quinta-feira, 30 de junho de 2016
PROCESSO EXTRAORDINÁRIO DE RESTAURAÇÃO DE FREGUESIAS: INTERVENÇÃO DO DEPUTADO JOÃO VASCONCELOS
De salientar que esta foi a terceira intervenção do nosso camarada João Vasconcelos na apresentação do projecto do Bloco de Esquerda
FRASE DO DIA (283)
A
contestação social é, aliás, a única força que pode tirar a força do petróleo
do Parlamento e travar a exploração de combustíveis fósseis em Portugal.
CULPAS EXTERNAS DO “BREXIT”
As
primeiras reacções ao resultado do referendo britânico que ditou a saída do
Reino Unido da União Europeia viraram-se quase exclusivamente para razões de ordem
interna, as mais fáceis de evidenciar mas talvez não as únicas nem as mais
importantes. Como aqui já registámos, numa análise mais fina à forma como os britânicos
votaram, somo levados a acreditar que foram os mais pobres e os mais velhos, no
fundo os mais vulneráveis, aqueles que fizeram pender o resultado final do
referendo para o lado da “saída”. Invariavelmente verificou-se que do lado dos
eleitores mais pobres, foi maior a adesão ao “Brexit”. A Europa perdeu o apoio dos
mais fracos socialmente e estes reagiram de forma a não deixarem dúvidas.
No
seguinte artigo de opinião que transcrevemos do Público de hoje, o autor (*) é
de opinião que “muitas das razões que levaram os britânicos a votar out têm a sua origem nas desastrosas medidas
adotadas pela União Europeia”.
Entre
o caos nos mercados financeiros, a possível independência da Escócia e as
rebeliões que se avizinham nos dois principais partidos políticos britânicos, pouco
se tem falado das razões externas que levaram ao desenlace de quinta-feira. Em
particular, pouco se tem falado da culpa de Berlim e de Bruxelas em todo este
processo.
A
verdade é que muitas das razões que levaram os britânicos a votar out
têm a sua origem nas desastrosas medidas adotadas pela União Europeia, em larga
medida por pressão da Alemanha, para lidar com a crise financeira que tem vindo
a afetar a Europa (sobretudo do Sul) desde 2010. Apesar de os britânicos nunca
terem feito parte da zona euro, direta e indiretamente esta questão afetou
profundamente o debate sobre o referendo, tendo dado munições ao movimento
Leave e retirado argumentos aos que estavam a favor da manutenção do Reino
Unido na União Europeia em cinco áreas fundamentais.
Imigração. Nos últimos anos, centenas
de milhares de italianos, espanhóis, gregos, portugueses, irlandeses e
cipriotas imigraram para o Reino Unido à procura de emprego e de uma vida
melhor. Este movimento migratório deu uma visibilidade significativa aos fracassos
do projeto europeu e reforçou o argumento do descontrolo dos fluxos migratórios
para o Reino Unido. Para muitos britânicos, a União Europeia não só era incapaz
de resolver os problemas da zona euro como se recusava a inserir qualquer
mecanismo que prevenisse a chegada ilimitada de imigrantes europeus ao Reino
Unido.
Democracia. Os britânicos sempre foram
críticos da falta de legitimidade democrática da União Europeia. Nesse
contexto, casos como a demissão forçada de Silvio Berlusconi em Itália ou a
crise política grega e as consequentes chantagens feitas ao Governo grego do
Syriza, juntamente com as reuniões à porta fechada do Eurogrupo, só
"confirmaram" aquilo que os britânicos suspeitavam relativamente à
União Europeia: que se tratava de uma entidade não democrática em larga escala
ao serviço dos interesses da Alemanha.
Austeridade. Muitos dos problemas
identificados por aqueles que pretendiam a saída do Reino Unido da União
Europeia estavam ligados às políticas de austeridade dos governos de David Cameron,
que contribuíram para prolongar a recessão económica no país para lá do
necessário, cortaram subsídios fundamentais a milhões de pessoas (já de si no
limiar da pobreza) e reduziram os custos com os serviços públicos da educação
aos serviços locais. A austeridade brutal a que o Reino Unido tem sido sujeito
contribuiu para a efetiva descida do nível de vida daqueles que já estavam numa
situação frágil. A recuperação económica a que o país tem assistido nos últimos
anos atenuou alguns desses impactos, nomeadamente em termos de desemprego, mas
não a um nível necessário para colmatar a destruição provocada pelos cortes.
Indiretamente, a União Europeia ajudou à consolidação desta agenda de
austeridade, não só porque defendeu a mesma receita para os países da zona euro
como providenciou ao partido conservador britânico um dos seus principais
trunfos de campanha, tanto em 2010 como em 2015: a infindável crise grega. Esta
posição dificultou, de forma significativa, a tarefa daqueles que queriam
oferecer uma visão progressista do projeto europeu.
