segunda-feira, 30 de setembro de 2013
A BANCA, OU A VIDA?
É claro para toda a gente que o maior
flagelo que se vive nas sociedades actuais é a falta de emprego.
Invariavelmente, toda a gente diz que é necessário combater o desemprego e que
isso só acontece por via do crescimento económico. Só que, enquanto uns fazem
esta afirmação de forma cínica, sem lhe acrescentarem mais nada, outros,
propõem medidas concretas de aplicação fácil e com resultados relativamente
garantidos. É este o tema de um artigo de opinião (*), com o título acima
transcrito, que copiámos do Diário de Coimbra de ontem (29/9) e que é o espelho
do que pensam muitos economistas sérios desalinhados da doutrina neoliberal.
Todos dizem, na Europa de
turno, que é preciso combater o desemprego. Explorada a questão, nenhum deles
sabe o que fazer. Será esta, talvez, a prova mais eloquente da falência
política dos dirigentes políticos que capturaram o poder.
Esta semana [passada], num
tom inflamado, o improvável Jean-Claude Trichet dizia a uma cadeia de televisão
– por acaso, aquela em que trabalho – que é preciso fazer qualquer coisa para
combater o desemprego. É o problema mais grave da Europa, completou o antigo
presidente do Banco Central Europeu. Nunca tal coisa lhe tinha ouvido, enquanto
presidiu ao BCE. Claro, soluções, nem uma. Pura retórica de conveniência.
Nos últimos meses têm-se
multiplicado as declarações deste tipo. Durão Barroso não se cala com o
assunto, tal como Francois Hollande, David Cameron, Mariano Rajoy e até o
infeliz Passos Coelho balbucia qualquer coisa do género. Quando se lhes
pergunta o que vão fazer para eliminar este flagelo social, invariavelmente,
dizem que o emprego não se cria por decreto. Só com crescimento económico. E se
vier mais uma pergunta, para saber o que estão dispostos a fazer para promover
o crescimento económico, aí, entopem definitivamente. Não têm qualquer solução.
Mas há soluções já provadas.
Em 2007 e 2008, entre o
rebentamento da crise subprime e a falência do Lehman Brothers, as economias
que hoje convencionalmente chamamos de emergentes, adoptaram medidas de defesa
completamente diferentes, das opções norte-americanas e europeias. Tanto na
América como na Europa, a opção foi injectar dinheiro público na banca, para
salvaguardar o sistema. Os desastrosos resultados não demoraram muito: a
indústria e as famílias começaram de imediato a sofrer as consequências, co o
crédito mais caro, as empresas a falirem a uma velocidade de vertigem e o
desemprego a crescer. Com outra agravante, as empresas falidas revelaram-se
irrecuperáveis, como irrecuperáveis se revelaram os postos de trabalho
perdidos. Podem juntar-se ainda os efeitos devastadores que isto teve nas
finanças públicas.
Em países como o Brasil, a Rússia,
a Índia e a China, agora designados de países BRIC, aque se estão a juntar a
África do Sul e Angola, a escolha foi a oposta. Os governos injectaram dinheiro
nas respectivas economias, passando pelos bancos, que nunca tiveram autorização
para a prática de juros usurários. Pelo contrário, as remunerações do crédito
foram sempre limitadas por lei. O resultado foi o rápido crescimento das
economias, com taxas superiores ou muito próximas dos dois dígitos.
Mas há novos problemas nestes
países e o futuro parece não ser um mar de rosas. No Brasil, Dilma Ruseff entendeu
que chegou a hora de acabar com o dinheiro barato para a economia produtiva e
entregou-se aos caprichos da banca. O resultado não podia ser outro. Os juroa
para o refinanciamento dispararam e a economia arrefeceu. Na Rússia, Vladimir Putin,
cedendo a pressões internacionais, também remeteu a economia para os juros do
mercado. As consequências foram desastrosas. Dos 4,3 por cento de crescimento
medidos em 2011, passou para 3,4 no ano seguinte. Para este ano, a taxa
inicialmente prevista de 2,3 já foi revista em baixa, para 1,8 embora o Governo
diga que alimenta expectativas de superar, apenas em décimas, esta previsão. Aqui,
no entanto, há idiossincrasias que distinguem a Rússia do Brasil, como a quebra
na procura energética, por parte da indústria europeia.
Uma quebra preocupante que demonstra
a imparável caminhada da indústria da Europa para o abismo. E, como ninguém
trava este estado de coisas, também ninguém consegue gerar emprego. Pelo contrário,
cria-se cada vez mais desemprego, a um ritmo incontrolável. Esta é a chave do
problema. Ou se salvam, as pessoas, ou se salva a banca desregulada e
especulativa. Não há terceira escolha.
Veja-se a proposta de
orçamento da França, para 2014. Propõe cortes estratosféricos, na despesa
pública, da ordem dos 15 mil milhões de euros. Ao mesmo tempo, prevê um crescimento
na cobrança fiscal de três mil milhões. É claramente um orçamento de retracção.
