quarta-feira, 12 de março de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (146)

 
Ontem, assistimos a um dos momentos mais deprimentes da nossa democracia parlamentar. 

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Como pode passar pela cabeça de um primeiro-ministro que a votação de uma moção de confiança serve para propor um leilão em que o escrutinado regateia as condições em que o parlamento o escrutina?

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[O Governo pretendia] matar a CPI, transformando-a numa “rapidinha”, ou construir uma narrativa de vitimização que permitisse mudar a perceção dos portugueses, que, segundo das sondagens, o responsabilizam pela crise.

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Perante um caso grave, o primeiro-ministro provocou uma crise política depois de duas moções de censura chumbadas, exigindo que a oposição decretasse o fim das suspeitas, através de uma moção confiança desnecessária.

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[Vem à tona que] o PS deveria viabilizar uma moção de inocência do primeiro-ministro e de culpa de si mesmo.

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Luís Montenegro tinha todas as condições materiais para governar.

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[No entanto], não fazer cair um governo não é o mesmo que o apoiar.

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Quando isto foi explicado, no debate sobre o programa de governo, já lá vai um ano, Luís Montenegro achou suficiente, não apresentando um voto de confiança, como poderia ter feito. 

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O único responsável por esta crise é Luís Montenegro.

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É responsável por forçar uma moção de confiança que sabia chumbada, para poder ir o mais depressa possível a votos, na derradeira esperança deles substituírem a verdade.

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[Tentou] transformar a moção de confiança numa negociação de uma CPI.

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Quem sequestra, desta forma, um partido, um parlamento e um País para se proteger a si mesma não pode ser primeiro-ministro.

Daniel Oliveira, “Expresso” online

 

Se todo o tempo de existência do planeta Terra fosse condensado em 24 horas, nós, Homo sapiens, teríamos aqui chegado há sensivelmente três segundos.

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Nesse reduzidíssimo período de tempo, fomos capazes de coisas extraordinárias, algumas nunca vistas nesta esfera global.

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[Entre outras] alterámos o clima.

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Tudo isto exigiu organização e estrutura, e então fomos ensaiando sistemas de governança.

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E continuamos a testar todas estas [as] invenções, sem chegar a conclusão alguma, mas perpetuando violentas disputas.

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Entende-se a confusão. Ninguém esperaria que, em três segundos, já soubéssemos governar o quer que fosse da maneira “certa”.

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[Não fomos capazes de] aprender a governar.

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Na natureza, existem tantos sistemas de governança quanto as espécies e ecossistemas. Mas há algo de transversal a todos eles: a lógica de partição de recursos.

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[As] espécies recém-chegadas a determinado ambiente, não tendo aprendido as seculares lições das espécies nativas, “julgam-se” em vantagem competitiva e começam a expandir-se desenfreadamente.

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Consomem todos os recursos, aniquilam as demais espécies e ignoram a necessidade de equilíbrio. No curto prazo, são “as donas de tudo”.

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Nenhum sistema funciona com uma única espécie dominante, e o resultado inevitável, a médio-longo prazo, é o colapso de todo o ecossistema, incluindo da própria invasora.

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A natureza não é conivente com o comportamento invasor. E isto é verdade para as espécies, mas também para os indivíduos e as sociedades.

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Líderes invasores, que apenas se norteiem pelo benefício próprio, não são tolerados na natureza.

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No mundo natural, a liderança existe e é necessária, mas só é respeitada se for baseada no serviço ao grupo, num equilíbrio entre poder e cooperação.

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A transferência do conhecimento não é de somenos. Todos os seres vivos, por definição, evoluíram sobre as aprendizagens coletivas.

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No caso dos humanos, para perpetuar e acelerar estas grandes lições, inventámos a educação.

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O saber coletivo expõe modelos de governança deficientes e lideranças fracas, o que se torna bastante inconveniente para um pseudolíder que queira manter o poder sem prestar contas ao grupo.

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Daí que, ao longo da história, sistemas opressores tenham investido tanto no controlo da educação e da informação.

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Quando o acesso à informação e à aprendizagem é restringido ou manipulado, garante-se o pouco questionamento dos modelos de governança e mantém-se a ilusão da prosperidade invasora.

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Os espetáculos decadentes a que temos assistido na política nacional e global envergonham toda a nossa espécie.

Milene Matos, “Público” (sem link)

 

[Viemos] assistindo incrédulos ao cortejo da obstinação de Luís Montenegro em permanecer silencioso sobre as suas avenças diretas ou indiretas de entidades privadas.

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Como primeiro-ministro, não podia auferir essas avenças, uma delas, pelo menos, com interesses dependentes do Estado.

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Como Montenegro não quer dar explicações acerca desta conduta e como sabe que ficou e ficará marcado para todo o sempre por a não esclarecer foge e leva consigo debaixo do braço o partido e o Governo.

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Como advogado, bem sabe [que uma conduta ilícita não pode ser branqueada por um ato eleitoral].

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Há, no entanto, nesta crise algo de misterioso e que leva a fazer a pergunta: porque foge com tanto pavor da comissão de inquérito? O que teme?

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O dr. Luís não parou no tempo para ressuscitar a União Nacional de Salazar? Falta apenas arregimentar autocarros e populares e encher o Terreiro do Paço para o aclamar como salvador da pátria e da proteção de dados…

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Só adiantados mentais seriam capazes de congeminar que para governarem exigiriam que a oposição desse a sua confiança política a um Governo cujo chefe está envolvido em condutas censuráveis, pelo menos do ponto de vista político.

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Porque se autoderruba [um governo] avançando com o pedido de confiança que nunca poderia ter, pois é absolutamente minoritário?

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Montenegro anda a brincar aos governos. 

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Quer autoderrubar-se para alegar que não o deixaram governar, quando ninguém o impediu…O Governo quer que a oposição seja sustento da sua política.

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Luís Montenegro navega nos ventos da chantagem política.

Domingos Lopes, “Público” (sem link)

 

Montenegro quer eleições, porque precisa de sobreviver. Mas ignora um detalhe: as eleições não limpam suspeitas.

Maria Castello Branco “Expresso”

 

Até hoje, a pertença à União Europeia tem servido de escudo, mas como se vê em cada vez mais países europeus, a Democracia pode muito facilmente ser destruída por dentro, através de eleições.

João Paulo Craveiro, “Diário de Coimbra” (sem link)


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