Conhecimento. Este foi, em boa medida, um
debate marcado por um certo anti-intelectualismo. O atual ministro da Justiça e
um dos líderes do movimento Leave, Michael Gove, chegou mesmo a dizer que o
público estava farto de peritos. Isto num contexto em que a esmagadora maioria
das instituições internacionais, economistas e líderes políticos fora e dentro
do país chamavam a atenção para os enormes riscos económicos e financeiros de
um "Brexit". Um dos argumentos mais frequentes em resposta aos avisos
constantes de uma potencial recessão económica era o de que estes tinham sido
os mesmos peritos que nos anos 1990 tinham defendido a entrada do Reino Unido
para a zona euro (e, como tal, não havia razão nenhuma para ouvir os seus argumentos).
Os sucessivos fracassos da zona euro ajudaram desta forma a reforçar o
argumento de que os peritos não são de confiança.
Seria
certamente injusto e analiticamente pouco sério reduzir a saída do Reino Unido
à crise da zona euro. Outras causas, internas, contribuíram igualmente para
isso (disputas internas do partido conservador, falta de rigor e seriedade por
parte dos media, ignorância generalizada
sobre o que é a União Europeia, nacionalismo). Mas, fundamentalmente, a União
Europeia, na forma como lidou e tem lidado com a crise do euro, passou uma
imagem negativa e sem visão de futuro, mais preocupada em punir os estados
"não cumpridores" do que em oferecer um projeto de futuro.
É
hoje consensual que David Cameron acabou por se revelar um primeiro-ministro
desastroso para o seu próprio país, sempre mais preocupado com a sua própria
sobrevivência política do que com o interesse nacional e muito menos europeu. O
seu posicionamento relativamente à União Europeia foi sempre problemático (tal
como o do líder da oposição, Jeremy Corbyn) e a sua campanha pela manutenção do
Reino Unido pouco convincente. Mas não menos convincente tem sido a gestão da
crise do euro por parte da União Europeia, alicerçada numa liderança alemã
economicamente dogmática e politicamente sem rumo. É também por culpa de
Bruxelas e de Berlim que o Reino Unido caminha para a saída da União Europeia.
(*) André Barrinha, Professor de Relações
Internacionais na Universidade de Canterbury Christ Church (Reino Unido) e
investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
quarta-feira, 29 de junho de 2016
FRASE DO DIA (282)
O histerismo com que a política nacional recebeu a
proposta do Bloco para referendar o Tratado Orçamental (como se o PS ou o PCP
não tivessem antes defendido o mesmo) é um favor que fazem aos nossos falsos
prestadores de cuidados.
FRASE DO DIA (282)
O histerismo com que a política nacional recebeu a
proposta do Bloco para referendar o Tratado Orçamental (como se o PS ou o PCP
não tivessem antes defendido o mesmo) é um favor que fazem aos nossos falsos
prestadores de cuidados.
EXISTE SOLUÇÃO PARA A ATUAL CRISE DE REFUGIADOS?
Parte1:
Parte 2:
Gilberto Rodrigues, pós-doutor pela Universidade de Notre Dame (EUA) e professor de Relações Internacionais da UFABC, discute a atual crise migratória no mundo. Para o especialista em Direito Internacional, além de entender as dinâmicas sociais e políticas da crise, é fundamental reconhecer a legitimidade das necessidades dos refugiados.
Parte 2:
Gilberto Rodrigues, pós-doutor pela Universidade de Notre Dame (EUA) e professor de Relações Internacionais da UFABC, discute a atual crise migratória no mundo. Para o especialista em Direito Internacional, além de entender as dinâmicas sociais e políticas da crise, é fundamental reconhecer a legitimidade das necessidades dos refugiados.
terça-feira, 28 de junho de 2016
FRASE DO DIA (281)
Crise após crise, esta fortaleza [UE]
cerra fileiras sobre si mesma, protege-se de qualquer forma de escrutínio
popular e tenta, das formas mais violentas, preservar a sua própria existência.
“BREXIT”: CAUSAS SOCIAIS
Ainda
que não concordemos com o resultado do referendo britânico do passado dia 23 de
Junho, a verdade é que a sua democraticidade não está de modo nenhum em causa e
há que respeitar a vontade dos eleitores ingleses (a expressão aqui tem todo o
sentido). Aliás, é este respeito pela vontade de um povo, livremente expressa,
que parece estar atravessado na garganta da UE e dos burocratas que a
constituem.
O
mais importante em situações destas é conhecer por que razão, na sua
globalidade, o povo britânico votou da forma como todos sabemos.
