sexta-feira, 26 de abril de 2024

CITAÇÕES

 
O ambiente que se vive por estes dias no país convida-me a escrever sobre a face oculta da Revolução de 1974/75 de que geralmente pouco se fala: a contrarrevolução que fluiu permanente e antagonicamente com aquela.

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[A contrarrevolução pretendia] derrubar o curso revolucionário pela vio­lência subversiva e pelo golpe armado, visando instaurar um novo regime autoritário e neocolonial.

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O general Spínola foi a figura de proa da movimentação contrarrevolucionária.

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A extrema-direita organizou-se clandestinamente em grupos terroristas com sede na Espanha franquista, responsáveis por inúmeros atentados bombistas e assaltos violentos contra as sedes e pessoas de partidos de esquerda e contra a embaixada de Cuba.

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Uma dessas organizações foi o MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal.

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Alguns operacionais das redes bombistas organicamente ligadas ao MDLP, foram julgados posteriormente em processos que condenaram “peixe miúdo”, mas pouparam os mandantes.

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O MDLP era chefiado pelo general Spínola e da sua direção política (“gabinete político”) fazia parte, entre outros, o atual deputado e dirigente do Chega, Diogo Pacheco de Amorim.

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Os chefes e quadros do MDLP ficaram impunes e nunca tiveram de responder pelo bombismo terrorista da responsabilidade desse movimento.

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Puderam assim, alguns deles, regressar discretamente à política, refugiados na área do MIRN ou do CDS. Foi o caso de Diogo Pacheco de Amorim, que naturalmente veio desaguar no Chega de que é deputado e alto dirigente. 

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No que me toca prefiro estar prevenido e atento contra a armadilha da normalização e do branqueamento da extrema-direita fascizante e do seu passado terrorista.

Fernando Rosas, “Expresso” online

 

Uma das grandes transformações desde o 25 de abril, particularmente intensa na última década [é o aumento significativo do número de imigrantes em situação regular].

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Temos mais contacto com o mundo, somos mais livres em tudo, a começar pelas relações que estabelecemos com os outros.

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A presença de tantos trabalhadores migrantes, essenciais para largos setores da economia, era inimaginável há meio século. Mudámos e ainda bem.

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O tema das migrações, como se sabe, é um elemento unificador das extremas-direitas a nível europeu.

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Narrativas nacionalistas, discursos de estigmatização e criminalização dos imigrantes, defesa da “nossa cultura” contra a “cultura deles”, tudo isso faz parte de um “núcleo ideológico comum” das extremas-direitas.

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Quotas para imigrantes, com limites por área profissional, política inaplicável que existia há vinte anos e que a experiência condenou porque apenas burocratiza as autorizações de residência de quem entra (e continuará a entrar se houver emprego).

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A procura de imigrantes é aqui maioritariamente para setores indiferenciados e que faltam postos de trabalho qualificado para absorver mão-de-obra, o que explica a emigração de jovens diplomados.

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A imigração é um bem e uma necessidade. 

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Tem de ser acompanhada por políticas que garantam mais habitação acessível para todas as pessoas, fiscalização rigorosa contra a exploração laboral, integração de trabalhadores de todas as proveniências na lei do trabalho e na contratação coletiva (…).

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Eis um desafio central para quem quer, 50 anos depois, defender a democracia contra a mentira.

José Soeiro, “Expresso” online

 

O povo que ontem saiu às ruas do Porto, Lisboa, Coimbra, um pouco por toda a parte, não saiu à rua “num dia assim” por uma razão “sem nome para qualquer fim”. Pelo contrário, repleto de motivações e causas.

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Para lá do subjectivo, há um sentimento gregário que pode ter acordado perante o elenco e a objectivação de um inimigo comum. 

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Que estas emocionantes manifestações, à semelhança de muitas iniciativas que se ergueram por ocasião das comemorações dos 50 do 25 sirvam para alguns perceberem que só pela multiplicação das convergências e equilíbrios é possível ser, na força do voto que opera transformação, o que transparece na força da rua. 

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Há uma relevância em ser muito mais quando unidos, sendo que às vezes parece que é algo que não se sabe.

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Que se cumpra Abril, para sempre e como nunca. 

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Seria dogmático pensar que o 25 de Abril só se comemora à Esquerda, quando a direita democrática também sai à rua e deve reivindicar o seu património de liberdade. 

Miguel Guedes, JN

 

Estou convencida de que a maioria dos políticos de direita não sabe bem o que fazer com o 25 de Abril.

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Não puderam ignorá-lo (…) mas também não conseguiram celebrá-lo sem uma reserva ou sem uma tentativa de o desvalorizar.

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Parte da bancada do PSD, e o próprio Luís Montenegro, não usou um cravo na lapela. É um pequeno sinal. Uma maneira de afirmar que não celebram o 25 de Abril inteiro.

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Celebrámos os 50 anos do 25 de Abril representados por um Governo, uma maioria parlamentar e um Presidente da República de direita.

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[Carlos Moedas] não apoiou o Arraial dos Cravos, no Largo do Carmo, e, com isso, transformou um pequeno evento numa manifestação imensa.

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Nunca o Carmo esteve tão cheio na véspera do 25 de Abril. Devemos isso a Carlos Moedas.

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[Marcelo] quis ser o foco das atenções e fê-lo com a subtileza que costumamos atribuir aos elefantes em lojas de louça.

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Suponho que quis mostrar aos portugueses que fez uma justiça qualquer, [informando-nos que cortou relações com o filho].

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Esta parte foi só um aquecimento. Num jantar com jornalistas estrangeiros, fez o pleno.

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Caracterizou o primeiro-ministro como sendo de um país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais.

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Este golpe de génio foi apenas ultrapassado pelo momento em que se referiu a António Costa, um homem lento por ser oriental.

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A sensação que temos a ouvir Marcelo é igual à de estar ao telefone com alguém que julga ter desligado a chamada e desata a dizer coisas inconvenientes. Preferíamos não ter ouvido.

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O Nuno Melo, que só não risca o 25 de Abril do calendário porque não pode.

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Mas houve coisas boas. A Avenida da Liberdade nunca esteve tão cheia, e se já tinha estado no ano passado.

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A esquerda tem um sítio onde cresce quando encolhe no Parlamento. É a rua. É essa pertença à rua que não se inventa.

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O 25 de Abril não tem donos, mas tem inquilinos daqueles à antiga.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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