(…)
Mas tudo aponta para uma misteriosa incapacidade das
instituições públicas para fazer respeitar a suas próprias determinações.
(…)
É como se houvesse duas governações: uma a fingir e outra
efetiva.
(…)
O que tem valido ao país ainda é a coragem e a energia com
que vários movimentos de cidadãos atentos e informados têm vindo a fazer aquilo
que o seu próprio país não consegue.
(…)
[Há que] fazer prevalecer o interesse público sobre as forças
e interesses que vêm com perturbadora confiança usar o território do país pondo
em cheque o futuro de todos.
(…)
[Referimo-nos] às muitas dinâmicas públicas que se têm criado
resultantes da indignação com os abusos e atropelos que as instituições
consentem.
(…)
Destacamos alguns casos exemplares que são simultaneamente
defensores da sanidade democrática e do que ainda resta da qualidade ambiental
do país.
(…)
Logo em Trás-os-Montes, numa área classificada pela FAO/ONU
no âmbito do SIPAM (Sistema Importante do Património Agrícola Mundial), Covas
do Barroso, tem sido forte o movimento local contra a exploração de lítio
naquela zona.
(…)
Em Oeiras, as associações de moradores e os movimentos
Evoluir Oeiras e Vamos Salvar o Jamor já não têm mãos a medir com a brutalidade
do imobiliário.
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Entre Troia e Melides, devemos à Plataforma Dunas Livres a
denúncia dos abusos sistemáticos com que se pretende ali montar uma ‘nova Ibiza
da Europa’.
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Em Évora, a Plataforma cívica Juntos pelo Divor luta contra
duas megacentrais solares que cobrirão com 750 mil hectares de painéis
fotovoltaicos a freguesia da Graça do Divor.
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[No Algarve] um movimento de cidadãos e associações conseguiu
suster a absurda e ambientalmente desastrosa localização do novo Porto de
Recreio de Faro em plena ria Formosa.
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Por seu lado, a Plataforma dos Amigos da Lagoa dos Salgados
mobiliza já 35 mil pessoas para a conservação duma área protegida altamente
cobiçada.
(…)
Mas não deixa de ser intrigante que tenha de caber à
dedicação dos cidadãos aquilo que deveria ser uma função básica de um Estado de
direito.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
Na guerra da Ucrânia, os soldados dos dois lados, mortos e
feridos, não têm direito à revelação completa dos nomes. A lista de baixas está
transformada num segredo de Estado.
(…)
Que sabemos, verdadeiramente, sobre a experiência desses
soldados?...
(…)
Para nos aproximarmos de uma resposta teremos de recuar à I
Guerra Mundial (IGM). As semelhanças esmagam.
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Duas guerras de dominância industrial e tecnológica.
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As condições dos combatentes nas trincheiras são, em ambos os
casos, de enorme dureza, e os tempos médios de sobrevivência (sem algum tipo de
ferimento), podemos alvitrar, serão de escassos meses.
(…)
Na guerra, mesmo os sobreviventes prosseguem um cruel
combate. Entre culpa e redenção, para resgatar uma réstia de bondade humana dos
campos de batalha.
Algumas das medidas que [o Primeiro-Ministro identifica no
texto que publicou no JN no passado dia 1] para confirmar a sua tese tiveram
impacto positivo em franjas da sociedade.
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Mas no
que é estruturante atrofia a democracia e cava desigualdades.
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Os
entraves que se colocam na sua [do PRR] execução estão muito para além da falta
de mão de obra de que se fala.
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Para o
investimento ser fértil é necessário cuidar do lastro que o acolhe.
(…)
De
facto temos pobreza em dimensão que nos envergonha e pratica-se mais esmola que
cidadania social.
(…)
Porém, sejamos verdadeiros: uma das grandes conquistas
alcançadas [com o 25 de abril] foi ter-se acabado com a miséria e a desproteção
social em que vivia a maioria da população portuguesa, foi dar aos portugueses
cidadania.
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Há pobreza porque não se cumprem compromissos constitucionais
fundamentais.
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Primeiro, valorizar o trabalho, o emprego e a proteção social
e as suas interdependências, dar combate à precariedade laboral e acesso à
habitação.
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[Há também que] distribuir melhor a riqueza existente e a que
resultar do crescimento económico.
(…)
O contexto internacional e europeu e os obstáculos a vencer no
plano nacional exigem muita objetividade e análise crítica sobre toda a
poítica.
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