(…)
Ao fim de duas semanas de discussões, os
resultados foram pífios.
(…)
A
única coisa que começou a horas em Bona foi o protesto pelo fim ao genocídio
na Palestina, no primeiro dia de manhã, organizado pela sociedade civil
para deixar claro que não há justiça climática sob ocupação.
(…)
O
plenário inicial, onde seria adotada a agenda das negociações, marcado para as
10h, foi adiado repetidamente, começando apenas às 17h do dia seguinte.
(…)
[artigo 9.1 do Acordo de Paris} que
acabou por ficar fora da agenda, afirma claramente que os países desenvolvidos
têm a obrigação de apoiar financeiramente os países em desenvolvimento na mitigação
e adaptação climática.
(…)
Foi neste cenário de atrasos e bloqueios que
finalmente começou a discussão sobre a transição justa.
(…)
Reiterámos vezes sem conta que não podíamos
perder de vista as pessoas que realmente sustentam as nossas sociedades (…) mas
frequentemente ignoradas nas discussões climáticas globais.
(…)
Saímos
da SB62 com um texto que reflete exigências centrais como a participação das
comunidades afetadas e a cooperação internacional, abrindo a porta para a luta
por transições que coloquem as pessoas em primeiro plano.
(…)
Bona expôs um sistema em colapso.
(…)
Os países ricos continuaram a fugir às suas
responsabilidades financeiras, enquanto o Sul Global se afoga nas
consequências.
(…)
Os
grandes poluidores continuam a expandir a exploração de petróleo e gás,
enquanto empurram os países em desenvolvimento para suportarem um peso que não
lhes cabe.
(…)
É o
reflexo de um sistema cúmplice de uma ordem global que financia a destruição,
mas se recusa a pagar pela sobrevivência.
(…)
A
apenas 200 km de Bona, em Haia, os membros da NATO concordaram prontamente em
aumentar os seus orçamentos militares para 5% do PIB.
(…)
[Estamos
perante] um sistema que fecha os olhos à guerra, ao genocídio e à crescente
desigualdade, enquanto ignora as exigências urgentes da justiça climática.
(…)
Está a
ONU a dizer-nos que o nosso direito a viver com dignidade, a beber água limpa,
a sobreviver, depende do lugar onde nascemos?
(…)
A Convenção do Clima das Nações Unidas (UNFCCC) é a
única organização da ONU onde os protestos são permitidos dentro do recinto das
negociações.
(…)
Enquanto discutimos vírgulas em salas de
negociações, em Gaza não entra comida nem água.
(…)
Enquanto milhões morrem de fome, dentro dos
corredores das Nações Unidas não podemos condenar isso.
(…)
Três décadas de negociações falharam
sistematicamente em entregar justiça climática e em respeitar a legislação
internacional.
(…)
Enquanto
os lobistas de combustíveis fósseis continuam a exercer uma
influência indevida, as comunidades mais afetadas são deixadas de lado.
(…)
Olho em redor e vejo pessoas que, todos os
dias, estão presentes e protestam por algo maior do que elas.
(…)
Há
algo que nos une: a luta por justiça climática, e o amor, a comunidade e a
solidariedade que vêm com ela.
Bianca Castro, “Público” (sem link)
Ainda vamos a tempo de honrar 80 anos de
esforços do multilateralismo, da cooperação e da paz?
(…)
A guerra voltou. Na verdade, nunca desapareceu.
(…)
A monstruosidade do inimigo torna-se a desculpa
para a nossa própria monstruosidade.
(…)
As guerras podem ser ganhas, mas todos perdem
na destruição e numa memória de gerações.
(…)
Tornou-se
natural e aceitável o ataque a centrais nucleares com o risco, por via de fugas
radioativas, de atingir milhões de seres humanos.
(…)
Com esta posição pública, queremos erguer um
coro de vozes contra a guerra.
(…)
A única salvação está na negociação, na
diplomacia, no multilateralismo.
(…)
Temos o direito à paz, a uma paz com direitos.
(…)
Nada se resolve pela força.
(…)
Hoje,
a ameaça nuclear tornou-se real, devido justamente à irracionalidade dos
líderes mundiais e dos seus modos de ação e de decisão.
(…)
E a ONU deixou de ser ouvida pelos que querem o
pior. O pior pode mesmo acontecer.
(…)
Há momentos na História em que as civilizações
parecem caminhar para o suicídio. Não será com o nosso silêncio.
(…)
Nenhuma solução virá da guerra.
Álvaro Siza Vieira, Ana Drago e mais 14
personalidades de várias áreas da nossa sociedade, “Público” (sem link)
O comércio e o financiamento internacional
deveriam promover o desenvolvimento.
(…)
Para muitos países pobres, tornaram-se
mecanismos de aprofundamento da desigualdade.
(…)
A
atual crise da dívida afeta mais de 100 países, sendo que 60% das nações de
baixo rendimento estão em risco de sobre-endividamento.
(…)
Em 48
países em desenvolvimento, os pagamentos de juros da dívida superam os
orçamentos da saúde e da educação. Nestes países vivem 3,3 mil milhões de
pessoas.
(…)
[A dívida] é uma barreira estrutural ao
desenvolvimento.
(…)
Países da África subsaariana, por exemplo,
detêm apenas 2% da dívida pública mundial, mas enfrentam encargos de pagamento
desproporcionais.
(…)
Entre
2020 e 2024, a pobreza extrema voltou a aumentar e a insegurança alimentar
afetou mais de 350 milhões de pessoas.
(…)
Os países mais frágeis são também os mais
silenciados nos fóruns internacionais.
(…)
A promessa de que o comércio global
impulsionaria o desenvolvimento falhou para os países mais pobres.
(…)
A diversificação de fontes de financiamento não
se refletiu nos países economicamente menos desenvolvidos
(…)
Os países ricos continuam a subsidiar os
combustíveis fósseis em valores muito superiores ao financiamento climático
internacional.
(…)
Em
2023, os países do Sul gastaram mais de 12 vezes em pagamento de dívida do que
no combate às alterações climáticas.
Ana Patrícia Fonseca, “Público” (sem link)
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