(…)
[Pela retórica
do ministro da Educação] o ponto central aqui é que frequentar o Ensino Superior
é um privilégio.
(…)
Os modelos
internacionais de educação dos Estados Unidos e de Inglaterra que implicam
propinas altíssimas que endividam as pessoas durante largos anos da sua vida,
não é difícil de perceber que tais modelos só vincam ainda mais as
desigualdades sociais.
(…)
[O ministro da Educação] deveria primeiramente preocupar-se
com o panorama dos estudantes portugueses que não conseguem prosseguir com os
seus estudos por falta de privilégios económicos e sociais.
(…)
Continuar com um percurso académico que só vinca ainda mais
as desigualdades sociais não é um caminho que procura a equidade, é um abismo.
(…)
O peso da Educação não deve estar no estudante, mas sim no
Estado.
(…)
[O Ministro] quer
que Portugal deixe de ter alunos e passe a ter “clientes da Educação”.
(…)
Ora, a verdade é que o privilégio de poder entrar no ensino
superior e enveredar por uma carreira economicamente favorável é um autêntico
privilégio com muitas camadas.
(…)
O sistema educacional pode potenciar ainda mais as desigualdades
sociais.
(…)
Numa primeira instância de mais fácil observação, percebemos
que as rendas altas são um grande entrave para os estudantes que entraram em
faculdades distantes da sua residência familiar.
(…)
Encontramos aqui
mais um obstáculo de desigualdade social entre quem consegue pagar uma vida
estudantil nestas duas cidades [Lisboa e Porto] e quem não tem capacidades
económicas para isso.
(…)
Será que essa
única medida [de acesso gratuito à educação desde a creche ao ensino superior, para toda a gente],
sem ter em conta todas as camadas de privilégio da sociedade, chegaria para
igualar o acesso a oportunidades de construção de uma carreira economicamente
estável e confortável?
(…)
De grosso modo, não, porque as desigualdades de base
continuariam a não ser colmatadas.
(…)
[É necessário] encontrar as perguntas de investigação
eficientes de forma a alcançarmos uma maior equidade social.
(…)
Escusado dizer que quem nasceu com privilégios movimentou-se
mais rapidamente para cima na escala de classes.
(…)
Como resolver o
problema da falta de equidade de oportunidades entre classes sociais?
(…)
É preciso pensar na questão de raiz.
O Governo vai descongelar as propinas de licenciatura já a
partir do próximo ano letivo.
(…)
Enquanto as propinas sobem, o número de novos caloiros desce:
na primeira fase do concurso nacional de acesso ao Ensino Superior ficaram
colocados menos de 44 mil alunos.
(…)
O descongelamento das propinas é, acima de tudo, um sinal
político alarmante.
(…)
Qual é a mensagem que o Governo pretende passar com esta
decisão?
(…)
Portugal tem a obrigação constitucional de assegurar acesso
universal à Educação, em todos os níveis de ensino.
(…)
A Educação tem de ser “o” objetivo do país, no que diz
respeito ao seu desenvolvimento social.
(…)
A universidade serve para formar cidadãos.
(…)
Pessoas capazes de refletir, de questionar – e de resistir,
se preciso.
(…)
Capazes de decidir pelo bem comum, de defender a Democracia,
de escolher em consciência.
(…)
Com espaço e igualdade de oportunidades para todos e
todas.
(…)
No Portugal europeu de 2025, frequentar o ensino superior não
pode continuar a ser um privilégio. Se é, fizemos tudo errado.
(…)
Uma sociedade que põe o seu esforço coletivo na Educação é
uma sociedade progressiva.
(…)
Com o foco no essencial, munindo os jovens de ferramentas que
lhes permitam abraçá-lo inteiro.
(…)
Continua a haver uma grande desigualdade de acesso ao ensino
superior e – não sejamos demagógicos – uma significativa diferença entre
classes sociais no que diz respeito à Educação.
(…)
Há uma forte correlação entre Educação e mobilidade social.
(…)
A pobreza não pode ser hereditária e a Educação é a
ferramenta para quebrar este ciclo vicioso.
(…)
A Educação é a ferramenta que nos permite sonhar – com uma
vida melhor para nós e com um mundo melhor para todos.
Martha Mendes, “diário as beiras”
Ao
tratarmos a natureza como algo exterior, esquecemos o essencial: o ar que
respiramos, a água que nos atravessa, o solo que nos alimenta — tudo isso somos
nós.
(…)
A crise climática é o lembrete doloroso desse esquecimento.
(…)
São a
consequência de termos vivido como se a fronteira entre o ser humano e a natureza
fosse real. Nunca foi.
(…)
É aqui que a educação ambiental ganha uma nova luz.
(…)
Educar
para o ambiente é educar para a vida. É reaprender a olhar o mundo natural como
extensão de nós mesmos.
(…)
A vida está dentro de nós, pulsa connosco, e somos parte dela.
(…)
É por isso que repetimos: só podemos amar e respeitar aquilo que conhecemos.
(…)
E por isso nos causa profunda preocupação ver a Educação para
a Cidadania relegar o ambiente para um papel secundário.
(…)
Ensinar a viver em comunidade é, antes de tudo, ensinar a
cuidar do planeta que partilhamos.
(…)
Retirar
espaço ao ambiente é enfraquecer a capacidade coletiva de responder ao maior
desafio do nosso tempo.
(…)
A saúde do rio é a saúde do nosso sangue. A fertilidade da
terra é o alimento que nos sustenta.
(…)
Quando destruímos a natureza, não acumulamos riqueza:
empobrecemo-nos.
(…)
[Educação ambiental] é uma regeneração interior e coletiva.
(…)
A nossa casa comum é o planeta inteiro.
(…)
No fim, é simples: não existe “nós” e “o ambiente”.
(…)
Existe
apenas vida — uma vida entrelaçada, em que cada gesto humano deixa marcas na
paisagem e cada transformação da paisagem ressoa em nós.
(…)
A educação ambiental é, por isso, a educação mais
urgente do nosso tempo.
Sílvia Moutinho, “Público” (sem link)
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