segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

GERAÇÃO AFLITA

Segundo o insuspeito Instituto Nacional de Estatística há quase 100 mil jovens, até aos 25 anos, desempregados. Mas isto, pelo que se vê, não diz nada aos fazedores de opinião do regime. A alguns só falta dizer que não tem trabalho quem não quer, tantas são as formas de insultarem os jovens cuja situação é devida, pelo menos em parte, à geração dos que agora se encontram no poder. Na verdade, é esta a realidade.
Se escutarmos com atenção os anseios da “geração quinhentos euros”, podemos facilmente constatar que eles se sentem muito mal não só com sua situação imediata como com a falta de perspectivas de futuro. É de elementar bom senso que os nossos governantes prestem atenção a esta gente, muitos deles com sólida formação académica, que conhecem a realidade e não se deixam embalar pela máquina de propaganda socrática. A falta de esperança no futuro, de toda uma geração, pode constituir um barril de pólvora social, de consequências imprevisíveis, apesar da conhecida complacência dos portugueses.
No seguinte texto (Expresso de ontem), Daniel Oliveira critica, e bem, aqueles que quase ridicularizam os jovens pela precária situação de vida a que muitos chegaram.

BRIGADA DO REUMÁTICO
“É assim que António Ribeiro Ferreira caracteriza os jovens precários: “A tal geração dos parvos que, coitados, se fartam de queimar os neurónios nos bancos das escolas, passam o ano com faltas e sem exames, têm cursos da treta suportados pelos contribuintes e, ainda por cima, são uns escravos que vivem em casa dos papás”. Vicente Jorge Silva, padrinho da “geração rasca”, recordou que também é precário e tratou do sermão: “A preservação da liberdade paga-se com a precariedade”. Já para Pacheco Pereira, “as reivindicações dos ‘precários’ são no fundo exigências de entrada na função pública”. Para Ribeiro Ferreira viver em casa dos pais até aos 30 é um privilégio. Para Vicente Jorge Silva deve ser sinal de liberdade. E para Pacheco Pereira há uma geração de potenciais boys.
A guerra entre novos e velhos diz-me pouco. Os pais da ‘geração quinhentos euros’ sabem que não há liberdade nenhuma na vida dos seus filhos. Que não há liberdade num call center ou numa empresa de trabalho temporário. Que não há liberdade na independência adiada à espera de um emprego que dure pelo menos um ou dois anos, num salário que não chega para pagar uma renda de casa, na precariedade que transforma a decisão de procriar numa irresponsabilidade. Não é uma geração inteira que não sabe em que país vive. É a elite dessa geração. Ribeiro Ferreira até acha que os cursos de hoje são ‘da treta’, quando não há dado que não confirme que o ensino superior actual é bem melhor que o do seu tempo. Vicente Jorge Silva até acha que a sua precariedade é comparável à de quem, tendo mais qualificações do que ele (e do que eu), recebe 500 euros por um trabalho estupidificante. E Pacheco Pereira espera dos jovens “menos prosápia”, “menos revolta” e mais “esforço”.
O que impressiona não é a arrogância instalada. É a leveza que leva esta gente, que faz opinião, a nunca viver para lá do seu próprio umbigo. E o que assusta é que esta elite, quase toda da mesma geração, que decide o nosso futuro. Se não sabem dos problemas como podem acertar nas soluções?”


Luís Moleiro

Sem comentários:

Enviar um comentário