Apesar disto, nem tudo é
austeridade, na Europa. A crise da irrevogável demissão de Paulo Portas já
custou, em nuros da dívida pública, quase 15 milhões de euros. Mas nem ele
presta contas, nem a oposição lhe pede. Já não é só incompetência. É irresponsabilidade.
(*) Sérgio Borges
domingo, 29 de setembro de 2013
REALIDADES AMERICANAS
Os Estados Unidos da América (EUA) costumam
apresentar-se ao mundo como os campeões na defesa da liberdade e dos direitos
humanos e como o país com melhor qualidade de vida do planeta. A situação no
dia a dia é, no entanto, muito diferente, só que as informações são constantemente
filtradas e pouco abordadas pela comunicação social ocidental.
Tome nota de dez realidades pouco
divulgadas e chocantes para qualquer cidadão de um país com uma democracia
consolidada. De forma resumida:
1.Os EUA têm a maior população prisional
do mundo;
2.22% das crianças norte-americanas vive
abaixo do limiar da pobreza;
3.Entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou
bombardearam 149 países;
4.Os EUA são o único país da OCDE que não
oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade;
5.125 norte-americanos morrem todos os
dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde;
6.Os EUA foram fundados sobre o genocídio
de 10 milhões de nativos Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em
reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo
norte-americano;
7. Todos os imigrantes são obrigados a
jurarem não ser comunistas para poder viver nos EUA;
8. O preço médio de uma licenciatura numa
universidade pública é 80 mil dólares;
9. Os EUA são o país do mundo com mais
armas: para cada dez norte-americanos, há nove armas de fogo;
10. Há mais norte-americanos que acreditam
no Diabo do que os que acreditam em Darwin.
sábado, 28 de setembro de 2013
IRÁ ISRAEL SEGUIR O CONSELHO DE HASSAN ROUHANI?
Esta quinta-feira (26/9/2013), o
presidente do Irão, Hassan Rouhani, que falou em nome do Movimento dos Países
Não Alinhados, aconselhou Israel a assinar, “sem atraso”, o Tratado de Não
Proliferação Nuclear e disse que nenhum país deveria possuir armas atómicas.
CITAÇÕES
As estradas esburacadas, os
hospitais a fechar e os centros urbanos desertos e em degradação são o país da
troika.
O endividamento crescente,
uma estrutura produtiva cada vez mais débil e o empobrecimento tornam claro que
a dívida portuguesa é impagável.
(…)
Temos de arredar do poder um
Governo escandalosamente subserviente, um Governo que destrói emprego, o valor
do trabalho, os sistemas de educação e saúde, que nos faz regredir da cidadania
social para a caridadezinha.
A coisa está tão negra e tão
confusa, tão desesperançada, que nem o ministro da propaganda Maduro está com
força anímica para inventar mentiras eficazes.
(…)
Por que é que, dois anos
depois de duros sacrifícios, estamos pior do que à data do memorando, por que é
que nenhum objectivo do memorando foi atingido, por que é que o Governo falhou
todos os valores do défice e da dívida, porque é que o desespero é hoje maior,
a impotência mais raivosa, o espaço de manobra menor, isso ninguém nos
explicará do lado do poder.
Pacheco Pereira, Público (sem
link)
A economia financeira é uma
grande máquina que transforma os direitos sociais em créditos e em dívidas.
Ana Benavente, Público (mais aqui)
Nuno Crato é contorcionista. A
trapalhada em torno das aulas de inglês prova que tem uma enorme aptidão circense.
Nicolau Santos, Expresso Economia (sem
link)
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
A CRISE, A DÍVIDA E A CULPA
Ao longo dos
últimos dias, várias personalidades públicas e jornalistas se pronunciaram
sobre o momento que actualmente vivemos em Portugal e, de uma forma mais ou
menos directa, apelaram à participação dos portugueses no acto eleitoral do
próximo domingo, no sentido de nele manifestarem o seu veemente protesto contra
as políticas terroristas de que estamos a ser vítimas. Por enquanto, as câmaras
de voto ainda não são vigiadas por qualquer meio electónico e o cidadão decide
a sua vontade sem qualquer constrangimento para além da sua consciência.
O texto
seguinte é da autoria da socióloga e militante do PS, Ana Benavente e, por isso mesmo, tem uma força especial. Nele
também está contido um apelo indirecto à necessidade de os eleitores usarem as
eleições do próximo domingo para afirmarem com determinação o seu
descontentamento. Não é um radical esquerdista que o escreve.
É urgente assinar a petição
elaborada pela Iniciativa de Auditoria Cidadã (www.auditoriacidada.info) que
exige que os serviços oficiais pagos por nós auditem a dívida pública com a
participação dos cidadãos. A IAC trabalha há muito para conhecer a dívida que
serve de pretexto para as políticas de destruição do nosso país e das nossas
vidas, mas os limites do trabalho de um grupo de voluntários não o permitem.
