sexta-feira, 17 de novembro de 2023

CITAÇÕES

 
[O massacre de Guernica e as imagens mais conhecidas da devastação de Mariupol ou de Alepo, no nosso tempo] são duas formas de retrato da barbárie e, delas, o grito de Picasso é a expressão mais intensa do desespero.

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Cada guerra tem a sua história, mas guerra é isto: choque e pavor.

[Choque e pavor] é o que se está a viver em Gaza, com a particularidade sinistra de ser um enclave onde a população bombardeada está encurralada pelos muros de uma prisão.

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Num discurso dos últimos dias, Netanyahu incitou os seus soldados a procederem segundo o princípio bíblico da vingança contra a tribo rival de Amaleque, fundada por um trineto de Abraão.

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Os intérpretes bíblicos descrevem uma longa rivalidade entre israelitas e amalequitas, que viria dos tempos de Moisés.

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Netanyahu convoca a autoridade religiosa para justificar a morte ou expulsão daquele povo [de Gaza], o que a selvajaria não alcançou nem em Guernica, nem em Mariupol, nem em Alepo.

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O ministro da Herança sugeriu o uso da bomba nuclear, que curiosamente Israel nunca reconheceu oficialmente que possuísse.

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O ministro das Finanças garante que Gaza nunca será independente.

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O ministro da Agricultura gaba-se da imposição de uma segunda Nakba, o nome que tomou o êxodo palestiniano depois da guerra de 1948.

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Em todo o caso, o Governo israelita não deixa qualquer dúvida, trata-se, portanto, de começar a expulsar dois milhões de palestinianos daquele território, impondo a paz dos cemitérios.

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Que viva a morte, como gritavam os fascistas de Franco antes e depois de Guernica.

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[As sucessivas declarações da diplomacia norte-americana e europeia constituem] uma autorização irrestrita a bombardear ou ocupar hospitais ou a destruir o território, provocando milhares de mortes de crianças, entre tantas outras vítimas.

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Obama mostrou-se arrependido não se sabe bem de quê, e nenhum desses discursos muda a realidade da chacina nem se propõe interrompê-la. 

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O facto é que o falhanço tem 30 anos, o tempo das garantias dos Acordos de Oslo, nunca cumpridos.

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Não há Estado Palestiniano e as autoridades políticas internacionais, com a única exceção de Guterres, querem enterrar essa promessa nos escombros de Gaza e nos refúgios de uma Cisjordânia.

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Estamos a assistir à comprovação de que o horror não tem limites.

Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)

 

As Universidades são espaços de discussão, liberdade e reinvenção, ou não são Universidades.

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Se correr tudo bem, são também espaços de conflito.

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Nos últimos dias, algumas Faculdades portuguesas foram ocupadas por estudantes que lutam contra a crise climática, um movimento que é mundial
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São estas e estes estudantes que vão estar cá, nesse mundo, e isto não é um detalhe para quem tem 20 anos.

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Várias direcções de Faculdades têm respondido a este movimento chamando a polícia para retirar os estudantes das suas instalações e detê-los.

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Aconteceu na FCSH — Universidade Nova de Lisboa, no ISCTE, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa (onde a polícia chegou a ser chamada, tendo a direcção entretanto recuado) e na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

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[Chamar a polícia] é dizer à comunidade estudantil que o que dela se espera é obediência e nenhum questionamento – se sair desse plano, responde-se com autoridade e força bruta.

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[As e os estudantes] estão a tentar que se discuta colectivamente um problema que é de toda a gente e estão a fazê-lo nos seus espaços.

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O sentido de urgência que transmitem não é simbólico: a urgência existe mesmo.

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A Ciência anda a avisar há muitos anos e o planeta não se compadece com as orelhas moucas de governos que fingem que ainda temos tempo.

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Muitas [Faculdades] preferem responder com repressão policial.

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É lamentável, condenável e revelador de uma ideia de Faculdade que acompanha na perfeição o neo-liberalismo selvagem que tomou conta do mundo.

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Num momento em que, no país e no mundo, ideias e políticas anti-democráticas e autoritárias crescem e ameaçam direitos e liberdades que há muito temos como garantidos, a repressão feita às estudantes e o silenciamento forçado da comunidade universitária dá passos num sentido particularmente perigoso.

Carta aberta de 350 signatários, “Público” (sem link)

 

De todos os poderes que entregamos num Estado de direito, o poder de exercer autoridade com recurso ao uso da força é o mais radical e o que exige maior confiança em quem o recebe.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

A inação é já em si uma decisão, uma escolha moral, nomeadamente em situações de opressão.

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Lembremo-nos das palavras do Prémio Nobel da Paz Desmond Tutu, quando defendia que ser neutro em situações de injustiça significa escolher o lado do opressor.

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O que é urgente e o que pode esperar? Se tivermos como princípio fundamental a preservação da vida humana, e nomeadamente de inocentes inquestionáveis como as crianças, a prioridade é a sua proteção.

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Se, por exemplo, António Guterres parece acreditar nos números fornecidos pelo Hamas, pedindo repetidamente e “em nome da Humanidade” um cessar-fogo imediato, é porque nos outros ataques perpetrados por Israel os números coincidiam com os números oficiais apurados pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

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A inação por causa da incerteza de números é neste momento mais grave do que agir por excesso de prevenção.

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Quem constata que há um risco ou que já estão em curso crimes contra a humanidade já apela ao cessar-fogo; quem ainda tem dúvidas está à espera de quê?

Luísa Semedo, “Público” (sem link)

 

São armas os equívocos e os barões assinalados nas idas e voltas, rocambolescas, de todo o processo que conduziu ao pedido de demissão de António Costa. Armas contra a democracia, o Estado de direito e a separação de poderes. 

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Não deixa de ser singular que o anterior Governo de António Costa caia pela não aprovação do Orçamento do Estado de 22 e antes dele. E que o agora demissionário Governo de maioria absoluta caia apenas e só após a aprovação do Orçamento do Estado para 24. 

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A política acelera em forma de tufão que tudo varre mas não parece mudar o sentimento do país sobre quem o pode governar em segurança contra intempéries.

Miguel Guedes, JN


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