sábado, 5 de abril de 2025

MAIS CITAÇÕES (327)

 
Com o turbilhão de mudanças induzidas nas relações económicas e comerciais – de forma mais visível pela Administração dos Estados Unidos da América –, que sistema de comércio internacional teremos no futuro? 

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Deve estar enganado quem, nos EUA, na Europa ou noutras latitudes, se refugia na ideia de que basta fazer de morto e esperar que a tempestade passe. O baralho está a ser manipulado.

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O “livre comércio” sempre funcionou bem a favor dos poderosos, nem sempre a favor dos outros. Sustentou uma certa “ordem” num longo espaço temporal. 

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Em regra, favoreceu a imposição do abaixamento dos custos do trabalho, dos salários e da proteção social, mas foi apresentado sempre como determinante para o desenvolvimento e a democracia.

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Esquecemo-nos de que nem poderes divinos garantem aos seres humanos alianças eternas.

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Habituamo-nos a ver os países ricos numa defesa acérrima do “livre comércio” e os pobres a tentarem condições pontuais de “protecionismo” para minorar os sacrifícios dos seus cidadãos. Agora, este filme surge de pernas para o ar.

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A mensagem de Trump identifica-se com o que ele sente: falta de emprego digno e baixo nível de vida.

Carvalho da Silva, JN

 

[Robert F. Kennedy Jr.] foi empossado como secretário da Saúde dos EUA, uma ideia tão absurda como pôr um terraplanista aos comandos da NASA (com, claro está, intensidade apaixonada)

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Neste recém-instalado reinado anticiência já despontam os primeiros sinais de alerta. Há um surto de sarampo no Texas, cujo foco inicial foi um grupo de cristãos evangélicos, com escolas próprias, nas quais a maior parte das crianças não está vacinada.

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RFK Jr. não é apenas um inócuo antivacinas na intimidade, antes externaliza e inocula a estupidez. Causa mossa, tem inclusivamente um passado ativista anti-vacinação.

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Mas nada será como dantes, com todo o poder da saúde americana agora nas suas mãos, sob o desígnio Make America Healthy Again.

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Entretanto, este surto de sarampo continua a somar casos, RFK Jr. faz recomendações tresloucadas sobre como (não) conter a gripe das aves e os EUA saem da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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É, sem meias palavras, um imenso retrocesso civilizacional. Os negacionistas tomaram as rédeas do poder.

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O passo seguinte neste reinado é cercar aqueles que combatem o obscurantismo – os cientistas.

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Já está a acontecer, sob a forma de despedimentos e redução de financiamento científico

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A ex-maior comunidade científica do mundo (na verdade, foi recentemente ultrapassada pela da China) está em risco de colapso.

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Eis um governo visceralmente anti-intelectual, a obstaculizar o avanço científico a um nível nunca visto.

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[Esta cruzada anti intelectual] está a perseguir estudantes universitários que se manifestaram pelos direitos humanos na Palestina e corta ou planeia cortar fundos a diversas universidades que se recusaram a reprimir as manifestações dos seus estudantes.

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Julgo não haver exemplos deste tipo de ataque frontal à liberdade académica noutros países cujo regime seja outro que não o totalitarismo.

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Ao que tudo indica Trump não será um querido líder entre os cientistas.

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Este é o atual cenário americano, onde o absurdo permeia a realidade. Nem todos quererão viver nesta segunda vinda do obscurantismo.

Pedro Laires, “Público” (sem link)

 

A fuga de cérebros é um fenómeno histórico com diversos exemplos. Nós próprios temos vários, que infelizmente vão no sentido que nos prejudica.

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Na última década, Portugal foi dos países europeus onde a fuga de cérebros mais se acentuou, com um significativo impacto económico que foi até recentemente estimado.

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No extremo oposto, talvez nenhum outro país tenha beneficiado tanto da fuga de cérebros como os EUA.

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Isto aconteceu quando o contexto político e social era desfavorável no nosso lado e próspero no outro lado do Atlântico.

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A tendência inverte-se e surgem sinais de marcha-atrás no êxodo de talentos.

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[Foi da Alemanha, no contexto da ascensão do nazismo que muitos] cientistas emigraram – o que contribuiu para que os EUA se firmassem como a maior potência científica e tecnológica (e, já agora, militar) do mundo no pós-guerra.

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Hoje, o obscurantismo americano repele cérebros e a Europa deverá estar pronta para os acolher.

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A reversão deste fenómeno é, portanto, uma inequívoca oportunidade para a Europa, que deverá saber atrair os melhores talentos nas áreas técnico-científicas em que está mais atrasada.

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Nós, por cá, deveríamos saber acompanhar esta “corrida aos cérebros”.

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Relembrar que não é só a ciência que está a ser atacada, mas que esta é uma investida da indecência e do absurdo em toda a linha, ataca também a educação, a cultura e os direitos fundamentais.

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Que toda esta tragédia americana, que se abate sobre o mundo, nos sirva pelo menos de ferramenta e seja uma oportunidade para ganharmos alguma sabedoria.

Pedro Laires, “Público” (sem link)

 

Vivemos tempos estranhos. Não apenas difíceis. Mas estranhos, porque o que antes nos causava indignação agora muitas vezes nos deixa apenas em silêncio.

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O medo voltou, mas com novas máscaras. E com ele, a coragem. Parece contraditório, mas não é. Há um medo que paralisa, sim.

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Mas há também a ausência do medo que se transforma em arrogância e abuso.

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[Há políticos] a violar direitos humanos com a maior das naturalidades. E nada acontece.

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Não há sanções, nem sociais, nem legais, nem morais. 

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Assistimos a uma espécie de flexibilização da ética e da legalidade.

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O medo deixa de ser reação e passa a ser condição e é aí que a liberdade se desfaz.

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Vamos aprendendo, quase sem notar, a aceitar certos abusos como parte do funcionamento normal das coisas. 

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Porque quando deixamos de acreditar que vale a pena lutar, abrimos caminho para que tudo continue como está, e pior, como se fosse natural!!!!

(..)

É preciso dar maior visibilidade ao que temos vindo a assistir em vários cantos, grupos, comunidades, onde as pessoas se juntam e dizem basta. 

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A coletivização da coragem talvez seja a única saída real que temos.

Fátima Alves, “diário as beiras”


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