(…)
Vingativo, rancoroso (…), Trump pode romper todas as amarras
institucionais que o prendiam.
(…)
A nomeação de Musk e de Ramaswamy, um fanático bilionário da
biotecnologia, para desmantelar partes significativas do Governo federal é o
anúncio estrondoso do que aí vem.
(…)
Elon Musk, que tem contratos de milhares de milhões com o
mesmo Estado que vai “reformar”, é só o oligarca mais famoso de uma “nova ordem
mundial” anunciada por ele mesmo.
(…)
Musk, (…) pediu [a Trump] para nomear funcionários da sua
empresa espacial, a SpaceX, para o Departamento de Defesa.
(…)
Mas os interesses vão muito para lá do espaço: seis empresas
de Musk são alvo de 20 investigações federais.
(…)
A regulação federal é apresentada como uma barreira à
inovação e ao crescimento económico e Trump promete destruí-la.
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A desregulação financeira dos anos 80 e 90, depois dos 30
anos dourados do pós-guerra, criou as bases para a concentração de riqueza,
aumento da desigualdade e ciclo de sucessivas crises que devastaram as
democracias.
(…)
Ainda assim, não foi tão relevante como o que pode vir a
acontecer com a desregulação tecnológica.
(…)
A regulação de uma transformação tão vertiginosa para a
humanidade [como a Inteligência Artificial] é um imperativo civilizacional.
(…)
Mas é um imperativo inaceitável para o pequeno grupo de
oligarcas globais que deseja expandir livremente áreas de negócio disruptivas,
concentrando um poder nunca antes conhecido.
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O maior contributo de Musk para a vitória de Trump (…)
foi o impulso à desinformação de extrema-direita no Twitter.
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[Estamos à beira de] uma concentração de riqueza e de poder
que torna estes oligarcas na maior ameaça para o futuro da democracia e de um
capitalismo concorrencial.
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A subida ao poder dos fascismos foi apoiada pelo capitalismo
industrial, tal como Trump é apoiado pelo capitalismo tecnológico.
(…)
Para Trump e os oligarcas que o apoiam o Estado é
securitário para imigrantes e minorias, mas anula-se na regulação do novo poder
económico.
(…)
A grande diferença em relação aos anos 30 do século passado é
a proximidade entre fascistas e neoliberais.
(…)
O que se propõe é uma desregulação assimétrica, com um Estado
fraco para os fortes e forte para os fracos.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Os direitos individuais das mulheres já fazem a diferença na
relação com o poder de quem decide.
(…)
Poderá dizer-se que as mulheres não foram capazes de se unir
para derrotar Donald Trump mas talvez seja importante reflectir sobre os
resultados que se contariam sem o voto das mesmas.
(…)
Foram as mulheres a evitar uma humilhação eleitoral democrata.
(…)
A defesa dos direitos das mulheres ainda criou a ficção de
que seria possível interromper o renascimento de monstros.
(…)
Todos os anos, são centenas as mulheres [portuguesas] que
procuram clínicas em Espanha porque não conseguem assegurar o direito ao aborto
que a lei lhes consagra no nosso país.
(…)
O prazo estabelecido em Portugal (dez semanas) é o mais baixo
da Europa (assim como na Croácia), quando o prazo é de 12 ou mais semanas em 23
dos 27 estados-membros.
(…)
Transformar a objecção individual numa objecção institucional
é uma negação do acesso à saúde e do Estado de direito.
A
escola é um elevador social. Esta afirmação é tão certa quanto traiçoeira — um
elevador avariado, enferrujado, antigo e sem manutenção à vista.
(…)
Não é
que, quando finalmente cheguei à docência, com o fato de super-herói, pronta
para livrar o mundo das desigualdades, me deparei com o flagelo que é ligar um
Windows 98, numa sala de aula, em 2024?
(…)
Pior, vi as desigualdades da rua a serem
vincadas na escola.
(…)
Rapidamente
guardei o fato, sentindo-me envergonhada da indumentária que com tanta
seriedade e empenho vesti, como se fosse Halloween e eu fosse a única
com um disfarce.
(…)
Os meus poderes omnipotentes para a resolução
da desigualdade social eram completamente fictícios.
(…)
Na
verdade, ser professora não é ser uma super-heroína: acabei numa sala de aula,
em frente a dez turmas a cada ano, a ser uma superburocrata.
(…)
Aos alunos que têm dificuldades em casa, a
escola dá uma resposta: aqui terás dificuldades também.
(…)
Que
condições dá a escola para o ano? Exactamente as mesmas que deu no ano
anterior, com a diferença de que agora eles se sentem ainda menos inteligentes.
Cristiana Gaspar, “Público” (sem link)
A linguagem inclusiva não desafia apenas a
língua; desafia normas, relações de poder e uma visão de mundo.
(…)
Ao
"sempre foi assim" (apesar de não ter sido, nem no tempo ou no
espaço) que os moderados “anti-woke”
querem preservar por conforto, num mundo moldado à sua medida, é necessário que
se adicione estas questões: quem estão a deixar de fora?
(…)
Quem tem o direito de inventar palavras ou de
usar aquelas que, aliás, já estão no dicionário?
(…)
Isto não é sobre língua, é sobre identidade e
poder e tem consequências políticas.
Luísa Semedo,
“Público” (sem
link)
As eleições norte-americanas servem de alerta
para a Esquerda.
(…)
Os
insultos de Hillary Clinton ao eleitorado pouco instruído e, mais recentemente,
as palavras indecorosas de Joe Biden não contribuem para a popularidade dos
Democratas nestas franjas.
(…)
Nas últimas décadas, a Esquerda teve vergonha
de defender os seus valores.
(…)
A "terceira via" tem sido um
desastre. A social-democracia não pode compactuar com o neoliberalismo.
(…)
Na verdade, os políticos de Esquerda têm
falhado imenso enquanto o desnível de riqueza no mundo assume contornos
absurdos.
(…)
Liberdade sem igualdade de oportunidades não
passa de privilégio.
(…)
A Esquerda deve semear a esperança onde reina o
medo.
(…)
Desejo uma Esquerda de mangas arregaçadas,
corajosa na defesa inalienável da justiça social.
(…)
Anseio
por uma Esquerda que nunca abandona os mais necessitados, os injustiçados e os
famintos de esperança, mesmo quando votam noutro partido político.
(…)
O social-democrata sabe que há algo mais
importante do que a derrota ou o triunfo: é a justiça.
(…)
Nunca deve abdicar deste princípio: todas as
pessoas possuem dignidade.
(…)
Não devemos pedir desculpa pela defesa dos
oprimidos.
Ricardo Da Costa
Pereira, “Público” (sem link)
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