domingo, 27 de setembro de 2015

“O CENTRO TEM DE SER SEMPRE A PESSOA”


Já nos habituámos a ouvir o Papa Francisco chamar os bois pelos nomes, sem quaisquer rodeios.
O chefe da Igreja Católica, com esta postura, vai granjeando inimigos por todo o sistema capitalista, seu alvo de muitas críticas directas. Talvez não seja tão enigmática quanto possa parecer a afirmação do Papa no sentido de pensar que o seu pontificado iria ser curto. Para bom entendedor…
Curiosamente, Francisco não está a fazer mais do que pôr em prática a mensagem do Evangelho, sempre deturpada, ao longo de milénios, em favor dos ricos e poderosos. Quando há pouco tempo o apelidaram de “socialista”, a sua resposta foi de que, se ele é socialista, também Cristo o era. Enfim, vamos esperar que o seu pontificado se prolongue pelo tempo suficiente para, seguindo a actual linha, lance as bases de uma religião realmente ao serviço dos mais pobres e desprotegidos ou seja, de uma verdadeira justiça social.
A postura do Papa serve de pretexto para o pequeno excerto da crónica de Frei Bento Domingues, hoje no Público cuja leitura recomendamos vivamente.  
Não renego o que escrevi, mas a realidade actual é outra. A jornalista Aura Miguel perguntou ao Papa Francisco como estava a viver a crise dos refugiados. A resposta deveria ser o nosso texto de meditação para não nos satisfazermos com alguns gestos de solidariedade, deixando o mundo correr na sua loucura para a guerra que se prepara sob os nossos olhos: “Vemos estes refugiados, esta pobre gente que escapa da guerra, da fome, mas essa é a ponta do icebergue. Porque debaixo dele, está a causa; e a causa é um sistema socioeconómico mau e injusto, porque dentro de um sistema económico, dentro de tudo, dentro do mundo - falando do problema ecológico -, dentro da sociedade socioeconómica, dentro da política, o centro tem de ser sempre a pessoa. E o sistema económico dominante, hoje em dia, descentrou a pessoa, colocando no centro o deus dinheiro, que é o ídolo da moda. Ou seja, há estatísticas, não me recordo bem (isto não é exacto e posso equivocar-me), mas 17% da população mundial detém 80% das riquezas”.
Os ídolos da eterna juventude, do permanente crescimento económico, do dinheiro, do totalitarismo da falsa comunicação alimentam-se do desejo de todos ao serviço de uma elite.

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