(…)
A elite que conta está com Trump. A que ainda não está,
estará.
(…)
Os capitalistas não têm ideologia. Têm interesses e sabem
quem os pode servir ou prejudicar a cada momento.
(…)
Não querem ser regulados e limitados na sua ambição.
(…)
E a “liberdade de expressão” que dizem querer devolver à
América serve, na realidade, para concentrar nas suas mãos o poder de decidir
quem fala e quem se cala.
(…)
Sempre houve milionários a usar meios de comunicação para
influenciar a política a bem dos seus negócios.
(…)
O poder de Murdoch ainda não foi totalmente enterrado e teve
relevância para chegarmos onde estamos.
(…)
Nunca concentraram tanta riqueza e poder como esta
pequeníssima oligarquia tecnológica.
(…)
A fortuna de Musk multiplicou-se mais de 15 vezes desde o
início da pandemia.
(…)
Desde 2013, a percentagem de americanos e britânicos que não
consomem qualquer notícia subiu de 8% para 30%.
(…)
Segundo o Instituto para o Estudo do Jornalismo, da Reuters,
metade dos adultos até aos 50 anos recorre tanto às redes sociais como à
comunicação social para se informar.
(…)
Nestas plataformas, a mensagem é visual, seja vídeo ou memes.
Zero complexidade.
(…)
O ideal para o crescimento da
extrema-direita.
(…)
Não é preciso ver o
braço esticado de Musk para saber quem são os seus candidatos às lideranças
europeias.
(…)
Se o Brasil resiste,
vergando o dono do X e impondo mecanismos de regulação no Facebook e no
Instagram, a União Europeia também o pode fazer.
(…)
Se se deixar intimidar,
as suas democracias não resistirão à polarização, à desinformação e à
manipulação.
(…)
A dimensão da vitória
eleitoral de Trump ainda não traduz com rigor a enorme viragem cultural a que
assistimos.
(…)
As repúblicas caem com
mudanças culturais subterrâneas e a naturalização do que antes nos parecia
abjeto.
Daniel
Oliveira, “Expresso” (sem
link)
A oligarquia que tomou o poder nos Estados Unidos pretende
tomar conta de nós por uma espécie de privilégio natural que lhes permite ir
contra a ciência, contra o equilíbrio, contra os valores de civilização e
progresso, a favor do seu algoritmo.
(…)
Fundamentalmente, a certeza e a convicção de que tudo mudou.
(…)
O culto da arrogância e do orgulhosamente capaz de decidir unilateral
e visceralmente é o novo modelo americano de Trump.
(…)
A inimputabilidade também se constrói assim.
(…)
Depois, as sombras. Não é uma espécie de saudação nazi que
faz de Elon Musk um nazi.
(…)
Elon Musk é mais perigoso do que um qualquer nazi porque nos
coloca a debater sobre a sua real identidade e a teorizar sobre a relativização
dos seus gestos.
(…)
As sombras estão muito
mais no que ficou por dizer do que no que foi dito (e já decretado) no dia um
da segunda administração de Trump.
(…)
O presidente dos EUA
não teve uma única palavra para o mundo-inferno que separa os oligarcas que
colocou, reverencialmente a seu lado, da pobreza extrema de 800 mil americanos
sem abrigo ou de um sistema nacional de saúde que empurra milhares de pessoas
para a morte e que não é acessível a milhões de americanos.
(…)
Nem uma palavra sobre a
crise climática, pelo contrário, a defesa da sua negação.
(…)
O anátema das
deportações na condenação das palavras da bispa Mariann Edgar Budde que teve a
coragem de pedir clemência.
(…)
Nos EUA como na Europa,
a opção que resiste à falência do sistema é mesmo única: construir uma
alternativa que responda à crise social.
O conceito de
neutralidade carbónica é fundamentalmente errado e enganador.
(…)
O que é necessário e urgente é uma
redução da emissão de gases com efeito estufa (GEE), assim como de outros tipos
de poluição.
(…)
[Algo muito sério é Portugal] estar a
iniciar a construção de uma grande infra-estrutura que é diametralmente oposta
às metas de neutralidade carbónica com que tanto Portugal como a UE decidiram,
em linha com o acordo de Paris, um acordo a nível global.
(…)
Não há planos rigorosamente nenhuns de
reduzir o número de voos, nem sequer parece que haja uma estratégia para que
isso forçosamente acontecer.
(…)
Qual é a expectativa dos Governos (serão
muitos até 2037) sobre a capacidade da indústria da aviação de aumentar a
eficiência?
(…)
Não há planos rigorosamente nenhuns de
reduzir o número de voos, nem sequer parece que haja uma estratégia para que
isso forçosamente acontecer.
(…)
Ao dia de hoje, a
aviação é dos maiores emissores mundiais de GEE — e dos mais desiguais.
(…)
O Relatório Ambiental admite, na maior
das ironias, que o aumento de emissões que o novo aeroporto causará vai contra
todas as metas ambientais de Portugal e da UE.
(…)
A CTI [Comissão Técnica Independente]
mostra que as emissões da aviação têm aumentado todos os anos e usa esses
mesmos dados para tentar provar que as emissões vão descer no futuro,
(…)
Todos nós temos de ter uma visão
crítica, não só acerca do impacto material do aeroporto, mas também acerca do
que ele simboliza: mais consumo, mais poluição, mais barulho, mais e mais e
mais.
(…)
Aquando da consulta pública sobre o novo
aeroporto, a Rede para o Decrescimento, da qual sou membro, foi, tanto quanto
sei, a única organização que se opôs à sua construção.
(…)
Parece ser a única voz racional no meio
de uma classe política capturada, sem qualquer problema em continuar a afundar
a população num buraco ecológico cada vez mais fundo.
Filipe Medeiros, “Público” (sem link)
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