A obsessão do Governo pela imigração e pela
nacionalidade, que ocupam a sua atenção desde que tomou posse, não serve para
travar a extrema-direita.
(…)
Também não serve para resolver ou prevenir
problemas. Se servisse, trabalharia com dados.
(…)
Na imigração continuamos sem dados rigorosos
atualizados, porque o Observatórios das Migrações foi suspenso.
(…)
É contra estes [imigrantes] que o Governo tem
apontado as baterias.
(…)
Apesar de ter alegado um aumento exponencial de
pedidos de nacionalidade para mudar a lei, a média mensal desceu 12,5% de 2024
para 2025.
(…)
O foco obsessivo serve para esconder o falhanço
nas duas áreas que um barómetro recente apresentou como as prioritárias para os
portugueses antes da imigração: saúde e habitação.
(…)
Sabendo que os fluxos migratórios se vão
intensificar, porque o mundo está mais pequeno e interligado, [os políticos] fazem
escolhas.
(…)
Se apostam no medo, dificultam o reagrupamento
familiar, impedem a construção de lugares de culto para quem não seja cristão.
(…)
Claro que para receber imigrantes é preciso
investir em serviços públicos. Mas sai mais barato culpá-los pela crise no
Serviço Nacional de Saúde, na habitação ou no pré-escolar.
(…)
Para justificar o fim do “não é não”, (…)
Leitão Amaro disse que estes temas devem ser tratados por moderados, não por
radicais.
(…)
Leitão Amaro quer dizer-nos, como um marido
apanhado em traição, que “isto não é o que parece”.
(…)
Este tipo de “moderado” determina os seus
valores pela média das posições dominantes, mesmo quando se radicalizam.
(…)
Dou poucos meses para estarmos a discutir a
possibilidade de dar prioridade a filhos de portugueses no acesso ao
pré-escolar.
(…)
A banalização do mal é garantida pelos que, não
sendo convictos, vão para onde sopra o vento.
(…)
Este suposto “moderado” só se imagina em
minorias resistentes nas tragédias do passado.
(…)
Com oportunismo e cobardia, inspira fundo o ar
do tempo. É deste género de “moderados” que é feito o Governo.
(…)
Escolheu uma política radical, mas não lhe
parece que o seja porque corresponde ao pensamento hegemónico.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
É inqualificável que crianças sejam usadas como
joguetes políticos, é insustentável que tal seja permitido na casa da
democracia, pesa a todos que tal não seja suficiente para que tenhamos noção do
que é um limite a ser ultrapassado.
(…)
Costuma dizer-se que há gente que não se
importa de vender a mãe para atingir os seus objectivos.
(…)
A complacência parlamentar com o ódio e a
discriminação mancharão para sempre o Parlamento, enlutando a democracia.
(…)
Um simulacro de decência no Parlamento.
(…)
A seguir, o debate sobre a lei de estrangeiros,
onde todas as audições parlamentares foram chumbadas.
(…)
A mudança de paradigma desta limpeza ideológica
está a bater à sua porta com novos preços a pagar.
(..)
A vizinha Espanha acabou com os “vistos gold”
após ter-se apercebido de que quase todos eles se direccionavam para
investimentos imobiliários.
(…)
Portugal resolve atacar a sua crise da
habitação pela perseguição aos “okupas”, uma nova loucura demagógica e
alucinada sobre a ocupação de imóveis.
Miguel Guedes, JN
Nós,
médicos, profissionais e estudantes na área da saúde de diferentes partes do
país escrevemos com o coração pesado pela morte de 284 pessoas durante a onda de calor que ocorreu
entre os dias 23 de junho e 2 de julho em Portugal.
(…)
Escrevemos em luto. Mas também em luta.
(…)
Durante
estes 10 dias de calor extremo, a crise climática triplicou
o número de mortes por calor em 12 cidades europeias.
(…)
Das
2305 mortes em excesso atribuídas ao calor nessas cidades, cerca de 1504
resultam diretamente do aumento das temperaturas causado pela queima de
petróleo, carvão e gás.
(…)
Estima-se
que muitos outros milhares tenham morrido por todo o continente devido ao
colapso climático, mas não sendo registadas como tal.
(…)
Estas mortes não são uma fatalidade.
(…)
São mortes que têm responsáveis.
(…)
Estas
pessoas morreram porque foi conscientemente decidido continuar a queimar combustíveis fósseis,
mesmo sabendo que isso tornaria o planeta mais quente e mais perigoso para
viver.
(…)
Estas são mortes provocadas diretamente pela
crise climática. São mortes com causa conhecida e com responsáveis
identificados.
(…)
[A crise climática] é, aos nossos olhos, a
maior ameaça à saúde da espécie humana, e de todas as espécies, na história
contemporânea.
(…)
As
ondas de calor são a causa de um aumento do número de hospitalizações e da
frequência e gravidade do agravamento de patologias crónicas.
(…)
A
maior frequência e gravidade das ondas de calor nos verões europeus também é
diretamente causada pela emissão desenfreada de gases com efeito de estufa.
(…)
O calor extremo não é democrático. E o sistema
que o gera também não o é.
(…)
A medicina, a nossa profissão, exige que
protejamos a vida.
(…)
[Há que] garantir uma transição energética
justa, rápida e profunda, para energias
renováveis.
(…)
[É preciso]desmantelar o sistema fóssil e o modelo económico
capitalista que o sustenta.
(…)
[Vivemos num] sistema que escolhe, todos os
dias, o lucro infinito em vez da vida.
(…)
O capitalismo, [é] o sistema que exige a
valorização infinita num planeta com recursos finitos.
(…)
É uma guerra que se faz com cheias, secas,
incêndios, fome, deslocamentos forçados, e calor insuportável.
(…)
Queremos
um SNS capaz de responder às exigências da crise climática, capaz de prestar cuidados
de qualidade, de reter profissionais, que valorize as suas carreiras e que dê
voz aos utentes.
(…)
Recusamo-nos a compactuar com a destruição
progressiva e planeada do Serviço Nacional de Saúde.
(…)
Recusamo-nos a concordar tacitamente com a
inação dos decisores políticos perante o colapso climático,
(…)
As
crises do clima e da saúde não podem ser separadas uma da outra de uma forma
estanque. Ergamos a voz e organizemo-nos!
(…)
A crise climática é a nossa crise.
(…)
Não há juramento de Hipócrates que se cumpra
ignorando esta realidade.
Hélio Pires, médico e
mais treze médicos e estudantes de medicina, “Público” (sem link)