(…)
No
conflito entre potências, esses dirigentes têm perdido sempre, o que não impediu
Moscovo de ter favorecido Trump.
(…)
Em
2018 Trump rompeu o acordo com o Irão, sob protesto dos outros signatários, o
Reino Unido, a Alemanha e a França.
(…)
[Trump
aplicou] a retirada do irão do Swift, o sistema mundial de pagamentos
interbancários.
(…)
E
ameaçou as empresas europeias de lhes aplicar a mesma sansão se mantivesse negócios
no Irão.
(…)
A
União [Europeia] criou mesmo uma agência financeira para fazer os pagamentos em
euros fora da alçada da Casa Branca e do Swift.
(…)
Só que
o Swift tem um servidor com os mesmos dados nos EUA, que a Casa Branca usa para
identificar as transações de empresas e cidadãos europeus, ao abrigo da sua lei
de exceção.
(…)
O
Governo norte-americano não pode, em função da sua agenda, impor restrições a
transações legais europeias.
(…)
O
governo alemão começou por se opor ao uso do Swift como arma de guerra, coo se
tinha oposto no caso do Irão.
(…)
Cedeu
e ficou estabelecida a nova regra. É um triunfo esmagador para Washington,
capturou o Swift.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Vladimir Putin é um jogador em plena guerra ideológica e, curiosamente,
até tem inflectido nos últimos meses: radicalizou-se.
(…)
O líder russo extremou posições sobre a
independência da Ucrânia, concretizando-a numa guerra
(…)
Desde que rebentou o conflito armado, não
há uma vírgula que inflicta no discurso oficial do Kremlin.
(…)
"Desnazificação" da Ucrânia
como se a extrema-direita não estivesse representada na Duma russa.
(…)
A extrema-direita sairá reforçada, tanto
na Rússia como na Ucrânia.
(…)
Mais velada, a aparente razão da
escalada: a aproximação da Ucrânia à NATO tem passado para segundo plano nas
linhas de controvérsia.
(…)
[Putin] pretende agora decapitar o poder
ucraniano de forma a permitir a colocação de um novo fantoche russo, servil e
conveniente.
(…)
Putin reforçou todos os laços ideológicos
com esta visão [expansionista], com o apoio da oligarquia russa.
(…)
O reforço militar e a aposta na escalada
da guerra dificilmente farão a diferença.
(…)
[Confia-se], sobretudo, na
resistência da sociedade civil do país.
(…)
Após décadas em que andámos a dormir com
o inimigo, pode ser o deslaçar interno que o venha a acordar.
A guerra no mundo ocidental e a provocação da violência têm
provocado ondas de solidariedade internacional.
(…)
Perguntamo-nos,
então, porque não foi e não é estendida a mesma solidariedade a todas as vítimas de
guerra, às que morrem no Mediterrâneo, as que são impedidas de encontrar
refúgio em solo europeu, as que sofreram as guerras pelo petróleo, pelos
interesses económicos das elite.
(…)
Têm-se
encontrado tonalidades deste discurso [de solidariedade] pelos meios de
comunicação ocidental, distinguindo estes refugiados [ucranianos] de outros
vindos do Médio Oriente, de países africanos, por exemplo.
(…)
Qualquer
pessoa num contexto de guerra que não se pareça com essa idealização ocidental
percebe que a mesma solidariedade não se aplica.
(…)
Vários relatos têm
vindo à tona sobre a discriminação por parte das Forças Armadas do país
e da Polónia, para onde grande parte dos refugiados da guerra contra a Rússia
está a fugir.
(…)
É
profundamente lamentável que, quando deparadas com esta situação, percebamos
que temos somente a sorte de não nos encontrarmos naquele contexto.
(…)
Percebemos neste choque em situações tão drásticas o problema
de não reconhecer o racismo como um sistema de opressão.
(…)
A
recusa em abrir este debate [sobre a história do
colonialismo, da violência, que é o legado carregado por todos os
afro-descendentes] de forma séria, comprometida, impede que haja
qualquer política, qualquer programa de redistribuição social e económica que
tenha como critério a desigualdade étnico-racial.
(…)
[A Europa] prescreve sentenças de morte para as pessoas das
comunidades que pilhou e explorou historicamente.
(…)
Quando
disseram “primeiro, os nossos”, seremos os e as primeiras a dizer que não pode
haver justiça enquanto não houver igualdade.
Andreia Galvão, “Público” (sem link)
[Em
2003] 22 oligarcas controlavam cerca de 40% do
emprego e das vendas das empresas analisadas [pelos economistas Serguei Guriev
e Andrei Rachinski]
(…)
Os dez
maiores detinham 60% das empresas cotadas em 2003. Dezanove deles apareciam na
lista dos mais ricos da Forbes
em 2004.
(…)
Os autores explicam que a maioria da população russa
considera esta concentração excessiva de propriedade ilegítima.
(…)
A excessiva concentração de riqueza não mudou desde então.
(…)
A
lista da Forbes era
então [2018] dominada pela Rússia, com 100 bilionários, que detinham 25 e 40%
da riqueza do país.
(…)
Muitas destas fortunas nasceram [a partir] de um esquema de
corrupção no coração do programa de privatizações de Ieltsin.
(…)
A fortuna dos privados resultou de uma transferência de
património público.
(…)
Piketty
e co-autores estimam que metade do património russo está investido no
estrangeiro, num total de 800 mil milhões de dólares, dos quais mais de 400 mil
milhões pertencem aos 100 bilionários da Forbes.
(…)
Uma parte substancial deste dinheiro está em offshores, mas muito está na Europa.
(…)
Não é só com o dinheiro sujo de Abramovich que Portugal tem
uma relação carinhosa.
(…)
O
ministro também foi esquivo sobre os “vistos gold”,
que foram, junto com os de Malta e Chipre, censurados pela Comissão Europeia
(CE) em 2019.
(…)
Não é feita diligência que permita determinar se o dinheiro
vem de atividades criminosas.
(…)
Mas bom mesmo era ir ver quem são os 431 [russos] que detêm os
[vistos gold].
(…)
Viciadas
no dinheiro sujo e nos privilégios por ele pagos, as nossas democracias
tornaram-se cúmplices do saque organizado pelos oligarcas russos ao povo do seu
país e da infame máquina de guerra que Putin montou à custa dele.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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