(…)
Foi
assim que o hooliganismo racista
que desencadeou os acontecimentos dos últimos dias em Amesterdão foi apagado de
várias narrativas dominantes.
(…)
E o
rei dos Países Baixos pediu desculpa ao presidente de Israel dizendo: falhámos
para com os judeus na Segunda Guerra, e voltámos a falhar agora.
(…)
Centenas
[de adeptos israelitas do Maccabi Telavive]
são filmados a avançaram pelas ruas ou a descerem escadas rolantes enquanto
bradam refrões racistas pela vitória de Israel em Gaza.
(…)
Cantam não haver escolas em Gaza porque já não restam
crianças.
(…)
Alguns destes hooligans atacam residentes de Amesterdão com aparência árabe ou
muçulana.
(…)
Tudo isto corre nas redes sociais e leva a uma retaliação,
uma caça aos adeptos do Maccabi.
(…)
E então a ansiedade europeia e americana em condenar o
anti-semitismo apaga o resto da fotografia.
(…)
Houve
violência anti-Israel e anti-semita em Amesterdão. Depois de ter havido
violência anti-árabe, anti-palestiniana, glorificadora de um holocausto em
curso há mais de um ano.
(…)
E mais uma vez os poderes ocidentais dominantes disseram aos
árabes, aos palestinianos que a vida deles vale menos.
(…)
Quem mais ganha com tudo isto? Certamente a extrema-direita.
(…)
Conheci
e entrevistei [o escritor israelita] David Grossman em Jerusalém há muitos
anos, antes ainda de ele perder um filho em 2006, morto em combate no Líbano.
Já então Grossman tinha muitas chaves sobre o desastre que o rodeava.
(…)
Por coincidência,
este último, breve, livro foi-me enviado por correio na semana passada. Li-o
enquanto se desenrolavam os acontecimentos de Amesterdão.
(…)
Porque
em múltiplas passagens Grossman tem as chaves, escreve-as, descreve-as,
claramente. Ele vê, ouve. Sabe. E depois do 7 de Outubro é como se não
conseguisse ver. Como se as chaves que tinha já não abrissem nada.
(…)
Quase como se escrevesse contra si próprio, contra o que ele
mesmo anteviu.
(…)
Uma
das organizações de direitos humanos mais importantes do mundo, a Human Rights
Watch, publicou um relatório sobre “Os Crimes de
Israel Contra a Humanidade”.
(…)
“— As autoridades israelitas provocaram
deslocações em massa, forçadas e deliberadas, de civis palestinianos em Gaza
desde Outubro de 2023 e são responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a
humanidade.
(…)
— Não
há nenhuma razão militar imperativa plausível que justifique a deslocação em
massa de quase toda a população de Gaza por parte de Israel, frequentemente
várias vezes.
(…)
— Os
governos devem adoptar sanções específicas e outras medidas e suspender a venda
de armas a Israel. O procurador do Tribunal Penal Internacional deve investigar
as deslocações forçadas de Israel e o impedimento do direito de retorno como um
crime contra a humanidade.”
(…)
De que
é que o governo português está à espera? Várias agências da ONU falaram. O
secretário-geral falou. A relatora especial Francesca Albanese não desiste de falar,
bravamente.
(…)
A vitória de Trump não é surpresa. As nomeações que já fez
são o horror. As deportações espreitam.
(…)
Continuamos a dever-lhes [aos palestinianos] 76 anos de vida.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Vivemos num contexto global onde os sinais do colapso
ambiental se acumulam, sendo muito perturbador observar como temas essenciais
para a sobrevivência planetária são marginalizados ou, até mesmo,
deliberadamente atacados por lideranças que negam a ciência e saberes
ancestrais de harmonia com a natureza.
(…)
Estas agendas refletem frequentemente disputas ideológicas
que desvalorizam a gravidade da crise climática, colocando interesses de curto
prazo acima do bem comum e da sustentabilidade a longo prazo.
(…)
Donald Trump simboliza um movimento global que desafia a
urgência das políticas climáticas e deslegitima as lutas por justiça social,
incluindo a igualdade de género e os direitos das comunidades mais vulneráveis.
(…)
A sua retórica política reforça estruturas patriarcais e
hierárquicas que perpetuam desigualdades.
(…)
Assistimos mais uma vez à perpetuação de padrões que excluem
as mulheres das posições de maior destaque.
(…)
As alterações climáticas e as desigualdades sociais estão
intrinsecamente ligadas.
(…)
A luta contra o aquecimento global é também uma luta por
equidade, dignidade e reconhecimento de direitos.
(…)
Precisamos de uma mudança transformadora para sistemas
sociais mais inclusivos e justos para todas as pessoas e o planeta, nas suas
diversidades e interconexões.
Fátima Alves, “diário as beiras”
Esta semana assinalou-se o Dia Nacional da Igualdade Salarial.
(…)
Este dia representa, simbolicamente, o último dia do ano em
que as mulheres portuguesas recebem ordenado.
(…)
A data marca simbolicamente o início do período de tempo em
que as mulheres trabalham sem receber, em comparação com os homens, até ao
final do ano.
(…)
Em Portugal, este ano, o fosso salarial entre homens e
mulheres aumentou pela primeira vez em dez anos.
(…)
Os estudos mostram que a desigualdade salarial aumenta
proporcionalmente às responsabilidades e às qualificações.
(…)
As diferenças salariais justificadas, única e exclusivamente,
com base no género do trabalhador são inaceitáveis e ilegais.
(…)
O princípio da igualdade de remuneração para trabalho igual,
definido em 1957 pelo Tratado de Roma, está consagrado desde 1976 na
Constituição da República Portuguesa.
(…)
Não há qualquer razão para a desvalorização do trabalho
feminino.
(…)
São causas estruturais, fruto de realidades difíceis de mudar
porque são, na sua maioria, resultado de uma cultura patriarcal que continua a
destinar um papel secundário – e, portanto, mais mal pago – às mulheres.
(…)
Os estudos preveem que serão preciso cerca de trinta anos
para chegarmos à equidade salarial.
Martha Mendes, “diário as beiras”
A crónica de hoje é suscitada pela COP29, a decorrer no
Azerbaijão.
(…)
Pela minha parte, apenas procuro alertar para a facilidade
com que abdicamos da prudência crítica, consolando-nos com narrativas
confortáveis, mas inimigas de verdade.
(…)
[A existência de uma Convenção do Clima] pode dar a
impressão de que, pelos menos os países mais ricos, estão interessados em combater
o perigo crescente de transformarmos a Terra num inferno climático inabitável.
Infelizmente não é verdade.
(…)
Há outras ilusões associadas: entre Biden e Trump a diferença
é meramente discursiva. No seu mandato, Biden aprovou 10.700 autorizações de
prospeção de petróleo, contra 9.892 de Trump.
(…)
No que respeita à UE, o grande desígnio já não é o pacto
ecológico, mas o seu rearmamento maciço contra a Rússia.
(…)
As COP estão a transformar-se num serôdio espetáculo de
ilusionismo.
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