sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

CITAÇÕES

 
O novo normal nasceu do que já havia e todas as suas características estavam inscritas no que agora nos parece uma era de placidez, se comparada com a turbulência presente.

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Já lá estava a guerra infinita e o “novo século americano”. Uma e outro eram os enunciados dos neoconservadores que chegaram ao poder com o segundo Bush e que desencadearam a ocupação do Afeganistão e depois do Iraque. 

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Guerra infinita, é uma mudança sem retorno.

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A guerra publicitada à exaustão, a imagem de uma turma de crianças morta em cada dia em Gaza, as pessoas a esvaírem-se em sangue e lágrimas, nada disso é uma mera expressão da verdade televisionada – é uma exibição do argumento do medo.

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A amputação dos direitos universais é o segundo caminho sem retorno.

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[Há ainda outra mudança em curso que é] a deslocação de sectores importantes da burguesia para o financiamento e a instrumentalização miliciana da extrema-direita.

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Os mandarins da comunicação precisam de governos subordinados que blindem o seu poder. E essa é outra mudança sem retorno.

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A luta pela paz não será equiparável à dos anos 1980, a da democracia não será como a das sufragistas, a dos movimentos populares não repetirá a de 1917, 1936, 1945 ou 1968. É um caminho com escassa bússola.

FranciscoLoução, Esquerda.net

 

Foram precisos 33 anos de democracia e dois referendos para que Portugal descriminalizasse a interrupção voluntária da gravidez (IVG).

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A lei foi aprovada em 2007 e foi uma enorme vitória das mulheres. 

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Nestes 18 anos, terminou a humilhação das mulheres levadas a tribunal. E, com isso, Portugal tornou-se num país mais decente.

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Passados 18 anos, é altura de aperfeiçoar a lei e assegurar que esta pode ser cumprida.

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Os obstáculos de acesso à IVG são reais. Há mulheres que se deslocam aos hospitais da sua área de residência e a quem lhes é negado o acesso a consulta prévia.

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Por fim, o prazo de dez semanas é um dos mais restritivos na Europa no que toca à IVG.

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Alemanha, Espanha, Bélgica, Luxemburgo e Roménia permitem-na até às 14 semanas.

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Se Portugal conseguiu dar um passo de gigante em 2007, não podemos, em 2025, ignorar que esse direito está a ser comprometido.

Isabel Pires, JN

 

O imperialismo do século XVIII e XIX está de volta nas mãos de Donald Trump como se o ramo imobiliário invadisse o direito internacional para licitar territórios, soberanias e questionar a autodeterminação dos povos.

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O impossível tem acontecido com uma sucessão assustadora de previsibilidade sobre o que é abjecto.

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Ninguém verdadeiramente quer saber de algo senão do alimento informativo sem contrafactual que lhe é servido, um festim e um regalo para os ditadores e déspotas.

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O novo politicamente correcto é a distribuição pretensamente libertadora de mentiras, falsos julgamentos e farsas factuais ou temporalmente desinseridas da cronologia.

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Mais do que o reconhecimento do “Triunfo dos porcos”, de Orwell, terá de significar um desafio crítico para o pensamento de uma Europa que tem mesmo de decidir se é capaz de um súbito reconhecimento de autoestima ou se definhará.

Miguel Guedes, JN

 

O mundo mantém-se unido graças ao amor e à paixão de muito poucas pessoas, dizia James Baldwin. Algumas dessas pessoas estarão presentes neste sábado, dia 11 de janeiro, na manifestação “Não nos encostem à parede

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São ainda poucas as pessoas que realmente lutam por um mundo mais justo e igualitário.

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É a estas poucas pessoas, que muitas vezes sacrificaram a própria vida, que devemos grande parte dos direitos de que hoje usufruímos e tomamos como garantidos.

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Em 2025, segundo a ONU, ainda nenhum país no mundo atingiu a igualdade de género, e a este ritmo precisaríamos de esperar mais 300 anos para a poderemos alcançar.

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Imagine-se então em que nível de desigualdade estaríamos hoje sem as chatas das feministas.

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A desunião do mundo também se deve, em grande medida, ao ódio e à violência de um pequeno número de pessoas com poder, capazes de arrastar consigo muitas outras.

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Jean-Marie Le Pen, patriarca da extrema-direita em França, falecido esta semana aos 96 anos [não] deixa saudades por causa dos seus vínculos com grupos nazis e neonazis, pelas suas declarações, que lhe valeram várias condenações, de incitação ao ódio, revisionistas, negacionistas, antissemitas, racistas, xenófobas, islamofóbicas, LGBTfóbicas.

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Jean-Marie Le Pen não me deixa saudades, mas tenho saudades de um tempo em que estes líderes da extrema-direita diziam, sem qualquer pudor, ao que vinham.

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Saudades do tempo em que o choque de ver a extrema-direita chegar pela primeira vez à segunda volta das presidenciais francesas em 2002 fez, como eu, milhões de pessoas saírem às ruas para protestar.

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Saudades do tempo em que se organizavam petições em larga escala para proibir partidos de extrema-direita porque ainda não se tinha esquecido o que realmente significavam e qual era o seu perigo.

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Saudades de quando a direita republicana defendia o cordão sanitário contra a extrema-direita. De quando acreditávamos que, em Portugal, nada disso seria possível.

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Saudades de quando, por causa da nossa Constituição, a comunicação social internacional se referia ao nosso país como um “oásis democrático”.

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Não, não tenho saudades do Jean-Marie Le Pen, mas tenho saudades da urgência e da convicção com que, naquele tempo, levávamos a sério o que representava.

Luísa Semedo, “Público” (sem link)

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