domingo, 5 de fevereiro de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO DE CATARINA MARTINS NO EXPRESSO (4/02/2017)


Deixamos a seguir alguns excertos do artigo de opinião assinado por Catarina Martins e que foi publicado no Expresso de ontem, com o título “Agora é connosco”.
Proponho-me apenas partilhar aqui a reflexão que fazemos, no Bloco de Esquerda, sobre as potenciais implicações desta alteração [de estratégia do PSD].
(…)
O chumbo da baixa da TSU patronal provou que a existência de divergências entre o PS e os partidos à esquerda não implica uma crise política. Pela nossa parte, não abandonamos qualquer posição de princípio, antes contribuímos para afastar uma medida errada e para conduzir a uma solução vantajosa para os trabalhadores e para a Segurança Social.
(…)
Ora, mais de um ano depois da assinatura dos acordos, com dois Orçamentos de Estado aprovados e convivendo nas diferenças e nas divergências (condições de transparência da administração da Caixa Geral de Depósitos ou baixa da TSU são apenas dois desses momentos), essa “geringonça” já só é frágil aos olhos de quem tão mal a batizou. O programa para parar o empobrecimento do país prossegue, com reformas estruturais tão importantes como o aumento do salário mínimo nacional, e provou a sua capacidade política.
(…)
A governação só pode afirmar-se e ter apoio social e político se responder à vontade expressa nas eleições de 4 de outubro de 2015 e aos acordos assinados. Para isso, o esforço negocial e a coerência do governo devem fazer-se à esquerda. Se assim tivesse sido, este episódio TSU não teria existido.
(…)
Matérias tão importantes como o esforço do Serviço Nacional de Saúde, a progressividade do IRS, o descongelamento de carreiras na Função Pública, o combate à precariedade e a reativação da contratação coletiva estão por concretizar. Mais: o acordo não é uma simples lista de tarefas e metas (mas ainda bem que as define). É um compromisso político para dar conteúdo político a uma espetativa de mudança à esquerda. E essa está longe de esgotada; mal começou.
(…)
A pressão [europeia] estará presente contra a correção do salário mínimo para €600 ou contra uma nacionalização do Novo Banco. O erro maior seria ceder. Não ganharíamos a paz e perderíamos o país.
O momento é de continuar a concretização do acordo: “defender as funções sociais do Estado e os serviços públicos, na Segurança Social, na educação e na saúde, promovendo um combate sério à pobreza e às desigualdades sociais e económicas”; “conduzir uma nova estratégia económica assente no crescimento e no emprego, no aumento do rendimento das famílias e na criação de condições para o investimento público e privado”; “promover um novo modelo de progresso e desenvolvimento para Portugal, que aposte na valorização dos salários e na luta contra a precariedade, relance o investimento na educação, na cultura e na ciência e devolva à sociedade portuguesa a confiança e a esperança no futuro.” Foi isto que assinámos em conjunto; estas são escolhas e são escolhas à esquerda.
O acordo não está esgotado. Que chegou é o momento de clara separação de águas e que exige renovada determinação: a valorização do trabalho teria sempre a oposição patronal e europeia; a defesa das funções do Estado e um investimento público modernizador exigiria sempre a libertação dos recursos necessários. A reestruturação da dívida, necessidade que já ninguém contesta, deve deixar de ser tabu para o Governo e o acordo de Bruxelas deve deixar de ser condição.
Não resta dúvida de que o acordo da mudança é sólido.
(…)
Saibamos pois colocar as questões para encontrar as soluções. PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV, agora é connosco.

Sem comentários:

Enviar um comentário