quarta-feira, 8 de outubro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (175)

 
As manifestações que sacudiram as ruas de 20 cidades portuguesas, em consonância com as que ocorreram em dezenas de países por todo o mundo (…) abrem, estou em crer, uma nova época neste funéreo ocaso do primeiro quartel do século XXI.

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No sentido em que criam e clarificam um novo separador de águas, uma nova fronteira entre a civilização a barbárie.

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Existe, seja qual for o pretexto, o direito de um governo cercar militarmente um território de outro país impedindo os seus 2,2 milhões de habitantes de sair e privando-os de alimentação e ajuda humanitária com o fim de os exterminar pela fome e a doença?

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Toda a tentativa explícita ou implícita de legitimar ou banalizar este mal absoluto que é o genocídio impune do Governo israelita, apoiado pelo Governo dos EUA, é uma forma de cumplicidade.

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[A extrema-direita] não se dispensou, como é timbre do Chega acolitado a um ministro da Defesa rastejante na defesa do genocídio e do Governo fascizante de Israel, o recurso à mentira torpe, à manipulação informática grosseira e ao insulto.

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Na realidade, eles não podem nem querem compreender precisamente que a questão de Gaza se tornou hoje a decência de toda a forma de estar na política.

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[A Mariana Mortágua, a Sofia Aparício, o Miguel Duarte, o Diogo Chaves e os] 500 participantes na flotilha humanitária [com] a sua atitude corajosa e clarificadora devolveram-nos a esperança nestes tempos sombrios.

Fernando Rosas, “Público” (sem link)

 

Estamos perante a capitulação estratégica de um partido fundador da democracia portuguesa [o PSD] (…) diante de forças cuja retórica e práticas visam minar os alicerces desse mesmo edifício.

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Essa inversão de papéis [com uma aliança legislativa entre o PSD e o Chega na aprovação da lei de estrangeiros] exige escrutínio rigoroso.

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Ao escolher negociar matéria sensível (…) com um partido que desumaniza imigrantes, o PSD, sob a direção de Luís Montenegro (…) sacrifica princípios fundadores em troca de viabilidade parlamentar.

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O Governo (…) simplesmente atua como se eles [princípios constitucionais] fossem ornamentos retóricos dispensáveis perante a urgência da governabilidade.

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O perigo não é uma rutura autoritária súbita, mas a normalização progressiva de práticas que corroem a substância democrática enquanto preservam a sua aparência.

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A imigração concentra ansiedades sobre identidade, segurança e mudança social e permite canalizá-las para um alvo vulnerável.

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[O Governo] reconhece implicitamente que a extrema-direita [na pessoa do Chega] possui competência particular para decidir quem merece integrar a comunidade política.

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Essa concessão simbólica ultrapassa o conteúdo técnico do diploma.

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O processo negocial estabelece um precedente perigoso: naturaliza a ideia de que políticas identitárias restritivas são posições legítimas no espectro democrático.

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Dissolve-se assim a fronteira entre pluralismo (…) e um relativismo moral que trata a dignidade humana como variável negociável.

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A retórica populista do Chega assenta na deslegitimação sistemática das mediações institucionais.

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Quando dirigentes do Chega desafiam decisões do Tribunal Constitucional e questionam a legitimidade de juízes não eleitos, não estamos perante excesso retórico: trata-se de contestação deliberada do princípio da separação de poderes, pilar de qualquer democracia liberal.

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O custo desta cedência traduz-se na deterioração do espaço deliberativo.

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A invetiva substitui o argumento; a demonização do adversário torna-se estratégia legítima; a mentira deliberada integra o repertório do debate público.

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O Chega instrumentaliza procedimentos democráticos — voto parlamentar, retórica da soberania popular — para promover uma agenda que, em última instância, restringe o alcance da própria democracia.

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O perigo não é a defesa explícita de uma ditadura; é a erosão lenta das salvaguardas que impedem a tirania da maioria.

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Quando o PSD valida esse interlocutor, não está a conceder apenas uma vitória tático-parlamentar: participa ativamente na reconfiguração do espaço político.

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A responsabilidade do PSD ultrapassa a presente legislatura.

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Se um partido fundador já não distingue entre adversário legítimo e força corrosiva, que sinal envia acerca do valor intrínseco das instituições?

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Forças populistas autoritárias não deixam de corroer instituições porque essa corrosão constitui a sua razão de existência.

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Esperar que o Chega se transforme num parceiro fiável é, na melhor das hipóteses, ingenuidade; na pior, é cálculo que subordina princípios à vantagem imediata.

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Cidadãos educados no desprezo pelas normas dificilmente mobilizar-se-ão para as defender quando elas forem ameaçadas.

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Recuperar a centralidade dos princípios fundadores não equivale a dogmatismo imobilista; significa reconhecer limites inegociáveis que preservam a própria possibilidade da democracia constitucional.

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aliança PSD-Chega na lei de estrangeiros não é uma anomalia passageira. Representa um sintoma de reconfiguração mais profunda.

Domingos Caeiro, “Público” (sem link)

 

O crescente isolamento de Israel foi suficientemente explícito na Assembleia Geral das Nações Unidas para convencer Benjamin Netanyahu a envolver-se num eventual acordo.

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Nestes dois anos, Benjamin Netanyahu não deu sinais de pretender negociar.

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[Benjamin Netanyahu] lidera um Governo cujo equilíbrio está nas mãos de dois ministros fanáticos, um dos quais defende que o direito internacional não se aplica a Israel porque os judeus são um povo eleito por vontade divina.

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Se este plano tem algum mérito no imediato, é o de resgatar os reféns, pôr fim ao massacre e de permitir a entrada de assistência humanitária no enclave.

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Israel não terraplena totalmente a cidade de Gaza, mas mantém a sua expansão nos colonatos da Cisjordânia, uma palavra cortês para colónia, uma presença militar em Gaza e inviabiliza um Estado palestiniano.

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O Hamas não tinha outra solução que não fosse negociar e tentar atenuar a sua capitulação.

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Israel jamais aceitará de bom grado direitos iguais para os árabes que habitam o país e o direito de autodeterminação da Palestina.

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O que nos reserva o horizonte pode ser uma limpeza étnica por outros meios.

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Os palestinianos só podem contar com a indignação e solidariedade de quem tem a consciência e a coragem de protestar contra a chacina diária da população civil de Gaza.

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A exigência da libertação dos reféns não faz de ninguém fã de Netanyahu nem a exigência do fim deste genocídio faz de alguém apoiante do Hamas.

Amílcar Correia, “Público” (sem link)


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