quarta-feira, 20 de novembro de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (130)

 
Vinte e quatro mil cidadãos e cidadãs apresentaram à Assembleia da República uma iniciativa legislativa para alargar as licenças parentais.

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O Parlamento debateu e votou um projeto de lei vindo diretamente da mobilização popular.

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A medida teve voto favorável de todos os partidos, à exceção do PSD e do CDS.

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Não deixa de ser curioso que as questões da família e da natalidade sirvam à direita para espicaçar absurdas “guerras culturais”, assentes numa retórica reacionária, mas resultem numa prática vazia quando se trata do apoio concreto às famílias ou do direito das crianças a mais tempo com os seus progenitores.

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O Governo reagiu à aprovação desta lei (…) agitando contra ela dois alarmes que importa contestar.

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Em primeiro lugar, numa inusitada carta ao Parlamento, logo a 7 de outubro, proclamou (sem explicar contas) que a medida teria um impacto orçamental de 400 milhões.

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[Questionado, afinal] o Governo assume que o impacto da iniciativa legislativa cidadã é afinal cerca de metade do afirmado pelo Governo em outubro e fica por 228 milhões.

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O [novo] argumento do Governo passou a ser que o alargamento dos direitos parentais vai provocar mais desemprego e por isso é indesejável.

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É desonesto utilizar o argumento do aumento de desemprego, de modo fatalista e sem identificar fontes, para combater o alargamento de direitos.

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Em vez da resignação e da invocação da desigualdade e da discriminação para impedir mais direitos, devemos sim acolher a proposta de 24 mil cidadãos e cidadãs, promovendo mais tempo de licença.

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Acabemos também com o hábito de torturar os números.

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Alargar a licença parental é uma escolha política. Mesmo que o faça apesar do Governo e com a oposição do PSD e do CDS, o Parlamento vai concretizar esse progresso.

José Soeiro, “Público” (sem link)

 

No dia 20 de novembro, celebra-se a Convenção sobre os Direitos da Criança.

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Neste mesmo dia, milhares de crianças até aos 10 anos em Portugal irão para os seus colégios e escolas de pijama em comemoração do Dia do Pijama, uma iniciativa da Mundos de Vida.

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[Os números] Representam vidas, histórias e sonhos em construção, mas também trazem consigo dor, tristeza e sonhos interrompidos.

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Há 6446 crianças e jovens em acolhimento em Portugal.

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Ao longo destes anos, aprendi que a vida é feita de pessoas. 

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Contudo, como podemos ignorar números que falam de tantos que, ao contrário de mim, nunca tiveram a oportunidade de viver numa família de acolhimento?

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Hoje, celebro a dedicação de alguém que mudou a minha vida, mas não esqueço aqueles que ainda esperam. Esperam por uma família que os veja além dos números, além dos relatórios.

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Ao celebrarmos a Convenção sobre os Direitos da Criança, é essencial perguntar: será que estamos realmente a garantir que todas as crianças e jovens em Portugal têm as mesmas oportunidades?

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Sabemos os números, vestimos o pijama, mas no dia seguinte tudo volta ao mesmo: longe da vista, longe do coração.

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O Dia do Pijama é mais do que um dia de celebração; é um apelo à consciência coletiva.

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E mudar a vida de uma criança é transformar o futuro de todos nós.

Bruna Branco, “Público” (sem link)

 

Foi hoje, dia 19 de novembro, votada no Conselho da União Europeia a versão final do regulamento que visa banir produtos fabricados com trabalho forçado no mercado único, quer sejam produtos fabricados dentro quer sejam fabricados fora da UE.

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Mil e noventa e cinco é o número de dias que as empresas (…) vão ter para se assegurarem de que os produtos que comercializam na UE – incluindo online – não tiveram o envolvimento de ninguém que estivesse “sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente”.

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No fundo, será crucial para as empresas levarem a cabo "due diligences" em matéria de direitos humanos, por forma a garantirem que, tanto a nível local como ao nível da cadeia de abastecimento, desde a extração da matéria-prima até à aquisição pelo consumidor final, o produto está “isento de trabalho forçado”.

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Assim, como sucedeu com os certificados energéticos, os consumidores vão passar a estar mais atentos aos produtos que adquirem (…) verificando se têm um “historial limpo”.

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Estou em crer que ninguém quererá ser conivente com o trabalho forçado nem alimentar – pelo menos de forma consciente – uma economia paralela cujos lucros “ilegais” ascendem a mais de 236 mil milhões de dólares, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho.

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Nunca foi tão urgente agir e agir a pensar na sociedade que queremos ser no futuro, tendo sempre presente os direitos humanos.

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Todos podemos ter um papel ativo na sustentabilidade, sobretudo, na forma como são feitos os negócios.

Tiago de Magalhães, “Público” (sem link)

 

A Guiné-Bissau é um país interino com um chefe íntegro. Não no sentido de honrado, recto; antes, na acepção de inteiro, completo: um chefe que manda (ou quer mandar) em completamente tudo.

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Mas da lista de antónimos de interino que o dicionário nos oferece, nada serviria melhor aos desejos do chefe de Estado de todos e de tudo o que é guineense que a palavra “eterno”.

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Aliás, o Presidente age como se a Constituição também fosse interina, como se estivesse à espera da entrada em vigor da proposta de revisão que enviou ao Parlamento e os deputados lhe fizeram a desfeita de nem discutir porque não cabe ao chefe de Estado promover revisões constitucionais.

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Assim como marcou as eleições legislativas, o chefe de Estado desmarcou-as.

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[O Presidente da República] já disse que só marcará eleições presidenciais para o final de 2025, o que implicará para ele um mandato de seis anos e não de cinco.

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Razão, nenhuma, pelo menos apresentada; há decisões que não se explicam.

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No país interino da Guiné-Bissau, as decisões são unas e indivisíveis, as críticas tornaram-se assuntos de Estado e as discussões são ganhas sempre por quem manda.

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O Presidente já disse que vai “permanecer no poder até para lá de 2030 e tal”, o que pressupõe não respeitar o limite dos dois mandatos de cinco anos que a Constituição actual lhe permite.

António Rodrigues, “Público” (sem link)


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