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Quem ganha com o acordo?
O país precisava de um acordo entre os parceiros sociais para poder continuar a reclamar externamente que o nosso duríssimo programa de ajustamento continua a merecer um enorme apoio das forças políticas e sociais, o que torna o nosso caso muito diferente do grego.
O Governo precisava do acordo para demonstrar que, apesar de deter uma maioria política não prescinde do diálogo social. Os patrões precisavam do acordo para conseguir finalmente a liberalização praticamente irrestrita do despedimento individual. E a UGT precisava do acordo para fazer a sua prova de vida, porque já se sabe que nestas alturas, só muito raramente a CGTP está presente no momento da assinatura.
Mas dito isto, fica-se a perceber o que o país, os patrões e a UGT ganharam com este acordo: mas não se percebe o que ganharam os trabalhadores. Do seu lado são muitas cedências (com a exclusão de meia hora de trabalho diário, que não ficou consagrada): vão trabalhar mais dias, por menos dinheiro e com um vínculo laboral muito mais frágil. O montante e o tempo do subsídio de desemprego são reduzidos. Em nenhum ponto do acordo se consegue perceber o que deram os patrões em troca para receber tudo isto. Não há nenhuma meta em matéria de criação de emprego, nenhum compromisso na área da formação, nenhuma obrigatoriedade de apostar na inovação.
Por isso, este acordo é profundamente desequilibrado. E acordos desequilibrados não conduzem a bons resultados a prazo para ninguém.
Até alguma direita reconhece que a classe trabalhadora vai ser altamente penalizada com o beneplácito de alguma esquerda que já não tem nada de esquerda.
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