(…)
[É
uma ilusão que] se desmorona quando se discutem políticas concretas numa
empresa ou no plano nacional.
(…)
No passado, sobretudo desde o virar do século, o crescimento da
produtividade foi superior ao crescimento dos salários reais, tomados como
variável de ajustamento da economia.
(…)
Houve uma transferência de rendimento da generalidade dos
trabalhadores para os acionistas das empresas - mais profunda no período da
troika.
(…)
As notícias são imagens de caos, de impossibilidade de planos
económicos para responder às necessidades das pessoas, da iminência da guerra
generalizada.
(…)
E o belicismo que marca o atual contexto geopolítico trará mais
argumentos para o sacrifício de políticas salariais, laborais e sociais.
(…)
A direção política e os burocratas da União Europeia (UE) (…) baixam
a qualidade dos nossos políticos e agentes económicos e impedem boas políticas
públicas.
(…)
Está com força a teoria neoliberal da ineficácia da subida
salarial.
(…)
Ela assenta em três ideias falsas: i) que a maior parte dos
custos empresariais é com salários (…); ii) que forçar um aumento salarial é
provocar inflação, com prejuízo simultâneo para trabalhadores e acionistas (…);
iii) que a aposta numa maior procura apenas aumenta as importações, obrigando a
prazo a uma maior austeridade.
(…)
A manterem-se estas políticas, o efeito tsunami será real.
Crescente exportação de qualificações, empobrecimento da capacidade produtiva,
quebra salarial em espiral.
As palavras de Trump sobre uma eventual expansão
dos EUA, por compra ou imposição, para o Canadá, Gronelândia e Panamá, causaram
sobressalto na UE.
(…)
Não há impérios benignos.
(…)
Trump não rompe com a vontade de hegemonia
norte-americana, antes lhe pretende determinar um novo e não menos arriscado
caminho.
(…)
Um caminho que colocou os EUA num distante segundo
lugar como potência industrial, provocando um imenso caudal de guerras e
sofrimentos que nos trouxeram à beira da III Guerra Mundial.
(…)
A clarificação de Trump, no seu estilo
brutalista, retoma e prossegue as grandes linhas históricas da expansão dos
EUA.
(…)
O território onde se encontra o canal pertencia
originariamente à Colômbia, tendo esta apoiado a construção do mesmo, mas
recusado a soberania americana sobre o canal.
(…)
A clarificação de Trump não esconde que a lógica
dos jogos de soma zero (“eu ganho o que tu perdes”) se aplica tanto a aliados
como a adversários.
(…)
A NATO vai acentuar a sua natureza rentista a
favor de Washington.
(…)
Os 5% do PIB na Defesa, que Trump exige a quem
queira ficar na NATO, é o imposto a pagar por uma UE que trocou a dignidade,
inerente à soberania de um caminho comum, pela servidão voluntária.
A frase “não é nada pessoal, são só negócios” é
uma das mais abjectas que o mundo empresarial já inventou.
(…)
As
empresas transformam-se em máquinas de fabricação de lucros sem qualquer
responsabilidade social e ética para além daquela que pode afectar os dividendos
dos seus accionistas.
(…)
No
princípio dos anos 1990 falava-se muito de ética empresarial, de
responsabilidade social das empresas – a ideia do eterno progresso começava a
esbarrar nas limitações do planeta.
(…)
A prestar atenção aos efeitos da sua actividade no bem-estar das
comunidades onde estavam inseridas e mais além.
(…)
Oliviero Toscani, o fotógrafo italiano que morreu esta semana aos 82 anos (…) a
publicidade e marketing de uma empresa deveriam torná-la relevante, humanizá-la.
(…)
Toscani
pisou o risco várias vezes, na sua ideia de que mais valia provocar que ser
irrelevante e que uma empresa também podia ser “activista” na defesa de causas.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Uma
das grandes ironias do presente é que o homem que a si mesmo não impõe limites
no desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) acredita que no futuro será
capaz de condicionar essa mesma inteligência em eterna expansão à capacidade
cognitiva humana.
(…)
O
potencial da IA para a melhoria da vida humana é incomensurável, tal como os
desafios éticos que apresenta à humanidade, mas há quem só pense nos primeiros,
relativizando os segundos, ignorando uma biblioteca inteira de alertas
literários.
(…)
Os avisos caem em saco roto, numa espécie de
tecno-autismo.
(…)
Pode até transformar-se numa religião em si,
assente na verdade dogmática da ciência pela ciência, sem condicionalismos.
(…)
O medo (…) é que estejamos já
numa etapa tão avançada no desenvolvimento que as máquinas possam assumir o
controlo a partir daqui e “afectar não só a economia, mas também a sociedade e
o papel dos seres humanos neste mundo digital”.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A segunda passagem de Donald Trump pela Casa
Branca não será como a primeira.
(…)
Desta
vez vem preparado para acabar com as instituições que tentarem meter limites no
seu caminho. E traz um aliado de peso: o multimilionário Elon Musk.
(…)
Um e
outro parecem preparados para lidar com os interesses do Estado como se fossem
extensão dos seus próprios interesses, sem limites éticos.
(…)
No primeiro mandato já tivemos exemplos de como
Trump e a família aproveitaram a Casa Branca para lucrar nos negócios.
(…)
[Desta
vez levantam-se] temores de a Casa Branca de Trump poder ser “comprada” por
qualquer empresa estrangeira através de negócios com a família do Presidente.
(…)
No seu
último discurso desde a Sala Oval da Casa Branca, Joe Biden alertou esta semana
os norte-americanos para o perigo dessa oligarquia que se prepara para tomar
conta do país.
(…)
Perguntava
no domingo no Observer
Peter Pomerantsev, “como podemos debater políticas públicas face à influência
crescente – e polarizadora – do proprietário do X e de outros cujo único
objectivo é servir-se a si próprios?"
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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