quarta-feira, 2 de julho de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (161)

 
Todos os anos, o mês de Junho, além dos Santos Populares, traz-nos a Conferência de Bona – o encontro anual dos órgãos subsidiários da Convenção do Clima da ONU, determinante para a agenda da COP,

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Ao fim de duas semanas de discussões, os resultados foram pífios.

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A única coisa que começou a horas em Bona foi o protesto pelo fim ao genocídio na Palestina, no primeiro dia de manhã, organizado pela sociedade civil para deixar claro que não há justiça climática sob ocupação.

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O plenário inicial, onde seria adotada a agenda das negociações, marcado para as 10h, foi adiado repetidamente, começando apenas às 17h do dia seguinte.

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[artigo 9.1 do Acordo de Paris} que acabou por ficar fora da agenda, afirma claramente que os países desenvolvidos têm a obrigação de apoiar financeiramente os países em desenvolvimento na mitigação e adaptação climática.

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Foi neste cenário de atrasos e bloqueios que finalmente começou a discussão sobre a transição justa.

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Reiterámos vezes sem conta que não podíamos perder de vista as pessoas que realmente sustentam as nossas sociedades (…) mas frequentemente ignoradas nas discussões climáticas globais.

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Saímos da SB62 com um texto que reflete exigências centrais como a participação das comunidades afetadas e a cooperação internacional, abrindo a porta para a luta por transições que coloquem as pessoas em primeiro plano.

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Bona expôs um sistema em colapso. 

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Os países ricos continuaram a fugir às suas responsabilidades financeiras, enquanto o Sul Global se afoga nas consequências.

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Os grandes poluidores continuam a expandir a exploração de petróleo e gás, enquanto empurram os países em desenvolvimento para suportarem um peso que não lhes cabe.

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É o reflexo de um sistema cúmplice de uma ordem global que financia a destruição, mas se recusa a pagar pela sobrevivência.

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A apenas 200 km de Bona, em Haia, os membros da NATO concordaram prontamente em aumentar os seus orçamentos militares para 5% do PIB.

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[Estamos perante] um sistema que fecha os olhos à guerra, ao genocídio e à crescente desigualdade, enquanto ignora as exigências urgentes da justiça climática.

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Está a ONU a dizer-nos que o nosso direito a viver com dignidade, a beber água limpa,​ a sobreviver, depende do lugar onde nascemos?

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A Convenção do Clima das Nações Unidas (UNFCCC) é a única organização da ONU onde os protestos são permitidos dentro do recinto das negociações.

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Enquanto discutimos vírgulas em salas de negociações, em Gaza não entra comida nem água.

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Enquanto milhões morrem de fome, dentro dos corredores das Nações Unidas não podemos condenar isso.

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Três décadas de negociações falharam sistematicamente em entregar justiça climática e em respeitar a legislação internacional.

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Enquanto os lobistas de combustíveis fósseis continuam a exercer uma influência indevida, as comunidades mais afetadas são deixadas de lado.

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Olho em redor e vejo pessoas que, todos os dias, estão presentes e protestam por algo maior do que elas.

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Há algo que nos une: a luta por justiça climática, e o amor, a comunidade e a solidariedade que vêm com ela.

Bianca Castro, “Público” (sem link)

 

Ainda vamos a tempo de honrar 80 anos de esforços do multilateralismo, da cooperação e da paz?

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A guerra voltou. Na verdade, nunca desapareceu. 

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A monstruosidade do inimigo torna-se a desculpa para a nossa própria monstruosidade.

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As guerras podem ser ganhas, mas todos perdem na destruição e numa memória de gerações. 

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Tornou-se natural e aceitável o ataque a centrais nucleares com o risco, por via de fugas radioativas, de atingir milhões de seres humanos.

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Com esta posição pública, queremos erguer um coro de vozes contra a guerra.

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A única salvação está na negociação, na diplomacia, no multilateralismo.

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Temos o direito à paz, a uma paz com direitos.

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Nada se resolve pela força.

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Hoje, a ameaça nuclear tornou-se real, devido justamente à irracionalidade dos líderes mundiais e dos seus modos de ação e de decisão.

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E a ONU deixou de ser ouvida pelos que querem o pior. O pior pode mesmo acontecer.

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Há momentos na História em que as civilizações parecem caminhar para o suicídio. Não será com o nosso silêncio.

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Nenhuma solução virá da guerra. 

Álvaro Siza Vieira, Ana Drago e mais 14 personalidades de várias áreas da nossa sociedade, “Público” (sem link)

 

O comércio e o financiamento internacional deveriam promover o desenvolvimento.

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Para muitos países pobres, tornaram-se mecanismos de aprofundamento da desigualdade.

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A atual crise da dívida afeta mais de 100 países, sendo que 60% das nações de baixo rendimento estão em risco de sobre-endividamento.

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Em 48 países em desenvolvimento, os pagamentos de juros da dívida superam os orçamentos da saúde e da educação. Nestes países vivem 3,3 mil milhões de pessoas.

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[A dívida] é uma barreira estrutural ao desenvolvimento.

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Países da África subsaariana, por exemplo, detêm apenas 2% da dívida pública mundial, mas enfrentam encargos de pagamento desproporcionais.

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Entre 2020 e 2024, a pobreza extrema voltou a aumentar e a insegurança alimentar afetou mais de 350 milhões de pessoas.

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Os países mais frágeis são também os mais silenciados nos fóruns internacionais.

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A promessa de que o comércio global impulsionaria o desenvolvimento falhou para os países mais pobres.

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A diversificação de fontes de financiamento não se refletiu nos países economicamente menos desenvolvidos

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Os países ricos continuam a subsidiar os combustíveis fósseis em valores muito superiores ao financiamento climático internacional.

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Em 2023, os países do Sul gastaram mais de 12 vezes em pagamento de dívida do que no combate às alterações climáticas.

Ana Patrícia Fonseca, “Público” (sem link)


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