quarta-feira, 30 de agosto de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (66)

 

Temos grandes tristezas, mas também enormes alegrias com o desporto. E algumas lições. 

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É bonito que a cooperação seja capaz de nos emocionar. Ela está sempre lá, implícita.

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Há um imenso trabalho de equipa para se chegar a um campeonato mundial ou a uns Jogos Olímpicos.

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Mas é quando a partilha emerge inesperadamente, em momentos produzidos para a mais vigorosa competição, que ela nos toca. 

José Soeiro, “Expresso” online

 

Os detalhes do beijo imposto pelo presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, a uma das recém-campeãs do mundo, Jenni Hermoso, vão sendo escrutinados dia após dia.

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O ato beijocal era em si próprio suficientemente expressivo da cultura marialva que aquele dirigente representou.

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O dirigente tentou safar-se na presunção de que os factos ficariam enevoados pela palavra contra palavra. 

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Ora, o facto de ter escolhido para esta confrontação a própria palavra “feminismo”, (…), dá em qualquer caso uma indicação sobre um dos grandes debates sociais em Espanha.

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Sempre houve, em instituições de poder, seja em empresas, no cinema, no desporto, em igrejas ou noutros lugares de dominação, uma cultura de imposição masculina.

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E, mesmo que tais leis e sentenças tenham sido derrogadas ou esbatidas, essa cultura marcou traços identitários de gerações e sociedades - nisso, nada de novo.

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O que, em contrapartida, é verdadeiramente novo é que essa cultura da violência de género passou a ter um enunciado político, passou a ser um explicitado do combate eleitoral.

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Isso já tinha acontecido nos Estados Unidos, com Trump.

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[Trump] deverá ter sido o primeiro a gabar-se e a mostrar a prosápia machista em público para conseguir ganhos eleitorais. 

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[Em Espanha] essa subcultura de gangue encontrou o seu partido [na extrema-direita], que a expandiu, tornando-a uma bandeira.

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Dizia um porta-voz do Vox, nas vésperas das eleições do mês passado, que o reconhecimento da violência de género é um “conceito ideológico” e, portanto, seria imperativo revogar a lei que a pune.

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O que a lei reconhece é que há uma forma de poder que vulnerabiliza uma parte da sociedade e que, por isso, a deve proteger dos abusos.

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Entretanto, ao escolher este terreno para mover o seu exército, a extrema-direita incentivou os pequenos ditadores, como neste caso no desporto.

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Ao contrário, em Portugal a extrema-direita até hoje temeu fazer das mulheres o alvo principal da sua política e preferiu atacar os ciganos e pobres, onde antevia mais ganhos de popularidade.

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Haverá guerra sobre a construção ou destruição da igualdade entre homens e mulheres. Quanta guerra? 

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Cada vez mais, é a civilização que se disputa, a bufonaria trumpista é o novo modo de ser da direita.

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A extrema-direita procura apoiar-se em medos, o dos homens que estavam habituados a berrar em casa ou a bater na mulher.

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Se nas relações humanas há sempre formas de poder, a sedução deve ser um esbatimento dessas linhas em que nos instalamos. 

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A dominação, pelo contrário, é uma barreira; e é dela, e também do seu medo, que a extrema-direita quer fazer em Espanha o medo dos medos.

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Contra o abuso, uma sociedade de respeito deve falar com esse medo e deve saber transformá-lo em formas de encontro, de encantamentos consentidos e sentidos, de vidas comuns.

Francisco Louçã, “Expresso” online (sem link)


Num agosto quente, com recordes de temperatura por toda a Europa, em plena época de incêndios, num ano de seca (como começam a ser quase todos), continuamos a cultivar a ilusão de que está tudo bem e que as alterações climáticas só afetarão os nossos trisnetos.

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A proteção do ambiente é, hoje, um dos mais eficazes pretextos para comprar e estamos permanentemente a alimentar paradoxos, tentando optar por escolhas de “consumo sustentável” (o que por si só já é uma contradição nos termos).

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Para aproveitar a onda, toda a empresa, autarquia, festival e congresso passou a oferecer bolsas de pano com logótipo, numa avalancha de desperdício têxtil que faz com tenhamos dezenas de shoper bags em casa.

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A lista podia continuar, mas ainda mais preocupante do que isso é quando esta mesma lógica chega à gestão do território e às políticas locais. 

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Dizem os pragmáticos que “a política é a arte do possível” e sei que o equilíbrio entre economia e bem comum tende a pender para os interesses.

Capicua, JN


[Não há políticas coerentes que] garantam que o dinheiro que o país despende com a formação dos seus jovens reverta a favor de melhores condições de vida para todos.

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Não surpreende uma notícia recente segundo a qual, num só ano, Portugal perdeu 128 mil trabalhadores com ensino superior.

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Trata-se de uma emigração em massa de quadros a quem oferecemos salários baixíssimos.

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No ano corrente, o orçamento dos dois ministérios que tutelam o ensino ultrapassa largamente os 10 mil milhões de euros.

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Acha normal que o nosso marasmo político financie o desenvolvimento dos outros países à custa do nosso retrocesso?

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84,1% das provas reavaliadas [no quadro da 1.ª fase dos últimos exames nacionais] foram consideradas mal classificadas pelo Ministério da Educação.

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[Trata-se de] mais uma de constatações idênticas verificadas ao longo dos últimos anos, em que uma percentagem relevante de pedidos de revisão dos exames do secundário termina com a subida das classificações inicialmente atribuídas.

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Como fica a confiança da sociedade relativamente ao processo?

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A mesma arrogância e obstinação estão na origem da recusa em recuperar os seis anos, seis meses e 23 dias cumpridos pelos professores em período de congelamento.

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Os fundamentos que permitem afirmar que o decreto-lei agora promulgado pelo Presidente da República gera novas injustiças e desigualdades dentro da classe e deixa sem resposta as vertentes mais contestadas de toda a situação.

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Permanece a discriminação dos professores relativamente à restante administração pública e, particularmente, aos que ensinam na Madeira e nos Açores.

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São muitas e de proveniências insuspeitas as demonstrações de que o argumento financeiro é falso.

Santana Castilho, “Público” (sem link)


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