A crise que vivemos é uma
profunda crise sobre a concepção do mundo e das sociedades. Chegámos aqui quase
sem darmos por isso. Confiando na democracia. Chegámos aqui através de
profundas transformações que tornaram a pessoa num recurso chamado
"capital humano".
Passarmos de pessoas a
capital humano foi uma das transformações mais profundas, mais silenciosas e
mais terríveis que nos trouxe ao que hoje vivemos: à pobreza que se instala na
vida de muitos para que a riqueza cresça para alguns outros. A economia
financeira é uma grande máquina que transforma os direitos sociais em créditos
ou em dívidas. Não se luta por aumentos salariais, pede-se um crédito ao
consumo. Não há direito à reforma, paga-se um seguro. Assim, a lógica actual é
a da transformação de um direito individual num crédito individual.
Enquanto os direitos sociais
são uma conquista colectiva da luta dos trabalhadores, hoje o endividamento
está presente, individualmente, desde que se nasce e até depois da morte.
Trata-se de uma nova forma de controlo social.
E não nos venham com
conversas pornográficas invocando que os nossos avós eram pobres, que o país é
pobre e que a emigração e a pobreza são o nosso destino. Basta de fatalismos
dos mais ricos para dominação dos mais pobres. Estamos em guerra, uma guerra
longa e cruel. Há maquinaria pesada em acção. As armas são a exploração do
trabalho e a sua precariedade, a privação de direitos e o medo.
O medo do desemprego, o medo
da doença, o medo de perder a casa, o medo da pobreza de mão estendida.
Os pobres entraram, pela
acção do Governo de direita, na nossa vida pública e no quotidiano, como se de
uma fatalidade natural se tratasse. A pobreza e a caridade que a consola. Os
mesmos caridosos não hesitam em cortar salários e pensões e em lançar milhares
de pessoas no desemprego.
O medo, manipulado como é,
corrói a acção democrática, torna as pessoas obedientes e assustadas. É isso
que os actuais poderes pretendem.
E a culpa? O que é terrível
na culpa é que ela atribui ao medo, o maior mal que existe no mundo, um enorme
direito. A culpa é subjectiva, cultural e civilizacional. A culpa sente-se. E
tem um terreno fértil no catolicismo. Mea culpa, mea maxima culpa.
Culpa de queremos uma vida melhor para os nossos filhos? Culpa por queremos
mais educação e uma vida digna?
É interessante constatar que
F. Nietzsche refere que, em alemão, uma só palavra traduz os dois conceitos,
dívida e culpa. Essa palavra é Schuld.
Aprendemos muito pouco com a
história. As grandes tragédias chegam com pezinhos de lã e com explicações
mediáticas falsas e fatalistas. Dizia um cidadão muito rico, há alguns dias,
que o rico é o que tem a política dentro da carteira. E não é?
Vivemos num país em situação
de "resgate". A palavra resgate significa (dicionário) ser
prisioneiro, refém ou vítima numa operação militar ou civil. Estamos portanto
prisioneiros. E queremos saber de quem e porquê. Os países (todos) sempre tiveram
e têm dívidas externas. O que actualmente mudou é que o capitalismo vive a fase
da absoluta rapina e que os juros sobem e descem de imediato segundo os
acontecimentos políticos em cada país. Transforma-se assim a finança num
superpoder absoluto sobre a vida dos povos, vida que procura paralisar e
dominar. A Europa dança ao mesmo ritmo. Enquanto permite que as empresas criem
sociedades fictícias e se instalem onde pagam menos impostos, impede que o
Banco Central Europeu empreste dinheiro directamente aos países, obrigando-o a
passar pelos bancos nacionais que ficam, pelo caminho, com margens imorais de
lucro.
Parece-me, e oxalá me engane,
que tanto os sindicatos como os partidos políticos de esquerda estão agarrados
a formas antigas de intervenção social. E nunca foi tão grande a distância
entre eleitores e eleitos. Somos muitos os que não nos sentimos representados
nas instituições democráticas actuais. Vivemos uma democracia formal, todos os
dias um pouco mais seca, mais pobre e menos democrática.
É bom lembrar, neste momento,
o que devemos àqueles com quem trabalhamos, com quem vivemos, aos mais novos,
aos mais velhos e a nós próprios. Perder o sentido da humanidade levou sempre a
terríveis tragédias históricas. Não o façamos nós.
"Pobre/nobre povo"
acorda do teu sono, sacode as culpas com que te querem paralisar. A realidade
cria-se e recria-se todos os dias. Nada está perdido.
A dívida consome uma parte
cada vez maior dos nossos recursos e não pára de crescer. Porque, para pagar
aos credores e fazer negócios ruinosos (BPN, por exemplo), se espolia quem
sempre contribuiu para o Estado e agora se vê sacrificado e desprezado. Porque
a verdadeira renda nacional vai para a área financeira privada. Porque o actual
Governo age contra o seu povo.
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