Curiosamente
poucos analistas políticos referem que as zonas do país que votaram em elevada
percentagem o Brexit e fizeram com que esta opção vencesse são as mais
afectadas pelas políticas sociais implementadas a mando de Bruxelas. Foram os
mais pobres, os mais velhos e os socialmente mais vulneráveis que optaram pela
saída da UE, como demonstram os resultados da votação. É evidente que esta não
será a única causa mas é seguramente uma das principais. Que lição podemos,
então, tirar daqui? É que a Europa actual e as suas instituições perderam o
apoio de uma parte significativa das populações que deveriam defender.
Neste
texto que retirámos do Público de hoje, o autor (*), insuspeito de tendências radicais,
salienta, ainda que de forma pouco desenvolvida, as causas sociais do “Brexit”.
Samora
Machel, dos muitos dirigentes políticos que conheci o que mais me impressionou
pela sua vitalidade magnética, culpava os ingleses pela maioria dos males do
Mundo: o genocídio dos índios na América e dos aborígenes na Austrália, a
criação do Estado de Israel e do problema de Chipre, a guerra de secessão da
Índia, etc. Tudo curiosamente acompanhado por uma entusiasta admiração pela
governação determinada da Dama de Ferro, Primeira-Ministra britânica na época
em que o ouvi.
Hoje
Machel veria a sua tese confirmada pelo sarilho que os ingleses (e neste caso
são mesmo os ingleses) vieram acrescentar à presente imprevisibilidade da cena
internacional, com a escolha de deixar a União Europeia. Onde porventura nunca
devessem ter entrado, talvez Churchill e De Gaulle tivessem razão.
Mas
a diferença entre esses dois grandes estadistas e a actual liderança europeia
está neste referendo: Cameron prometeu este referendo como estratagema para
“salvar a pele” numas eleições com desfecho tremido e cedeu às pretensões dos
seus adversários, em vez de defender as ideias próprias e deixar os outros
levar avante aquilo de que discordava.
Abriu
a Caixa de Pandora com o cumprimento dessa promessa, cujas consequências estão
ainda longe de ser claras. Afectará quer a Europa, quer o Reino Unido, no plano
financeiro, económico e social (pela ordem destes factores na ordem dominante
do TINA (there is no alternative).
Contudo,
à Inglaterra traz ainda problemas políticos da maior gravidade, como a secessão
da Escócia, que poderá até parecer uma questão menor ao pé da tempestade que
arrisca vir a desenhar-se na Irlanda do Norte. Ambos estes países votaram
maioritariamente pela permanência na EU. Os “brexistas “ podem acabar por
perder o país que queriam recuperar.
Mas
o que me leva hoje a alinhavar estas linhas é a pouca atenção que me parece
estar a ser concedida, nas análises anteriores e posteriores ao referendo, em
relação a uma das causas da vitória da saída: a situação social do RU.
No
rescaldo da crise de 2008 o RU aplicou, com mais flexibilidade e menor fervor
ideológico que a Zona Euro, a política neoliberal dominante que, como disse o
Papa Francisco, erigiu o Dinheiro como novo Bezerro de Ouro ao qual se oferece
em sacrifício, apesar de tudo já não a vida, mas a qualidade de vida dos
cidadãos, (sim, bem sei, no caso britânico súbditos).
Se,
no plano dos indicadores macro-económicos, essa política produziu alguns
resultados, criou, na “Inglaterra profunda”, diversa da Londres cosmopolita,
entre a classe média baixa, sobretudo entre o que nos outros tempos se
designava como operariado, um também profundo sentimento de angústia,
vulnerabilidade e insegurança, face à persistente imobilidade dos salários e
consequente redução do poder de compra, ao aumento do emprego precário e
parcial, à ameaça ao Estado Social e ao aumento da desigualdade, de que Reino
Unido tem um dos mais altos índices da Europa. Não foi por acaso que o próprio
Osborne, um dos possíveis sucessores de Cameron, afirmou, no processo de
adopção do orçamento britânico, que o aumento de salários tinha de ser a
prioridade do próximo orçamento.
Como
sempre neste tipo de situações, além da União servir de bode expiatório,
desencadeiam-se sentimentos proteccionistas e xenófobos. Que se tenha dado
pouca atenção a este fenómeno denota a meu ver o papel diminuto que hoje se
atribui na economia (esta que mata, para voltar a citar Francisco) ao factor
trabalho.
É
essa angústia que levou o eleitorado trabalhista tradicional, aterrado pela
imigração, a votar “Brexit”, em oposição à orientação da liderança do Partido.
E que ninguém se iluda, é essa economia que, em nome de índices abstractos e
arbitrários está a trucidar as classes médias, quem alimenta os movimentos
extremistas e antieuropeus dos dois bordos, que vão despertando na Europa os
fantasmas da primeira metade do século XX.
Tiro
no Arquiduque?
(*) Fernando D’Oliveira Neves, Embaixador reformado
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