quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ZECA ACTUAL (1)

Passaram ontem 24 anos sobre o falecimento de José Afonso. Curiosamente, muitos dos poemas de intervenção por ele escritos durante a ditadura continuam completamente actuais.
Os vampiros aí estão de novo, agora com roupagens democráticas quais lobos com pele de cordeiro. Este disfarce torna-os ainda mais perigosos que antes.
A propaganda do regime vai-se encarregando de nos convencer da inevitabilidade do cumprimento das regras por eles definidas. Os lampejos de esperança em mais justiça social que o 25 de Abril de 1974 nos trouxe, há muito que se esfumaram. Agora é a ideologia neoliberal e os seus braços armados como o mercado e o capital financeiro que ditam como se devem processar as nossas vidas em todas as suas vertentes.
Tudo vira negócio privado: a educação, a saúde, a segurança social, a distribuição de água e electricidade, o saneamento básico, etc, com o evidente prejuízo dos que têm menos posses.
Quem contesta esta ideologia, mesmo de forma moderada, é, no mínimo, apelidado de radical e extremista, enfim, um elemento perigoso para a sociedade.
No fundo, a democracia está a desaparecer. O pensamento está formatado e já começou a sentir-se receio de exprimir publicamente, ideias contrárias às do regime. As razões não são as mesmas do tempo em que o Zeca escreveu “Os vampiros” mas a verdade é que, quem já saboreou a liberdade sente agora um evidente retrocesso. Não somos presos por delito de opinião mas podemos ver o nosso emprego em perigo por participarmos numa greve, sermos preteridos num qualquer concurso por alguém que tem cartão de um partido do regime, sentirmo-nos perseguidos no nosso local de trabalho por contestarmos o chefe ou vermos o projecto de uma casa reprovado sem razão aparente. Não há coincidências…


OS VAMPIROS
No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada

Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

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