(…)
Na OLP
era perfeitamente visível o extraordinário papel das mulheres na luta mais
geral do povo palestiniano pelo direito a edificar o seu Estado livre e
soberano da ocupação israelita.
(…)
Estes
países tinham uma conceção do islão que permitiu aos movimentos de libertação
nacional integrá-lo de forma positiva nesse quadro político e sociológico.
(…)
O
Afeganistão dos anos 60/70 era nesta matéria um país ainda mais avançado nos
grandes centros urbanos onde as mulheres tinham o seu papel nos mais variados
setores da vida económica, social e cultural.
(…)
[A
partir dos anos 80] a Arábia Saudita espalhou por todo o mundo muçulmano os
seus pregadores e as suas escolas de difusão do wahabismo sunita, a versão mais
fundamentalista e retrógrada do islão.
(…)
Com a
invasão do Afeganistão pela URSS, a Arábia Saudita investiu com os EUA somas
incalculáveis de dólares no apoio aos autodesignados mujahedin.
(…)
A
implosão da URSS também contribuiu para uma viragem do nacionalismo árabe para
uma visão fundamentalista que a Arábia Saudita impulsionou.
(…)
[Com a desastrosa invasão do Iraque] o Islão
apareceu aos muçulmanos como a sua única identidade.
(…)
O papel da mulher na Arábia Saudita serviu
também de inspiração aos taliban.
(…)
Foi daquele país que se transpôs a sharia para ser a lei fundamental, ou seja, a Constituição do país.
(…)
Os jihadistas sunitas beberam até a última gota
este fel/inferno que impõem às mulheres onde tomam o poder.
(…)
Num
mundo em que o tempo acelera, os talibans vão tentar impor o regresso ao
passado com
todo o cortejo de horrores.
Domingos Lopes, “Público” (sem link)
[A
última] década [foi] de retrocesso e resistência, marcada pela visibilidade das
lutas feministas e por (muitos) recuos.
(…)
Dez anos marcados pela ascensão da
extrema-direita e pela crise pandémica,
demolindo décadas de conquistas nos direitos das mulheres.
(…)
Somos, ainda, cidadãs de segunda – mesmo nos
contextos onde os direitos das mulheres são formalmente consagrados.
(…)
O masculino (falsamente neutro) é ainda a
norma: na tecnologia, nas políticas públicas, nos transportes, no planeamento
urbano.
(…)
Habitamos um mundo desenhado para homens e que
negligencia as necessidades específicas de metade da população.
(…)
Nestes
dez anos, assistimos à expansão da extrema-direita e às eleições de Trump e
Bolsonaro, galvanizadas pela misoginia descarada e orgulhosa.
(…)
Em
Portugal, pela mão de um oportunista (mais do que um fascista convicto – o que
talvez o torne perigosamente hábil), assiste-se também à intensificação do
discurso de ódio racista e sexista.
(…)
Tudo
isto é impossível de compreender sem ter em conta a hegemonia da masculinidade e a
construção do género enquanto poder.
(…)
Também na luta contra a violência sexual – o
pilar da dominação masculina – assistimos a avanços e recuos.
(…)
Perante
todos os retrocessos, uma conquista: a consciência colectiva de que a violência
sexual é infernalmente comum, e não uma aberração biográfica.
(…)
Em
Portugal, as reacções ao #Metoo (chegámos a ter um #EuTambém?) foram
sintomáticas do quão presente e resistente é ainda a cultura da violação, que
normaliza a violência sexual e pune as vítimas que denunciam.
(…)
Em Portugal, emergiram colectivos, associações
e plataformas feministas, de diferentes cunhos e orientações políticas.
(…)
Ocupámos mais espaços, construímos redes. Somos
mais visíveis, estamos mais vocais.
(…)
A vitória da visibilidade do discurso feminista
não é, porém, isenta de perigos e recuos.
(…)
Tendemos
a falar mais em igualdade de género do que em direitos das mulheres, em violência
de género do que em violência contra as mulheres.
(…)
Os
últimos dez anos relembram-nos que não há direitos perpetuamente adquiridos, que possamos
tomar por seguros: tudo é reversível, a todo o tempo, em todas as partes do
mundo.
Maria João Faustino, “Público” (sem link)
O conteúdo [do discurso de
Guterres na abertura da 76.ª
Assembleia Geral da ONU] não é um rol de más notícias de um arauto da desgraça,
mas sim a identificação de uma parte significativa de problemas que a sociedade
humana deve encarar.
(…)
Os grandes poderes
económicos e financeiros, que se alimentam das divisões e de empurrar contínuo
de milhões de seres humanos para o precipício, estão em condições de dizer
"os cães ladram, a caravana passa".
(…)
Além disso, foi bem
evidente que muitos países têm, em altos cargos do Estado, irresponsáveis e
oportunistas de várias matizes e até autênticos facínoras políticos, como
Bolsonaro.
(…)
A maioria dos seres humanos
vão sendo atomizados, acantonados no individualismo, distanciados do papel das
organizações e instituições das democracias.
(…)
No manifesto internacional
do movimento ambientalista "Fridays for Future" que convocou a Greve
Climática Estudantil desta sexta-feira, constatam-se alertas para a relação
entre problemas ambientais e sociais.
(…)
Hoje, na contratação de
jovens quadros altamente qualificados, começa a ser comum oferecer um salário
de mil euros ou pouco mais.
(…)
Surgem bem identificados
por António Guterres grandes campos de problemas com que se depara a
Humanidade: a paz; a crise climática; o fosso entre ricos e pobres; a
desigualdade de género; o acesso ao digital; e a disfunção e ruturas entre
gerações.
Seria
preciso esperar pela segunda década do presente século para que a paridade
legal chegasse finalmente a vários domínios concretos da vida das pessoas LGBTI
(…)
Desde 2018, o país dispõe também de uma
Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação.
(…)
Perante
todos estes avanços, não é de surpreender que Portugal ocupe em 2021 a
quarta posição no Rainbow
Map, um relatório anual que classifica
e analisa a situação jurídica e política das pessoas LGBTI em 49 países
europeus.
(…)
Foi
notória, ao longo dos últimos dez anos, a abertura paulatina do país à
diversidade sexual e de género e à celebração dos direitos humanos LGBTI.
(…)
Por
outro lado, não obstante todas estas mudanças positivas, o preconceito e a
discriminação ainda se fazem sentir no dia-a-dia das pessoas LGBTI em Portugal.
(…)
De
ressaltar ainda que, dentro do grupo LGBTI, foram as pessoas com identidades
trans e intersexuais que reportaram experiências mais negativas.
(…)
Muitos são os desafios colocados por este cenário
de crescente igualdade legal, progressiva visibilidade social mas também de
persistente discriminação.
(…)
O
progresso não é, pois, linear e, mais do que nunca, é preciso garantir não só a
igualdade legal plena, mas acções concretas no terreno.
Jorge Gato, “Público” (sem link)
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