(…)
Seguindo a receita de 1987, tomou medidas
populares enquanto encaminhava a oposição para um beco sem saída.
(…)
Distribuiu dinheiro pelos grupos que tinha de
conquistar ao PS (reformados) e ao Chega (polícias) ou com mais capacidade de
mobilização social (professores). E esticou a corda na política fiscal.
(…)
Não é por acaso que a palavra “perceção” marcou
os últimos meses.
(…)
Não há um programa, há uma campanha. Não há uma
estratégia, há uma tática.
(…)
Como se tem visto nestas semanas, não há uma
repulsa perante as posições da extrema-direita.
(…)
Na imigração ou na segurança, o PSD compete com
o Chega e acantona a esquerda a posições justas mas impopulares.
(…)
Na economia, onde se ganham e perdem eleições,
cimenta-se um bloco central feito de abstenções violentas. Dois em um.
(…)
Depois de sucessivas apresentações de pacotes,
o Governo falhou em todos os primeiros testes.
(…)
Faltaram ainda mais professores, falharam ainda
mais as urgências, o mercado da habitação aqueceu ainda mais.
(…)
E a solução para tudo o que não se consegue
resolver é sempre a mesma: privatizar.
(…)
No SNS, o Governo não se limita a entregar
serviços aos privados. Garante que a concorrência será ainda mais desleal.
(…)
Este Governo não parece ter um programa, mas
uma encomenda.
(…)
Fora isso, assistimos a um assalto ao Estado de
um PSD faminto, depois de um longo jejum, e de um CDS que, mesmo depois de
morto, mantém um apetite voraz.
(…)
Com a direita arredada há tanto tempo do
aparelho de Estado, a qualidade técnica e política deste Governo nunca seria
grande coisa.
(…)
Sendo sustentado por 29% dos eleitores e
podendo cair a qualquer momento, foi construído com o refugo.
(…)
No jogo superficial de um Governo em campanha
permanente, a instrumentalização da polícia foi o passo mais arriscado.
(…)
A arrogância silenciosa, que treinou durante
meses para ganhar a gravitas que lhe faltava, não resiste à volatilidade de uma
governação cata-vento, ao sabor das perceções.
(…)
Começa agora um escrutínio mais rigoroso, com
que um Governo com esta fragilidade técnica, política e eleitoral terá
dificuldade em lidar.
(…)
O plano A de Montenegro era ter uma crise
política e eleições rápidas.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
O
adjectivo [doenças] "negligenciadas"
é óbvio quando se percebe que são habitualmente comuns em regiões tropicais e
afectam sobretudo os mais carenciados.
(…)
São doenças que matam os mais pobres e os que
não mata, discrimina, social e economicamente.
(…)
Por
exemplo, na maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, um novo estudo
calcula que sejam 12 milhões as pessoas com estas infecções parasitárias
incapacitantes.
(…)
A
falta de investimento no saneamento e na saúde pública, sobretudo no Sul dos
EUA, conduziu a níveis alarmantes de predominância destas doenças.
(…)
A
ideia de que se trata de doenças dos países pobres e não de economias
desenvolvidas leva a que muitos casos fiquem por diagnosticar.
(…)
Uma
questão que é também racial. Nas comunidades negras a potabilidade da água e a
eficiência do sistema de esgotos são menores do que nas áreas habitadas pelos
brancos.
(…)
No
condado de Bolívar, no Mississípi, base do estudo citado pelo jornal britânico,
onde 63% das pessoas são negras, muitas delas descendentes de antigos escravos,
a esperança de vida é inferior em seis anos à média dos EUA.
António
Rodrigues, “Público” (sem link)
Falta
de acesso à habitação, subida da inflação, racismo sistémico, catástrofes
naturais e aumento da imigração são algumas das razões apontadas para a subida
recorde de 18% no total de sem-abrigo nos Estados Unidos entre 2023 e
2024.
(…)
[Durante
o ano passado] 23 em cada dez mil pessoas estava sem casa, tinha de dormir num
abrigo ou refúgio temporário ou estava literalmente na rua, noticiou a Reuters.
(…)
Sem
solução rápida para conter a avalancha, ao invés de atacar o problema a
montante, as autoridades optaram por criminalizar a consequência a jusante.
(…)
Amparados
numa decisão do Supremo Tribunal dos EUA, a polícia pode agora prender qualquer
pessoa que for apanhada a viver na rua.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A
China entrou no século XXI com quase 453 milhões a viver nas zonas urbanas e já
tinha mais de 910 milhões no final de 2023.
(…)
O
Governo chinês tem aplicado medidas estritas para evitar a criação de bairros
de lata e o aumento dos sem-abrigo.
(…)
A pobreza é combatida com subsídios, habitação
de renda controlada e autorizações de residência aplicadas com rigor extremo
pelas autoridades.
(…)
Os sem-abrigo não deixam de existir, aliás têm
aumentado nos últimos anos com a desaceleração da economia chinesa.
(…)
Mesmo que não se vejam, a realidade é que há
pessoas a viver nas ruas, diz o site Worldcrunch.
(…)
Chamam-lhes
os “homens das cavernas” e são os exemplos da pobreza escondida da China
descobertos há uns anos a viver nas profundezas de Pequim.
(…)
Por
melhor que seja o abrigo que encontrem, estes homens das cavernas vivem sob a
constante ameaça de o perderem de um momento para o outro, no caso de serem
apanhados pelas autoridades.
(…)
E por
mais que as autoridades continuem a exercer a sua férrea vigilância, com uma
economia em dificuldades, a China terá muitos buracos para tapar nos próximos
tempos.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Em
2023, 94,6 milhões de pessoas na União Europeia estavam em risco de pobreza ou
de exclusão social, de acordo com o Eurostat. Isso equivale a mais de um quinto da população,
mais propriamente 21,4%.
(…)
De acordo com a UNICEF, quase uma em cada quatro crianças na
UE está em risco de pobreza ou de exclusão social, ou seja, mais de 20 milhões
de crianças.
(…)
Em
Portugal, segundo a Pordata, a taxa de risco de pobreza subiu pela primeira vez
em sete anos e as crianças e os jovens são os mais expostos.
António Rodrigues, “Público” (sem link)