segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A QUESTÃO PALESTINIANA ESTÁ BEM VIVA



De tempos a tempo, temos a possibilidade de ler no Público um artigo de opinião do Embaixador da Palestina, Hikmat Ajjuri, onde, naturalmente, o diplomata defende as causas do seu povo.
No texto publicado este sábado, AJJuri refere um pedaço da história do século XX que levou à criação de Israel, à custa dos territórios usurpados à Palestina. Muita gente deve desconhecer, pelo menos em parte, estes acontecimentos pelo que é de elementar justiça para com os palestinianos a sua divulgação.
A questão palestiniana é uma ferida aberta a nível mundial que continua a sangrar como na primeira hora em que foi aberta sem que os principais responsáveis pela sua existência dêem o mais pequeno passo para a cicatrizar. Como muito bem se sabe, e aqui está suficientemente explícito, o povo palestiniano, através dos seus representantes, não pode fazer mais cedências ao ocupante de uma terra que lhe pertence, sob pena de, na sua totalidade, passar a ser estrangeiro no seu próprio país.  
O Direito Internacional e o Direito Internacional Humanitário são regulamentos que nasceram do ventre dos valores humanos para proteger a humanidade e a infraestrutura humana. A democracia e os Direitos Humanos são, naturalmente, as ferramentas utilizadas para fazer cumprir estes regulamentos. A menos que estas ferramentas sejam mantidas sãs e salvas, a lei da selva prevalecerá.
O terrorismo, que está a atingir todos os lugares nos dias de hoje, é o culminar da nossa incapacidade em manter as ferramentas de implementação dos tais regulamentos.
Esta falha manifesta-se todos os dias de diferentes formas. Mas a mais vergonhosa de todas é aquela que se manifesta através da manutenção de uma democracia interna, enquanto externamente se mantém uma aliança com ditadores e opressores, como é o caso de Israel - um poder ocupante.
Há 99 anos atrás, a 2 de Novembro, James Balfour, o então ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, prometeu aos sionistas, em nome do seu governo, criar um lar nacional para os judeus na Palestina. Até à criação de Israel, em 1948, esta promessa ilegal, também conhecida como a Declaração de Balfour, incentivou a emigração de judeus de uma atmosfera antissemita na Europa para o que, consequentemente, se tornou uma atmosfera de apartheid em Israel.
A promessa de Balfour foi materializada, à custa dos habitantes indígenas da Palestina, através de uma resolução, também ela ilegal, da Organização das Nações Unidas. Materialização essa que se concretizou quando, em Novembro de 1947, esta Organização aprovou a sua resolução número 181 de partilha da Palestina Histórica. Na verdade, esta resolução foi a primeira violação da Carta das Nações Unidas, onde se proíbe a atribuição de qualquer território, a menos que antes exista um acordo entre os povos indígenas. Já para não falar que a organização atribuiu 56% das terras a 30% da população, cuja esmagadora maioria eram imigrantes que tinham fugido da Europa.
Em 1918-1919 uma delegação do Congresso norte-americano, aconselhou a não implementação da Declaração de Balfour, pois era algo que seria impossível concretizar sem a utilização de força esmagadora contra a população indígena.
Os norte-americanos estavam certos e os resultados da sua implementação, em 1948, foram uma catástrofe. 800 mil pessoas da população palestiniana indígena foram expulsas à força, cerca de 500 das suas vilas e aldeias foram apagadas do mapa, além dos milhares de mortos e feridos que resultaram das mãos dos gangues sionistas.
Após esta catástrofe (Nakba), Israel declarou-se como um Estado em 78% da Palestina Histórica, 22% a mais do que lhe tinha sido atribuído pela ONU. Como consequência, Israel transformou-se num Estado de apartheid e numa fonte constante de conflito e violência até ao presente.
Apesar desta injustiça histórica infligida aos palestinianos, estes reconheceram, em 1988, o direito de Israel existir em 78% da Palestina Histórica. Reconhecimento este que foi endossado por todos os estados da Comunidade Internacional, excepto por Israel, o poder ocupante.
Este comportamento irresponsável e arrogante de Israel acrescido às suas práticas selvagens na terra, contra o povo palestiniano sob ocupação, é um desafio absoluto ao Direito Internacional, e é algo que tem contribuído bastante para inflamar o actual terror em todo o mundo. Esta ligação ao terror foi afirmada por muitos líderes mundiais, incluindo presidentes norte-americanos.
Por fim, o mínimo que os palestinianos esperam da Grã-Bretanha – o país do Mandato e o farol dos Direitos Humanos e da democracia – em troca da injustiça infligida sobre eles ao longo dos últimos 99 anos, é que sejam corrigidos alguns dos danos causados ??pelo seu ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, através do reconhecimento pleno do Estado da Palestina, lado a lado com o Estado de Israel.
Ao fazer isto, a Grã-Bretanha, não só irá encorajar outros países a seguir o seu exemplo, como também contribuirá tremendamente para secar muitos dos recursos do terror, que estão a matar pessoas inocentes por todo o lado, supostamente em nome da justiça.

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