(…)
Um novo governo com outro protagonista indigitado
pelo Presidente teria necessariamente uma legitimidade reduzida
(…)
As suspeitas sobre os projetos de exploração do
lítio em Boticas e em Montalegre, de produção de energia através de hidrogénio
e do centro de dados em Sines não são inteiramente novas.
(…)
A crítica a estes projetos e à arrogância com que
protagonistas políticos como João Galamba os conduziram não são de hoje e são
perfeitamente justas.
(…)
Ainda não se sabe verdadeiramente a solidez e o
conteúdo concreto das suspeitas que recaem sobre António Costa.
(…)
A Procuradoria tem não apenas a faculdade legal
de dar esse esclarecimento, mas a responsabilidade de fazê-lo.
(…)
O Ministério Público tem de ser uma garantia da
democracia e do Estado de Direito e não pode ser um agente de fragilização de
uma ou de outro.
(…)
Não é sustentável democraticamente que possam
permanecer suspeitas desta natureza sobre um chefe de Governo demissionário.
(…)
As maiorias absolutas foram todas, sem exceção,
vulneráveis a negócios duvidosos, à displicência no exercício do poder, à
tentação autoritária no modo de lidar com as reivindicações sociais, à
desconsideração pela fiscalização parlamentar.
(…)
Se uma crise é situação de perigo e oportunidade,
que a atual possa servir para que se encontrem soluções e um novo tempo
político, legitimado pelo voto popular.
(…)
A esquerda deve ser portadora de soluções e de
uma alternativa.
(…)
Num momento complexo, cultivemos a maturidade e a
exigência democráticas, a clareza de projetos e a imaginação para saídas
políticas novas.
José Soeiro, “Expresso” online
Não sei se as atribulações do Presidente na
vertigem deste fim de semana marcam um ponto de viragem na perceção pública do
seu mandato, que se queria consensual.
(…)
Alguns dizem que sim.
(…)
A exibição de uma conversa casual perante as
câmaras de televisão para uma reprimenda a um representante diplomático
(…) [mostra que o Presidente] nunca mediu os seus atos por outra bitola que não
fosse a confiança no seu carisma e não a coerência do seu discurso.
(…)
Estivesse o embaixador de Israel presente,
dir-lhe-ia o Presidente que a intervenção em Gaza é ilegal?
(…)
É por tudo isto importante a explicação que
Marcelo deu a posteriori sobre o que pensa acerca desta guerra, quando
sublinhou que não pode ser aceite o conceito de “culpa coletiva”.
(…)
E é agora mobilizado por um Estado
militarizado, chefiado por um dos mais perigosos políticos da região, Netanyahu.
(…)
Um ministro de Netanyahu propôs uma bomba
nuclear para acabar com o povo de Gaza e parece que foi suspenso, o que quer
que isso queira dizer.
(…)
Mas, se é tão grave este conceito, porque é o
Presidente usou a expressão que impõe a “culpa coletiva”: “vocês é que
começaram”?
(…)
Que isto não “começou” agora, já Guterres o
disse, para ser atacado por uma cruzada netanyahuesca, como se viu.
(…)
O problema, portanto, não foi que a frase não
tenha sido percebida. Foi que se compreendeu mesmo o que queria dizer.
(…)
As suas [do governo israelita] bombas
são punição pela “culpa coletiva” e o seu resultado é uma mortandade.
(…)
[O aliado de Van der Leyen e Blinken] faz
esta guerra para acabar com qualquer ideia de Estado Palestiniano ou de direito
humanitário naquela região.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Desde logo, não acredito que António Costa
tenha cometido algum crime como contrapartida de um qualquer benefício.
(…)
Mas nada disto tem bom aspeto. É uma clássica
barraca.
(…)
Num
país traumatizado pelo caso Sócrates, a sucessão de episódios em que titulares
de pastas do Governo foram constituídos arguidos, ou viram-se envolvidos em casos
e casinhos, foi devastadora.
(…)
A tentação de falar na judicialização da
política é grande, mas deve mesmo ser evitada.
(…)
Também o sistema democrático deve beneficiar do
princípio da presunção da inocência.
(…)
É
verdade que o poder executivo está fragilizado em relação ao judicial, mas
temos de viver com isso. O inverso seria pior.
(…)
Se permitirmos que o discurso em torno da
corrupção domine a agenda política, vamos perder a narrativa.
(…)
Não
existe forma mais eficaz de nos tramarmos do que cair na armadilha da entrega à
retórica populista inerente a esta discussão.
(…)
Os
portugueses enfrentam problemas e desafios que não podem passar para segundo
plano, quando tudo parece encaminhar-se novamente para eleições antecipadas.
(…)
Não é aceitável que votemos outra vez com a
ameaça do Chega em cima das nossas cabeças.
(…)
O PSD não consegue identificar quem é o seu
verdadeiro inimigo e pagamos todos por isso.
(…)
A novidade terá de partir da esquerda e é o PS
que tem aqui uma responsabilidade acrescida.
(…)
Qualquer voto à esquerda cumpre essa função
[de combate ao fascismo e ao Chega.]
(…)
Devemos votar em projetos políticos e não por
medo ou para evitar males maiores.
(…)
Não me
interpretem mal. Manter o Chega longe do arco da governação ou impedir que cresça
ainda mais é um objetivo.
(…)
A humanidade parece estar entregue a uma força
autodestrutiva que a arrasta para o abismo.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
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