sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

CITAÇÕES

 
A noite de 15 para 16 de Janeiro de 2025 ia ser a mais feliz em Gaza desde quando as crianças já nem podem lembrar.

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Milhares de pessoas começaram a juntar-se em frente aos ecrãs, antes mesmo de as televisões mostrarem imagens do Qatar onde a todo o momento se esperava o anúncio do cessar-fogo.

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Vi gente a cantar, a dançar, a falar do que ia comer ou cozinhar para a família, quando viesse o cessar-fogo.

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Gente radiante com a ideia de, enfim, voltar a casa, mesmo sabendo que talvez não haja casa, sabendo até que não haverá casa, só ruínas, mas no lugar onde estava a casa.

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Em Gaza, dezenas de milhares de mortos estão contados, e talvez dezenas de milhares de mortos não estarão contados.

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Nesta noite de 15 para 16 de Janeiro, as pessoas que passaram por isto eram ainda as que nos mostravam o que fazer: a prioridade que era, antes de tudo, o cessar-fogo.

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Os palestinianos viveram todas as desilusões possíveis com argúcia, e tantas vezes com humor.

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E na noite do anúncio do cessar-fogo mais uma vez nos ensinavam. Só pela alegria que é a pausa da morte.

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Podíamos ver assim, nessa noite que era de cessar-fogo anunciado, o que vimos ao longo destes 467 dias de genocídio: o zapping entre a vida maior que a morte em Gaza.

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Naquela sala do Qatar veio o anúncio, era verdade, ia acontecer. Mas, ao mesmo tempo que a alegria, as bombas também explodiam, Israel intensificava os ataques, os mortos iam disparando no zapping: vinte, trinta.

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Quando acordei eram já 81 mortos. Da noite que ia ser a mais feliz em Gaza. Alegria e agonia, quantos mais mortos até o cessar-fogo entrar em vigor?

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Mas os comunicados de Netanyahu eram a dizer que o Hamas voltara atrás no acordo, portanto ainda não havia aprovação do Governo.

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Entretanto, o Hamas garantia aos negociadores que não, tudo se mantinha

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O Haaretz publicara entretanto um texto muito interessante a explicar como Trump quer a normalização de Israel com a Arábia Saudita. E Israel e a Arábia Saudita também.

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A Trump, aos sauditas, aos emirados, aos sultanatos, interessam os negócios, e portanto interessa um cessar-fogo.

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A Israel também, mas não apenas. A Netanyahu interessa não ser preso.

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O que aconteceu nesta quinta-feira, 16 de Janeiro, é que enquanto Gaza esperava em agonia, e o mundo esperava parvo, o Governo israelita conseguia descer ainda mais baixo, transformar o próprio anúncio do cessar-fogo em mais crimes, indiferente à vida de milhões.

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O problema na aprovação do acordo não era o Hamas, eram as discussões entre Netanyahu e seus avatares Ben Gvir/Smotrich.

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Entretanto centenas de camiões de ajuda de emergência faziam fila à entrada de Gaza? É para o lado que o governo israelita dorme melhor.

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Os reféns ainda vivos agonizam, estarão em risco até de morrer nos bombardeamentos pós-anúncio do cessar-fogo?

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Que importa isso a um governo que podia ter assinado este acordo há muitos meses, quase um ano?

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A vida de milhões de palestinianos, de dezenas de reféns israelitas e do mundo em geral não interessa aos criminosos que governam Israel.

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No momento em que escrevo, 24 horas depois do anúncio de cessar-fogo, a agonia da espera em Gaza continua. Mas o dinheiro falará.

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Será a Cisjordânia, colonizada e anexada com aval dos EUA, parte do preço do cessar-fogo em Gaza?

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A rua árabe está com a Palestina, como a rua do mundo está com a Palestina. Os jovens das ruas do mundo estão e estarão.

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O que importa já é o cessar-fogo. Parar a morte.

Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)

 

Sem conhecermos as candidaturas, as sondagens sobre as presidenciais são das invenções mais absurdas do comércio politico-mediático. 

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A não ser que um candidato seja muito impopular ou muito popular, nem sequer é relevante o que os eleitores pensam deles neste momento.

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O que interessa é fazer o difícil esforço de projetar o que será cada candidato depois de se dar a conhecer numa campanha desta natureza. 

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A notoriedade não tem a relevância de outras eleições-

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A mobilização dos partidos é importante (cada vez menos), mas a performance dos candidatos em campanha vale muito mais.

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Marques Mendes, o candidato que, por inércia, é cada vez mais inevitável à direita. 

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De Ventura nem vale a pena falar. Se há cargo, ele candidata-se.

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É à esquerda que as incógnitas são maiores.

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É sabido que António José Seguro ouviu o chamamento dos seus amigos e tomou-os pelo país. 

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É demasiada gente ainda se lembrar dele. Falta de carisma e de ideias não é moderação. É falta de carisma e de ideias.

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A candidatura de Seguro seria de tal forma desmobilizadora que tornaria inevitável uma alternativa para os eleitores de esquerda, socialistas incluídos.

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Poderia ser Sampaio da Nóvoa. Sem apoio de um grande partido, vindo da sociedade civil e contrapondo a autoridade académica à militar, seria, como já escrevi, um bom contra-almirante.

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Num momento em que a democracia vive os maiores desafios dos últimos 50 anos, não lhe conhecemos [a Centeno] qualquer posição política para lá das contas certas e do mais baixo investimento público do século.

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O que está em causa é ir à segunda com o almirante, ultrapassando o candidato da direita, que vai dividida entre os candidatos da AD, da IL e do Chega.

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A esquerda precisa de concentrar o seu voto na primeira volta com um candidato que a mobilize para chegar à segunda.

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E, com Centeno fora, o campo fica perigosamente aberto para o desastre seguro de Seguro.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)


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