(…)
Cada
pessoa à minha volta aqui também é testemunha. Mesmo, ou sobretudo, quando
falar sobre Gaza pode sair caro aqui, também.
(…)
Vai fazer agora um ano, a 7 de Outubro de 2023,
um sábado (…) pensei: Israel acabou.
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Ainda
não se conhecia a escala do ataque, muito menos os detalhes, tudo estava ainda
a acontecer, e a vida já mudara para sempre.
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[A 10
de dezembro] já todos à volta da Terra éramos testemunhas: a aniquilação em
directo, sem paralelo na História ou na Geografia, de uma população que não
tinha para onde fugir.
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Tudo
com a ajuda das bombas, do dinheiro ou da inacção do Ocidente, e perante o silêncio
ou a indiferença de tantos que nos eram próximos.
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Quem éramos nós, humanos? Só os palestinianos
pareciam de pé. Um holocausto de pé.
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Biden assumindo-se como presidente de Israel,
armas e mesadas incluídas, como se os palestinianos fossem uma casta sub-humana.
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A
vergonha da Europa que depois de tantos séculos a perseguir judeus agora
ajudava a matar ou não salvava os palestinianos.
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A miséria dos regimes árabes, calculistas ou
carrascos, sem excepção.
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E que
fracasso, que vazio das mais velhas democracias (?) quando vemos a defesa da
Palestina empunhada por um regime tão repulsivo como o iraniano.
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Uma das mais contínuas hipocrisias da Europa e
dos EUA é jogar com uns ditadores contra outros.
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Quem
se importa de apertar a mão ou fazer negócios com os senhores que a cada dia
oprimem o próprio povo?
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[11 de
dezembro de 2023] Jerusalém Oriental e a Cisjordânia estavam na mão de colonos
e soldados que se comportavam como eu nunca vira, nem no auge da Segunda Intifada,
porque no espaço de uma geração ganharam toda a licença para ocupar, destruir e
matar à descarada.
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[O que hoje vemos é Netanyahu] 1)
tornar Gaza invivível para os palestinianos 2) tornar a Cisjordânia cada vez
mais invivível para os palestinianos, enquanto os colonos aumentam.
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[Netanyahu] matou quem
quis, destruiu o que quis, onde quis, fazendo dos EUA e de quase toda a UE umas
baratas tontas, a correrem daqui para ali, ou a fazerem de conta.
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Israel enterrou-se com o 7 de Outubro, o mundo
inteiro perdeu, e o sacrifício da Palestina é incalculável.
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Uma geração de crianças órfãs a sofrer o
inimaginável com cada um de nós a assistir.
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Há um
ano que Israel continua a matar repórteres em Gaza e impede os outros de lá
entrar, além de invadir redacções com soldados, para as fechar.
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Como
um Estado pode ser tratado como democracia quando é uma teocracia ou etnocracia
que limpa etnicamente outro povo há 76 anos.
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A culpa narcísica da Europa gerou um monstro
incontrolado.
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[Netanyahu] arrastou Israel para o
abismo, mas o problema vem da fundação. Nenhum Estado viverá à custa de outro
povo.
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O 7 de Outubro enterrou o sionismo como ideia.
Não há futuro para o sionismo.
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Nada protegerá tanto os judeus como
libertarem-se da opressão de outro povo.
Alexandra Lucas
Coelho, “Público” (sem link)
Como chegámos a este absurdo [no Médio Oriente]
de parte do nosso futuro coletivo depender de uma figura tão hedionda como
Netanyahu?
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Do apartheid passámos ao genocídio, e agora a uma possível
conflagração global.
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Foi com Begin que se aceleraram os colonatos em
Gaza e na Cisjordânia, tendo também sido ele o primeiro a invadir o Líbano, em
1982.
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O atual PM israelita desempenhou o cargo,
intermitentemente, durante quase 20 anos, sempre pronto a aliar-se a formações
ainda mais racistas e fanáticas do que o Likud.
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A fúria homicida de Netanyahu, cuja raiz foi
denunciada na carta de Einstein e Arendt em 1948, hipnotizou o Congresso dos
EUA, esse gigante sem cabeça, colocando ao serviço da sua pulsão de morte todo
o poderio militar de Washington e a servil cumplicidade da UE.
Foi assinado, na passada terça-feira, por todas
as confederações patronais e pela UGT, um “Acordo tripartido sobre valorização
salarial e crescimento económico 2025-2028” (Acordo).
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No jogo de manipulação da agenda social (ou
socioeconómica) para servir a agenda política, os mestres são os governos e os
patrões.
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O enviesamento estrutural e funcional da
concertação social permite, quase sempre, a construção de maiorias para defesa
de conteúdos ou de objetivos políticos que agradem às confederações patronais e
à Direita.
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Os parceiros que aceitaram entrar neste jogo
fizeram-no numa altura em que não era claro que o Governo viesse a ter força
para incluir as suas propostas estratégicas de redução do IRC e do IRS jovem.
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A redução daqueles impostos, nos termos que o
Governo pretende, faz parte de uma visão classista e ultraliberal que o Governo
quer instituir.
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Parceiros comprometidos com rumos progressistas
da sociedade jamais podem ignorar estes factos.
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O Acordo mantém a trajetória de valorização do
salário mínimo nacional - longe do necessário e possível - que vinha de trás.
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Podemos ter a certeza de que não haverá efetiva
melhoria geral dos salários.
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Os desafios colocados à sociedade portuguesa, à
nossa economia e às empresas são enormes. O Acordo é uma inexistência
estratégica para lhes responder.
Já o negacionismo, termo cunhado pelo
historiador Henry Rousso, define-se pela rejeição de conceitos básicos,
incontestáveis e apoiados em consenso científico, bem como de factos provados,
em favor de invenções e de conceções pseudocientíficas que servem de munição a
determinados absurdos.
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São exemplos bem conhecidos a negação do
Holocausto, a obtusa noção de que a Terra é plana, a rejeição das alterações
climáticas ou a invalidação do papel das vacinas.
Rui Bebiano, “diário as beiras”