(…)
Como explica um estudo do Banco de Portugal
sobre os efeitos redistributivos dos impostos sobre o rendimento, publicado em
dezembro, o atual IRS é “um instrumento privilegiado para reduzir a
desigualdade”.
(…)
A AD usou a suposta tentativa de conter a
emigração de jovens para criar dois regimes em Portugal. Um para os mais
jovens, outro para os mais velhos.
(…)
É tão iníquo um sistema que dá borlas fiscais a
estrangeiros como um que permite a quem ganha mais de 6000 euros pagar a mesma
taxa de IRS que ‘idosos’ de 36 ou 40 anos que ganhem 1200 euros.
(…)
E nada fará para impedir a emigração, que tem
tudo a ver com condições laborais e salariais, ambiente nas empresas ou
perspetivas de carreira, e muito pouco com impostos.
(…)
[Usar dados públicos errados] foi aproveitado
para tornar indiscutível a necessidade de descer os impostos aos jovens.
(…)
Tivemos, na realidade, mais 46 mil postos de
trabalho ocupados por licenciados e não menos 69 mil, como se dissera.
(…)
Há é mais licenciados do que as nossas empresas
conseguem absorver.
(…)
Mas foi um pretexto para o Governo (…) fazer,
quase sem debate, a mais violenta transformação do nosso IRS.
(…)
Se um jovem receber 1000 euros, que é o
rendimento de dois terços das pessoas da sua geração, poupa apenas 420 euros
anuais a partir do quinto ano.
(…)
Quem ganha 6000 mil euros poupa quase 14 mil
euros.
(…)
Quem recebe mais de 10 mil euros por mês ficará
com mais 19 mil euros anuais no bolso.
(…)
[A “borla” da AD beneficia de forma muito mais
rápida quem mais ganha.
(…)
Vai-se exigir um esforço de mil milhões de
euros ao país para ajudar, de forma desproporcional, os jovens mais ricos?
(…)
A conta será paga, em perda de serviços, pela
imensa legião que ganha pouco mais de mil euros.
(…)
Isto é só o balão de ensaio para rebentar com a
progressividade do IRS, cavando ainda mais o fosso das desigualdades
(…)
A proposta de Montenegro é inspirada na taxa
plana da IL e do Chega e está a léguas da visão redistributiva defendida
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Temos muita pobreza porque não conseguimos
criar riqueza, ou porque é profunda a desigualdade na sua distribuição? Talvez
pela convergência das duas causas.
(…)
No espaço de uma semana tivemos a evocação dos
50 anos da criação do salário mínimo nacional, que se foi transformando no
salário nacional.
(…)
O valor médio dos salários devia estar 20%
acima do valor que tem hoje, com a produção de riqueza existente.
(…)
Não há efetiva negociação coletiva e os
sindicatos estão muito fragilizados.
(…)
Os acordos de Concertação Social instituíram um
rol de sacrifícios aos trabalhadores (e benesses às empresas), para “garantir
competitividade”, sem que os trabalhadores beneficiem dos ganhos de
produtividade.
(…)
O aumento dos salários não é substituível por
medidas fiscais pontuais.
(…)
[Quanto ao IRC] o objetivo primeiro da
proposta é desonerar os poucos que lucram muito.
(…)
[Quanto ao Banco Alimentar] é a expressão maior
da cultura da esmola em substituição da cidadania social plena.
(…)
Os nossos governantes (e não só) deviam
envergonhar-se: as centenas de milhares de famílias que recorrem a apoios do
Banco Alimentar.
(…)
A valorização dos salários é imprescindível.
Devemos envergonhar-nos por condescendermos com a pobreza.
A derrota desta esquerda [PCP e Bloco] na
Madeira tem uma leitura regional, mas não podemos ignorar que se enquadra numa
tendência maior.
(…)
O país virou à direita nas últimas eleições. O
PS caiu a pique.
(…)
Na última fase da governação socialista, Bloco
e PCP foram oposição.
(…)
[Houve] alguma competição entre ambos no
posicionamento enquanto oposição.
(…)
Bloco e PCP fizeram oposição, mas o espaço de
oposição já estava sobrelotado. Era muito difícil destacarem-se.
(…)
Reparem
que o país estava dividido entre quem tinha votado PS e quem queria forças
políticas de direita a governar. Bloco e PCP tentaram combater as duas frentes
e era uma missão muito árdua.
(…)
Poderão ter mais relevância os fenómenos que se
passam ao nível do próprio eleitorado, cada vez mais liberal e individualista.
(…)
O
contributo destes partidos [Bloco e PCP] para a democracia portuguesa é
inestimável. Quem é de esquerda está ao lado dos trabalhadores na luta que
travam pelos seus direitos.
(…)
Se estes partidos enfraquecerem, assistiremos à
tomada das lutas das classes profissionais pela extrema-direita.
(…)
Combater o fascismo não é um exercício de
argumentos e retórica. É nas ruas que o combate é feito.
(…)
São o
Bloco e o PCP, e a sua influência nos sindicatos e nos movimentos dos
trabalhadores, que ainda seguram o avanço do Chega.
(…)
Estamos outra vez em vésperas de eleições. A
esquerda tem bons candidatos.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
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