(…)
Mas
contratualizado com quem, para fazer que programas, com que prazos e metas,
sujeito a que processos de verificação, isso já é perguntar demais.
(…)
Tem
sido notado que, deste modo, o Governo promove uma deriva plebiscitária,
esvazia a característica local da eleição autárquica e reforça a transformação
do PS em partido-regime.
(…)
Responsáveis
políticos, a começar pelo Governo, entendem que acenar com a promessa
clientelar é a forma de legitimação do poder.
(…)
O
menosprezo pela cidadania é tão arreigado que a política se reduz assim a uma
subordinação das autarquias e a uma instrumentalização da expectativa das
populações, convictos de que o que o povo quer é milhões, ou até somente a
promessa de milhões.
(…)
Alguns
chamarão a isto atrofia democrática, talvez seja melhor dizer menosprezo
desdemocrático.
(…)
Pior,
muitos dos problemas maiores da nossa vida local ficarão por resolver.
(…)
Mas
quem vai cobrar as promessas depois de domingo?
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Oito em cada dez novos empregos criados este ano são precários.
(…)
Crises
como a de 2011 ou a pandémica criam vagas imediatas de desemprego que afetam os
mais desprotegidos.
(…)
Até
empregos mais estáveis passam a instáveis, sem que voltem à situação
anterior.
(…)
Lançados
para a desproteção, os trabalhadores são obrigados a aceitar tudo.
(…)
Para
além de apoio social, o subsídio de desemprego serve para impedir que o
desespero de uma crise tenha como consequência imediata a redução geral dos
salários e das condições de trabalho.
(…)
O
problema deste país, que tem dos mais altos níveis de precariedade da Europa,
não é excesso de apoio. É muitos serem obrigados a aceitar a exploração
absoluta por não o terem.
(…)
Como se vê pelos números, não faltam
empregos e empregados. Faltam direitos nesses empregos.
(…)
Se
permitirmos que a transição energética seja usada para encostar os
trabalhadores à parede, entregaremos o povo ao negacionismo e o país à
desindustrialização das últimas décadas.
(…)
[Estamos]
entalados entre o cinismo e a insensibilidade social.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
[Biden] pediu ao departamento de
gestão e orçamento da sua administração e ao colégio de conselheiros económicos
um levantamento de quanto é que os multimilionários norte-americanos pagam em
impostos federais.
(…)
Nove
meses após tomar posse, teve a resposta que queria e que confirma a sua
convicção de que o código tributário norte-americano recompensa a riqueza e não
o trabalho.
(…)
A
análise feita “sugere” que as 400 famílias mais ricas dos Estados Unidos
— que têm um património líquido entre 2,1 mil milhões e 160 mil milhões de
dólares — pagam de imposto federal sobre os rendimentos (pessoas singulares)
uma média de 8% por ano.
(…)
Hoje,
o escalão mais alto para as “pessoas singulares” é de 37%
e para as empresas é de 21% (corte feito em 2017 pelo então
Presidente Donald Trump).
(…)
Os
super-ricos pagam 37% ou 8%? Parece estranho, mas ninguém sabe exactamente
quanto é que os multimilionários norte-americanos pagam de impostos.
(…)
O
cálculo de Biden para aferir a taxa de impostos que os super-ricos pagam é
diferente da maioria dos cálculos que costumamos ver.
(…)
Biden salta por cima da regra comummente aceite de que as
acções só são rendimento quando são vendidas.
(…)
Com o
cálculo feito desta forma, a percentagem de impostos paga pelos super-ricos
passa a ser muito menor do que a que é feita por outros analistas.
(…)
A análise
do cálculo de Biden foi publicada com um lamento sobre a “falta de
transparência do sistema fiscal” e sobre o facto de a opacidade facilitar o
desconhecimento dos cidadãos e o desconhecimento do próprio Estado sobre quem
paga o quê.
Bárbara Reis, “Público” (sem link)
Em
autárquicas e no contexto atual, é intolerável que um candidato insinue que o
seu alinhamento com o Governo facilita o financiamento no PRR ou, pior ainda,
que sejam os próprios governantes a promover o favorecimento de determinados autarcas
nos discursos que fazem.
(…)
Na
verdade, a crítica que tem sido feita é de outra natureza: o primeiro-ministro
anda a fazer promessas por todo o país, financiadas por recursos da ‘bazuca’.
(…)
[As
campanhas devem ser, sobretudo,] para os políticos se comprometerem com
objetivos concretos.
(…)
São as
promessas que permitem aos eleitores, mais tarde, avaliarem o desempenho de
quem governa.
(…)
Garantidamente,
sem democracia e sem eleições não teríamos promessas.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
A luta
anti-racista tem um longo passado e uma longa tradição de resistência à
opressão inerente aos sistemas sociais que nos envolvem.
(…)
[Movimentos
como Black Lives Matter] surgem de um sistema político e económico que precisou
de se expandir para a periferia para a sua manutenção, iniciando processos que
nós hoje em Portugal relembramos como os “Descobrimentos”.
(…)
O
messianismo branco que procurava converter as culturas “bárbaras e primitivas”
em culturas “ocidentalizadas e civilizadas” limpava a consciência que muitas
das pessoas desses territórios tinham sobre si próprias, de quem eram e porque
resistiam.
(…)
Vários
líderes africanos encontraram um sentimento colectivo de revolta, de unidade e
de luta que foi crucial para a transformação cultural e social necessária para
uma mudança política.
(…)
Devolver
a humanidade às pessoas que se viram sistemicamente privadas dela é a luta que
activistas de grupos como os Black Panthers também tentaram travar num
contexto completamente diferente.
(…)
Amílcar
Cabral dizia que o imperialismo europeu, no processo histórico, era inevitável,
tal como era inevitável a luta de libertação africana.
(…)
Nos últimos dez anos, Portugal tem-se demarcado muito
relativamente à questão étnico-racial.
(…)
Havia uma certa sensação de desprestígio em reconhecer os
problemas sociais que nos afligiam.
(…)
O
movimento Black Lives Matter surgiu em 2014 e a alterar o discurso racial que
existia em todo o mundo, tornando evidente a violência que afligia os corpos de
outros que eram jovens crianças, tal como eu.
(…)
A
sensação de mudança tem encontrado uma ausência de políticas estruturais que
nos permitam ultrapassar este sistema e estas políticas que nos matam, a
necropolítica com a qual não seremos mais complacentes.
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