…)
Um
mundo distópico em que uma conferência sobre alterações climáticas acontece num
país que é um dos principais membros da Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEC).
Bianca Castro, “Público” (sem link)
A actual crise política resolveu um problema
que a direita nunca tinha sido capaz de resolver, afastar António Costa.
(…)
Não
era inteiramente verdade, mas as fragilidades pareciam não atingir o coração da
coisa, Costa estava para durar e mesmo aqueles que sonhavam 24 horas por dia em
derrubá-lo reconheciam isso.
(…)
[Costa cai] por uma política anormal em
democracia, uma mistura grande de incompetência e irresponsabilidade e uma
ideologia corporativa antidemocrática, o justicialismo.
(…)
[Justicialismo] é uma
intervenção no terreno da política democrática de uma concepção corporativa que
encontra legitimação numa ideia de superioridade do seu poder.
(…)
Detendo
poderes consideráveis, uma total independência funcional, e uma completa
impunidade, deveriam ter muito mais escrutínio, que os obrigasse a combater
mais o crime de forma sólida e competente e com resultados.
(…)
O justicialismo é uma forma mais sofisticada de
populismo, mas muito próxima da substância do populismo que alimenta o Chega.
(…)
O
mecanismo do justicialismo actua para além dos seus efeitos no equilibro
político, no reforço da imagem da casta e na intangibilidade dos seus poderes.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
A responsabilidade da existência de pobres pertence a cada um
de nós - a uns mais que a outros, mas ninguém fica de fora - e é coletiva.
(…)
[Desviamos o olhar da pobreza] quando não atacamos as suas
causas e raízes e nos ficamos por colocar uns pensos na ferida; quando
privilegiamos a esmola à solidariedade transformadora, quando pactuamos com
desigualdades profundas.
(…)
Um olhar sobre os pobres que os menorize é indigno.
(…)
Temos muitas crianças pobres porque existem agregados
familiares muito pobres.
(…)
A pobreza é uma realidade pesada e complexa, mas que se pode
combater.
(…)
Impõe-se aumentar o salário mínimo nacional e os salários em
geral.
(…)
É preciso melhorar os níveis de educação e de formação em
início de atividade e ao longo da vida.
(…)
Tem de se aumentar o investimento permanente nas políticas de
educação, saúde, habitação, proteção social e justiça, fontes de rendimentos
complementares.
(…)
O Indexante dos Apoios Sociais nunca foi objeto de uma
análise consistente e sujeito às devidas atualizações: vale hoje menos que no
início da sua aplicação.
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