(…)
O
efeito da repetição e da partilha de uma mesma realidade distorcida desinibe,
dá força, leva à ação.
(…)
Para
não ir na voragem da incomunicabilidade, estou a fazer um esforço para
compreender a turba ensandecida que aponta megafones para um restaurante e
chama “assassino” à segunda figura do Estado, enquanto ele almoça com a sua
família.
(…)
A
aplicação exemplar da lei também é uma chamada para a realidade, para que não
se convençam que passou a ser normal o que nunca foi.
(…)
Aceitar
que, passada a fase aguda, viveremos com mais um vírus entre nós. Tirar as
máscaras na rua, depois nos espaços fechados.
(…)
Prolongar
o que não tem de ser prolongado é fabricar negacionistas.
(…)
As
manifestações de ódio, que noutros países perigam a vacinação, são o termostato
a funcionar.
(…)
Agora,
concentremo-nos em vacinar as populações dos países pobres, de onde podem vir
novas variantes.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Com a
vacinação a liderar os rankings mundiais, o chalupismo negacionista está
bastante circunscrito entre nós.
(…)
É
fundamental garantir que quem não se revê no esforço comum, tenha todo o
direito a exprimir o seu descontentamento.
(…)
Contudo,
nada legitima que se ultrapassem os limites da lei e que se tolere uma escalada
de insultos e agressões nas redes sociais, que se transfere sempre para as
ruas.
(…)
Há, no
momento atual, elementos de descontinuidade que trazem novas ameaças.
(…)
[Com a
pandemia] as perturbações emocionais e psicológicas acentuaram-se e, em muitos
casos, tornar-se-ão irreversíveis.
(…)
Em
parte, o protesto deve ser tratado como resultante do conjunto de casos
clínicos que o formam.
(…)
Depois,
as redes sociais, enquanto servem de repositório de frustrações, são
instrumentais na disseminação de informação falsa.
(…)
Se
sempre existiu um submundo mobilizado pela desinformação, é um erro não
reconhecer que há agora instrumentos que são verdadeiras armas de destruição
maciça de uma sociedade decente.
(…)
Como
sempre acontece, a extrema-direita é particularmente eficaz no modo como
instrumentaliza e confere propósito a este tipo de protestos.
(…)
Os chalupas são poucos e a pandemia
acabará por passar, mas não desvalorizemos o legado de protesto e as feridas
que deixará no tecido democrático.
Pedro Adão e
Silva, “Expresso” (sem link)
O anúncio da construção de um hospital privado em Beja retoma a
discussão sobre os papéis do sector público e do sector privado na prestação de
cuidados de saúde à população.
(…)
É do conhecimento geral
que que a actividade lucrativa da saúde não desistirá de se expandir, sobretudo na área hospitalar,
(…)
Actualmente, o volume de
estabelecimentos hospitalares privados e de camas já é superior aos do sector
público (114/111 hospitais e 11.281/10.863 camas) (www.jornaleconomico.pt),
os meios complementares de diagnóstico e terapêutica também são dominantes
nesse sector.
(…)
Será por esta razão que a CIP fez
recentemente exigências ao governo para que em sede do Orçamento do Estado para
2022 aumentasse o orçamento da saúde de maneira a fazer face às novas tabelas
dos preços praticados aos beneficiários da ADSE.
(…)
No melhor dos casos, como já muitas
vezes foi dito, [o SNS ficaria reservado] para aquela faixa da população que
não está coberta pela ADSE nem tem acesso a um seguro de saúde.
(…)
Adiar por mais tempo a aprovação [do
Estatuto do Serviço Nacional de Saúde], materializando os princípios e
orientações da Lei de Bases, é dar um sinal de hesitação quanto ao que fazer.
(…)
O Estatuto perfeito será aquele que dê
garantias que as pessoas são cuidadas pelo SNS desde que nascem até que morrem.
(…)
O Estatuto perfeito
será aquele cuja abrangência e exaustividade sirva para melhorar a saúde das
pessoas, individual e colectivamente consideradas.
(…)
O Estatuto perfeito será aquele que
exigirá que do topo à base todos os seus dirigentes partilhem dos valores do
SNS, se dediquem exclusivamente a ele, sejam capazes e competentes, tenham o
espírito de missão e de serviço à causa pública.
Cipriano Justo,
“Público” (sem link)
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma
das maiores e melhores conquistas da democracia portuguesa porque passou a
colocar a saúde como um bem essencial universal, ao alcance de todos, e não
como o privilégio daqueles que a podem pagar.
(…)
Mas não nos enganemos: no quotidiano, o
que não é público é para quem tem o privilégio de o poder pagar.
(…)
Portugal não tem falta
de médicos. O SNS tem falta médicos.
(…)
Concerne aos deveres da ministra da
Saúde a preocupação com a falta de condições de trabalho no SNS, que têm levado
ao êxodo dos profissionais de saúde para os outros sectores, que dão condições
mais dignas.
(…)
A perda dos já especialistas do SNS por
falta de cativações é mais evidente desde 2009, com a alteração dos regimes de
dedicação exclusiva ao SNS, bem como o crescente apelo para a prática médica
fora do SNS.
(…)
É, portanto, clara a
urgência na solução que passa por tornar o SNS atractivo.
(…)
O primeiro-ministro não deveria contribuir para a desinformação da
população em saúde. Mas escolhem-se medidas populistas, que dão votos.
(…)
Há que projectar a
longo alcance os recursos de saúde, humanos e materiais, em Portugal.
Sara
Velho Meirinhos, “Público” (sem
link)
Na Espanha de hoje, como em muitos
outros países do mundo dito desenvolvido, a pobreza transformou-se em ser e
quase nunca estar.
(…)
Em resultado disso, o fosso cava-se e o
país acentua o desenvolvimento a duas velocidades (53% da riqueza está na mão
dos 10% mais ricos)
(…)
Mais de um quinto da população espanhola
(21%) vive abaixo do limiar da pobreza e o número de pobres cresceu, segundo a
Oxfam, 22,9% num ano.
(…)
Como o modelo espanhol de redistribuição
e protecção social não consegue responder à situação, muitos grupos sociais
estão cada vez mais marginalizados.
(…)
Com o “buraco da
desigualdade” gera-se uma “sensação de descontentamento e injustiça social” que
leva à revolta.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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