A
guerra civil que grassa no PS é uma luta pelo poder dentro do partido. Para o
cidadão comum, todas as malfeitorias levadas a cabo desde 2011 pela maioria de
direita, tiveram uma fraca oposição pela parte dos “socialistas”. Foram as
forças políticas à esquerda do PS, sindicatos e organizações sociais que, de
facto, conseguiram mobilizar a contestação à criminosa austeridade com que o
Governo resolveu castigar a esmagadora maioria dos portugueses. Pela parte do
PS e da sua insegura liderança, quase não se deu pela sua existência. Sem tomar
qualquer compromisso com o povo português, Seguro foi esperando que o poder lhe
caísse nos braços por obra e graça do apodrecimento do Governo. As fracas
vitórias que foi obtendo, não satisfizeram os barões do partido que resolveram empurrar
Costa para a luta pela liderança.
Não
se sabe como tudo vai acabar mas, se este conquistar o partido, nada nos
garante que se verifique uma alteração significativa na linha política seguida
até agora. Mudar de líder para que tudo continue na mesma é tudo o que os
portugueses não querem. A verdade é que, até agora, António Costa não produziu
nenhum compromisso que nos trouxesse qualquer boa nova. É por isso que as
perguntas formuladas por Ana Benavente (ex-deputada do PS e Secretária de
Estado da Educação de 1995 a 2006) no artigo de opinião que hoje assina no
Público têm todo o cabimento.
1.Vivemos
três anos em que políticos ao serviço do capital financeiro trouxeram de volta
a pobreza e a destruição do Estado Social. Vivemos anos em que mergulhámos na
crise mundial e europeia, pretexto para um brutal retrocesso democrático e de
bem-estar social no nosso país.
Vivemos
tempos em que o governo de direita faz abertamente chantagem com o Tribunal
Constitucional – e o refém é o povo. Vivemos numa Europa cheia de ameaças
nacionalistas, de guerras e de imigrantes clandestinos. São tempos de interrogações
sobre alternativas para sociedades mais justas e solidárias, para refundar a
Europa e refundar as democracias.
2.
E que faz o PS? Depois de uma fraca oposição ao governo, começa uma luta
interna, um folhetim com muitos episódios, que vai durar todo o verão.
Para
deleite dos media e sem responder às perguntas
dos portugueses.
Onde
está a Internacional Socialista? Qual o seu papel na Europa de velhas e de
novas guerras? E os Partidos Socialistas? Reuniram para analisar os resultados
das eleições europeias que deram voz a múltiplas direitas? Por que razão só
agora, diante de uma competição pela liderança, o PS acorda para a sua abertura
aos cidadãos? Se o tivesse feito há três anos atrás, talvez a nossa realidade
fosse diferente. Mas não o fez. Só agora desperta, fora de horas. Não é em
tempo de incêndios que se preparam as estratégias de prevenção. Aliás, estes
parecem fazer, inevitavelmente, parte da nossa paisagem, tão regulares como a
época balnear, sempre, todos os anos, como se de um fenómeno natural e fatal se
tratasse, sem que, fora da época de calor, se encontrem soluções para o que tem
que ser a excepção e não a regra, os incêndios. Uma boa imagem para a abertura
dos partidos à sociedade.
3.Os
partidos avançam, à direita com um massacre mediático de pálidas mas perigosas
figuras, a começar por ex-secretários geral e por deputados que não sabemos
quem são mas não hesitam em ditar os nossos destinos e a ameaçar tudo e todos
que se lhes oponham. A economia não arranca, agitam mais um aumento de impostos.
Num aparente desconcerto entre ministros, vão-nos puxando para o passado.
Quanto
ao PS, há questões que gostaria de ver respondidas:
–
Se muitas pessoas não hesitam, com demasiada frequência, em duvidar da
“política” e dos “políticos”, acham que estão a agir bem, face às
responsabilidades de um partido socialista para com todos os portugueses?
–
Que se propõem fazer quanto à reestruturação da dívida? Vão continuar a sangrar
o país e os cidadãos para pagar nas condições impostas pelos credores? Isto é
política, muito mais do que economia.
–
Que posição assumem na Europa quanto ao Tratado Orçamental que justifica as
medidas de cortes sistemáticos e de asfixia individual e colectiva?
–
Enterraram definitivamente a “economia do conhecimento” com a emigração massiva
de jovens qualificados? Como se propõem orientar o desenvolvimento sustentado
do país?
–
Que políticas europeias defendem e concertam para maior justiça social e mais
democracia?
Também
daí sopram maus ventos e o PS nada nos diz.
4.Sim,
sei quem ganhou as marchas de Lisboa e dos jogos de Portugal no mundial. Sim,
sei que foi abatido um helicóptero na Ucrânia, que todos os dias dão às costas
europeias corpos de náufragos clandestinos. Sei que islamistas marcham sobre
Bagdad e que o filho rei substitui o pai rei em Espanha.
Só
não sei o que propõe o Partido Socialista para Portugal e para a Europa.
“Mudança” quer dizer tudo e não quer dizer nada. Que aprenderam? Lições de
moral do livro da quarta classe? Não sabem que os valores fazem parte das práticas
sociais, não são um produto que se compre e se venda separado da acção?
Talvez saibam, mas eu,
ouvindo o PS, não sei. É por convite. Para dentro, como se o país fosse um
cenário. Não somos figurantes. Que aprenderam? Que aprendemos nós?
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