segunda-feira, 1 de agosto de 2011

GENERALIZAÕES PERIGOSAS

Sempre que surge a notícia de um acto de violência perpetrado por algum elemento de uma minoria étnica, religiosa ou estrangeira, de imediato surgem na imprensa online dezenas de comentários xenófobos em relação a ciganos, “pretos”, islamitas, naturais de outros países, etc. A cor da pele, o grupo étnico, a religião ou a origem geográfica de um criminoso fazem generalizar a todos os elementos do grupo as culpas dos actos levados a cabo por apenas um. Ultimamente, chegam-nos supostas informações da polícia de roubos ou actos de violência em locais por nós frequentados e que sabemos tratar-se de puras invenções. Os seus ‘autores’ são, invariavelmente, ciganos, negros, romenos ou outros estrangeiros do leste. Nestas histórias nunca aparecem portugueses nem gente de origem ocidental.
A intenção de gerar o medo para criar um caldo de cultura racista e xenófoba é evidente. O que se pretende? Certamente nada de bom porque se parte de um pressuposto errado.
O massacre de Oslo veio demonstrar que todas as culturas, todas as religiões, todas as etnias, todas as ideologias geram monstros, gente louca, como afirma Daniel Oliveira no seguinte texto transcrito da última edição do ‘Expresso’.

O NOSSO LOUCO
Os militantes islamitas deturpam uma religião pacífica? São apenas os grupos violentos que o fazem? Ou, indo mais longe, o islão é uma religião intrinsecamente agressiva? Perante esta três possibilidades, não tem a Europa de abandonar o pensamento ‘politicamente correcto’ tão ao gosto dos ‘multiculturalistas’ e defender a sua cultura e os seus valores humanistas? Andamos neste debate há pelo menos uma década. Até que um racista cristão põe uma bomba na sede do Governo norueguês e mata a tiro mais de 70 jovens socialistas, numa acção planeada, com motivações políticas e que nunca poderá ter sido preparada apenas por ele a direita nacionalista deturpa os valores europeus e ocidentais? São apenas os grupos violentos que o fazem? Ou, indo mais longe, a ideia de que é necessário combater a ‘islamização da Europa’ acabará sempre por degenerar em violência? Perante estas três possibilidades, não devemos abandonar o pensamento ‘politicamente correcto’ tão ao gosto da direita modernaça e defender o cosmopolitismo e os valore humanistas?
Nada disso. Aquilo que estávamos proibidos de dizer sobre os terroristas islâmicos – que se tratam de loucos – por tal significar uma desculpabilização da sua matriz ideológica e religiosa, passou a ser aceitável para falar de Anders Breivik. O que no fundamentalismo islâmico era ideologia e cultura na extrema-direita europeia é patologia. Poderia aproveitar o momento para dizer que a Europa, ao ser tão condescendente com o discurso xenófobo, desde que apresentado com a sofisticação retórica da defesa da democracia e da liberdade (de Pim Fortuyn e Geert de Wilders), criou o caldo para este massacre. Não o digo porque é falso. E porque seria oportunista e de mau gosto.
Sim, Breivik é um louco, sim, Osama Bin Laden também o era. Não, nem toda a extrema-direita europeia e nem todos os fundamentalistas islâmicos passam do pensamento ao acto. E isso faz toda a diferença. Mas uns e outros vivem de ideologias do ódio e alimentam o ódio dos loucos. Não, não há ‘valores ocidentais’. A Europa da liberdade é também a Europa do Holocausto. O cristianismo de Luther King é também o cristianismo do Klu Klux Klan. Assim como o islão de Aga Khan é também o islão da sharia. E a ideia de que há uma homogeneidade de pensamento, de valores e de modos de agir em cada cultura ou religião é a base de todos os supremacistas. Por isso, da próxima vez que se sentirem muito orgulhosos da vossa incorrecção política, pensem em Anders Breivik. Ele é também o Ocidente. Um louco, claro. Como os loucos que insultam o islão com as bombas que matam em seu nome. Todos temos os nossos. E em algum momento da nossa história eles até tiveram a simpatia da maioria.

Luís Moleiro

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