(…)
Desde que chegou ao poder, e já lá vai quase um
ano, Montenegro deu uma única entrevista amigável (nada contra, há muitos géneros de entrevista) e
com entrevistadora escolhida por si.
(…)
Passou por 15 dias de suspeitas, em que é acusado
de receber uma avença de uma empresa dependente de decisões do Estado, sem
falar com jornalistas.
(…)
Sempre disse que, na sua relação com a imprensa,
Montenegro tinha decidido regressar
ao estilo de Cavaco Silva.
(…)
Na mesma noite em que Luís Montenegro se recusou
a responder aos jornalistas sobre um caso suficientemente grave para ele achar
que pode criar uma crise política, enviou cinco ministros aos cinco canais de informação.
(…)
Foi caricato ver estas pessoas responderem a
informação a que não têm acesso e não estão envolvidas.
(…)
Foi um ato de cobardia que os jornalistas
aceitaram. E em que Montenegro tem confiado para evitar o escrutínio. Começa a
ser claro porquê.
(…)
O escrutínio, por vezes impiedoso, (…) Serve
para defender o Estado e o interesse público de políticos demasiado vulneráveis para governar.
(…)
Luís
Montenegro já fizera uma campanha baseada na gestão do silêncio.
(…)
No dia das eleições, sabíamos quase tudo
sobre Pedro Nuno Santos e fiávamo-nos no perfil que a propaganda construiu de
Luís Montenegro.
(…)
O resultado está
à vista e veremos se não nos tratará mais surpresas: o escrutínio está a ser feito a um primeiro-ministro em exercício sobre o qual deveríamos saber quase tudo
antes de ter sido eleito.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
A entrada dos
jovens no mercado de trabalho em Portugal tornou-se uma verdadeira prova de
resistência.
(…)
Depois de anos
de estudo, muitos acabam presos num ciclo interminável de estágios e programas de trainees.
(…)
O mais frustrante é que, apesar de todo o tempo
investido em formação e experiência, a verdadeira integração no mercado de
trabalho parece ser uma daquelas metas que, quanto mais se corre atrás, mais
longe fica.
(…)
Os estagiários, muitas vezes, acabam a fazer o
trabalho dos "trabalhadores verdadeiros", sem a devida compensação. E
no final do estágio, em vez de um contrato fixo, são substituídos por... mais
estagiários.
(…)
A ironia?
Enquanto o jovem acumula experiência prática, muitas empresas não a reconhecem
como experiência "real".
(…)
A experiência é
uma moeda que, aparentemente, nunca chega a ser trocada por um contrato fixo.
(…)
Em muitos outros países, a situação é a mesma:
uma licenciatura já não basta, e o mestrado também não garante nada.
(…)
As empresas
exigem “experiência”, mas o único meio de obtê-la é, frequentemente, passando
por estágios mal pagos ou não remunerados.
(…)
Não faz sentido que, após tanto tempo de estudo
e experiência prática, os jovens sejam tratados como "sem
experiência" e sejam forçados a passar por estágios sem fim.
(…)
As empresas precisam de valorizar os
estagiários como profissionais e dar-lhes a oportunidade de progredir na
carreira, sem os manter presos numa fase de aprendizagem interminável.
(…)
Quando se
prolonga indefinidamente, sem uma transição clara para um emprego fixo, o
estágio transforma-se numa armadilha.
(…)
Precisamos de
repensar o sistema de entrada no mercado de trabalho, principalmente do ponto
de vista das empresas.
(…)
O mercado de trabalho tem de perceber que a
experiência adquirida durante o estágio é crucial para o crescimento, e não
deve ser ignorada.
(…)
Quando as
empresas passarem a valorizar os estagiários como profissionais de verdade, o
ciclo dos estágios finalmente terá um fim.
Constança Soares Seborro, “Público” (sem link)
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