(…)
A
decisão é trágica para o jornal, que tem nestes correspondentes a voz do país,
de norte a sul, e um elemento essencial da sua identidade.
(…)
Ao incumprimento de obrigações com os trabalhadores, soma-se
a pressão para a rescisão e a ameaça de um despedimento coletivo que pode
chegar a 200 pessoas.
(…)
De facto, qualquer um deste títulos é demasiado importante
para o frágil ecossistema da comunicação social em Portugal para ser a presa de
interesses obscuros e de fundos sem rosto, mas com porta-vozes que espalham
brasas.
(…)
Quais as motivações, editoriais, políticas ou outras, para
desvalorizar publicamente os títulos e para rebentar com jornais que dão lucro.
(…)
Por que não mobiliza a ERC todos os instrumentos legais que
permitem impedir acionistas desconhecidos de tomar decisões?
(…)
Se houve má gestão, como tudo indica, quem beneficiou com
ela?
(…)
Para onde vai a receita que os títulos geram?
(…)
Portugal é uma economia de mercado, mas é também um Estado de
direito.
(…)
O despedimento é um ato possível, mas não é livre.
(…)
A liberdade económica não é um valor absoluto e os
fundamentos para um despedimento não são insindicáveis.
(…)
Mesmo os motivos económicos têm de ser validados.
(…)
[Estamos] perante um exemplo do abuso e de impunidade
económica que tem de ser esclarecido e submetido a regras.
Da mesma forma que a PSP acha que tem direito a punir, com
violência física, os que considera terem comportamentos criminosos, o MP acha
que pode julgar e condenar políticos na praça pública.
(…)
Há, nas sociedades democráticas (nas outras isto nem é
debate), um abandalhamento institucional que é causa e consequência da
degradação da democracia.
(…)
[A função do Ministério Público é investigar] suspeitas
plausíveis de crimes sem destruir, de preferência, a reputação dos que
investiga antes de alguma evidência sólida existir.
(…)
A resposta não pode ser desatar a investigar todos os líderes
para distribuir o descrédito da política de forma mais equilibrada.
(…)
Tem de ser a de se exigir mínimos de responsabilidade.
(…)
Quem está a desacreditar o Ministério Público é quem (…)
criou as condições para ser instrumental para campanhas políticas que visam,
essas sim, desacreditar a democracia.
(…)
Nesse sentido, estou empenhado em combater a deriva
justicialista de uma parte dos agentes de justiça.
(…)
[Estou empenhado nisto] em defesa da democracia.
(…)
Não é por ser eticamente mais irrepreensível que a
extrema-direita ganha com tudo isto.
(…)
É por ser, também ela, inimiga da democracia e do Estado de
Direito.
(…)
[O justicialismo] nunca reduziu a corrupção. E sempre
foi eficaz no enfraquecimento das liberdades cívicas e da democracia.
(…)
Depois do que aconteceu a 7 de novembro, todos os democratas
têm o dever dar um murro na mesa, exigindo que o MP seja, como a lei determina,
um órgão autónomo.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
O que
me move é a preocupação com as inevitáveis consequências desta simbiose entre
as fugas de informação do Ministério Público e o jornalismo.
(…)
Precisamos, mais do que nunca, que os
jornalistas investiguem, comentem e medeiem os factos.
(…)
Criticar
o jornalismo agora é atacar quem mais precisa de apoio. Mas a importância do
papel do jornalismo no sistema democrático é tal que não nos podemos obliterar
a fazê-lo.
(…)
Claro
que a função do jornalismo não é fazer combate político, mas daí a produzir
títulos sensacionalistas, que ignoram o rigor dos factos, vai uma grande
distância.
(…)
Os títulos que acusam políticos despertam o
interesse dos leitores e isso é tentador para os jornais.
(…)
E
reparem que o que acontece a seguir é que a maioria destes casos não tem pernas
para andar e morre na praia.
(…)
Ventura
ainda teve a distinta lata de dizer que nunca tinha criticado a atuação da
Justiça quando foi alvo de processos. Mais uma mentira. Não ter vergonha é uma
grande ajuda na carreira política do presidente do Chega.
(…)
Parece
que não é a Justiça ou o jornalismo de investigação que têm o ónus de juntar
indícios ou de fazer a demonstração de que alguém é culpado.
(…)
São os suspeitos que precisam de fazer prova da
sua inocência. Estas são as regras da praça pública.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
Há uns anos víamos as empresas de combustíveis
fósseis negarem a existência das alterações climáticas causadas por emissões
poluentes.
(…)
As multinacionais BP e TotalEnergies, por
exemplo, entre as mais poluentes de sempre, fazem campanhas sobre
sustentabilidade.
(…)
Um outro caso é a Shell, também entre as
principais poluentes, afirma estar a investir em “energia limpa”.
(…)
Quando se entra no site desta empresa [The
Navigator Company] somos bombardeados com a palavra sustentabilidade, cores verdes e imagens de florestas.
(…)
Um
retrato realista seria florestas a arder, as cores das nuvens de fumo a escapar
de chaminés vermelhas e brancas, e "greenwashing".
(…)
ANavigator não deixa de ser uma das empresas
mais poluentes em Portugal.
(…)
Lê-se
ainda num comunicado recente que a empresa recebeu um contrato de financiamento
do Banco Europeu de Investimento (BEI) que fará possível a redução de “24,6%
das emissões do Grupo registadas em 2022”.
(…)
No entanto, a percentagem de redução das
emissões não está a ter em conta o total das emissões.
(…)
E como se o ilusionismo com números não fosse
suficiente, os dados do relatório da Navigator estão incompletos.
(…)
Sendo
assim, quando se utiliza dados independentes relativos a 2021, a redução é
cerca de 4,4%, muito longe dos 24,6% anunciados.
(…)
Os
prémios de sustentabilidade perdem credibilidade quando são atribuídos por
organizações financiadas por entidades altamente poluentes, este é um dos
casos.
(…)
Há ainda uma relação bastante clara entre
riqueza e poluição.
(…)
Um relatório recente mostra que os 1% mais ricos emitem mais
CO2 do que os 66% mais pobres.
(…)
A sustentabilidade dos bilionários e das grandes empresas é uma farsa.
(…)
O investimento verde não resulta, nem vai
evitar os fenómenos climáticos extremos que estão a ser cada vez mais frequentes.
(…)
Só uma
sociedade organizada para a solidariedade e justiça pode derrubar as
desigualdades de um sistema baseado na perseguição do lucro.
Ernesto Oliveira, “Público” (sem link)
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