quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

TANTO MARCELO JÁ ENJOA


Alguém devia dizer ao Prof. Marcelo que se pretende garantir uma reeleição daqui a três anos, o excesso de “aparições permanentes aos portugueses” talvez já sejam em excesso e, portanto, poderão ter um efeito contraproducente.
Não há telejornal em que o Presidente da República não apareça e isso começa a enjoar muitos de nós até porque, na maior parte das vezes, as suas declarações pouco acrescentam à informação que já possuímos. Que informação importante traz aos portugueses uma ida de Marcelo Rebelo de Sousa a um barbeiro no Intendente?
O actual mandato presidencial, “pleno de afectos”, é o tema do artigo de opinião que o advogado Domingos Lopes assina no “Público” de hoje. Todo o texto é atravessado por uma fina jocosidade que não passa despercebida ao leitor e que faz com que se deseje que se prolongue tanto quanto possível. É um gozo lê-lo.
Num país com uma dose mais que suficiente de basbaques, emparedado entre o ritmo frenético (para e arranca) dos carros nas nossas ruas e a pressa de chegar a casa para papar as notícias das televisões, é de assinalar a ida do Presidente Marcelo ao barbeiro a abrir um telejornal de toalha branca a ser barbeado como se era antigamente. A barbearia, segundo a notícia, fica no Intendente.

É justo reconhecer que a ida a um barbeiro no Intendente, aliás como ir servir uma refeição a um sem-abrigo ou ir almoçar ao Bairro da Bela Vista, em Setúbal, caem bem, o que aliados a um mergulho nas praias de Cascais são contributos ímpares para o cumprimento exemplar da sua função constitucional de Presidente da República.

Marcelo vai mais longe que todos os anteriores Presidentes na interpretação do que deve ser o mandato pleno de afetos e de aparições permanentes aos portugueses, fazendo-os sentirem-se protegidos desde que se levantam até que se deitam e mesmo a meio da noite, caso sejam incomodados por qualquer insónia.

Os media esfregam as mãos. A política, desde que o diabo ficou no sítio onde dizem estar, anda de desastre em desastre. É um desastre. Um aborrecimento. Marcelo é o sal da vida, a garantia de audiências. Toda a gente está à espera dele.

O português perdido no rio Orinoco, fugido de Maduro, segundo fontes insuspeitos.

A família da professora desaparecida no rio Douro que ainda não apareceu e, no plano dos afetos, há quem acredite que de acordo com a capacidade de mergulhar de Marcelo a possa descobrir.

O piloto das linhas aéreas da Norwegian que se viu na hora de aterrar sem flaps e teve o acompanhamento permanente de Marcelo na abordagem à pista do Porto Santo.

Mário Centeno, o novo presidente do Eurogrupo, não esquece as palavras de Marcelo a lembrá-lo que ele ainda é ministro da Finanças da República Portuguesa. Um aviso que António Costa e o próprio Centeno levaram a sério, dadas as funções de cada um.

Os concessionários das cantinas escolares aguardam impacientes que Marcelo se sente com os jovens alunos para que de viva voz dê expressão ao movimento contra a obesidade que está a despontar no país e que o PR quer impulsionar de Norte a Sul, incluindo nos arquipélagos.

A dona Engrácia quer ser vacinada contra a gripe, mas devido ao seu estado de saúde ela acredita piamente que a vacina só funciona se a levar ao lado de Marcelo, dada a força que tem o seu exemplo de captar afetos. Com esse doce afeto, a dona Engrácia vai à vacina.

Os familiares das vítimas de Legionella, depois do falhanço do PSD em proibir a bactéria, viram-se agora para Marcelo aguardando que ele confirme e certifique os resultados das autópsias realizadas pelo Instituto de Medicina Legal.

Marcelo descobriu o que já estava descoberto, mas a falta de capacidade operativa dos anteriores caseiros de Belém impedia-os de aproveitarem o achado. Quem muito pouco tem, contenta-se com muito pouco, um beijo, uma selfie, um aceno e, vindo do mais alto magistrado da nação, é um bálsamo celestial.

Portugal é um país de carências e de carentes, mesmo sendo o melhor destino do mundo. Se o Presidente andar a acenar ao país saúde, sopa, sorte, habitação, fregueses para as barbearias, portugueses para os bairros históricos, clientes para as farmácias, e aos catalães para amarem Espanha e o rei, se continuar a aconselhar o que os velhinhos devem fazer para não se engriparem, é certo e seguro que a sua popularidade vai atingir cumes nunca antes vistos.

Tal conduta vai-lhe exigir um esforço hercúleo, na medida em que para se manter no top dos tops tem de programar muito bem as suas múltiplas agendas, tendo em conta as distâncias físicas dos diferentes estúdios televisivos. Provavelmente farão diretos para que Marcelo não saia da primeira linha mediática.

O desinteresse de Marcelo pelas coisas que flutuam ao sabor das correntes é de tal ordem que, no caso de irregularidades aventadas pelos tesoureiros da Raríssimas, imperial, apenas disse que era preciso investigar e de futuro evitar situações ilícitas, caso existam. E certamente será investigada se a denúncia que chegou a Belém era genérica ou concreta.

Por último, embora já se tenha apresentado no Centro de Saúde de Sete Rios para se vacinar contra a gripe, Marcelo ainda não disse nada sobre a tempestade Ana.

O país aguarda ansiosamente que ele proclame que se formos atingidos por uma nova tempestade ela não será Ana, mas talvez Raquel, que é o nome mais bíblico e dado a esta coisa de desgraças. Vem aí o Natal. Marcelo vai servir bolo-rei. 


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