sexta-feira, 7 de outubro de 2016

“A EN 125 É UM CRIME”



O conhecimento da situação calamitosa que se passa na Estrada Nacional 125 (EN 125) já atravessou fronteiras e, nesta altura, dá forma a um negro cartão de visita para aqueles que pretendem gozar férias na a região mais a sul de Portugal. A via que atravessa o Algarve no sentido longitudinal pode ser  uma armadilha mortal para quem a utilizar porque apesar de ainda deter a designação de estrada nacional constitui em muitos troços da sua extensão uma autêntica rua, com todas as condicionantes que daí resultam. Todos os anos ocorre na 125 um número impressionante de acidentes com o cortejo de vítimas correspondente. Para além dos mortos, são incontáveis os feridos, muitos deles estropiados para toda a vida. É uma situação que há anos vem sendo denunciada perante vários governos e que, até agora, ainda não teve qualquer seguimento.
Todos os algarvios sabem que o problema que constitui a EN 125 tem uma solução mesmo ao lado, a Via do Infante. Mas, para que esta antiga SCUT passe a se alternativa, há que acabar com o pagamento pela sua utilização. A taxação da Via do Infante é quase criminosa porque está na origem de muitos mortos e feridos, sem que sucessivos governos revelassem vontade política de acabar com este desrespeito pelas populações locais e pelos inúmeros visitantes que se deslocam ao Algarve. Para combater esta situação constituiu-se mesmo a Comissão de Utentes da Via do Infante (CUVI) que tem levado a cabo inúmeras acções de luta no sentido de chamar a atenção dos poderes públicos para uma solução que tarda. Um dos dinamizadores da CUVI é João Vasconcelos, actual deputado do Algarve pelo Bloco de Esquerda cuja primeira acção que apresentou após a tomada de posse foi um projecto para abolição das portagens na Via do Infante, logo chumbado pelo PS e pela direita.
O texto seguinte, que retirámos da penúltima edição do semanário Barlavento (29/9/2016) forma um artigo de opinião (com o título acima) de um cidadão estrangeiro – Jack Sorfer, consultor internacional – onde é denunciado o anacronismo que constitui a situação actual da EN 125.
Há décadas que já não se fazem rotundas no norte da Europa, como as que estão a finalizar na EN125.  A alternativa encontrada é um sistema de gestão de trânsito mais inteligente e que já funciona há alguns anos. Os semáforos funcionam com o apoio de um microradar que lê a velocidade de cada viatura em aproximação ao cruzamento. Em nanosegundos, o processador calcula qual dos sentidos deve abrir para verde e por quanto tempo, até que todas as viaturas passem. Não é um tempo igual para todos os lados, mas variável, consoante os fluxos de tráfego, sobretudo de pesados como autocarros e camiões. O sistema chama-se SENSE. Também já não se fazem passeios como na zona suburbana da EN125. Fazem ciclovias de um dos lados. Há décadas que não se fazem, em subúrbios ou estradas, apenas duas faixas e bermas de cada lado. São feitas três faixas, sendo a do meio de sentido variável, para permitir ultrapassagens em vez de filas enormes como as da EN125. No acostamento há sinais a indicar a próxima berma e a próxima faixa de ultrapassagem. A atual reconstrução da EN125 é retrógrada, é impingir um projeto há muito esquecido e ultrapassado. É perigosa e vai trazer ainda mais mortes, pois como são poucos os espaços onde se pode ultrapassar em segurança, muitos arriscarão manobras sem visibilidade. Como o tempo de circulação na EN125 piorou bastante, muitos profissionais têm sido obrigados a pagar balúrdios para usar a A22, para manterem os seus negócios a funcionar. É o caso das empresas de transfers, por exemplo. Quem ganha, quem perde? Perdemos nós, quase todos os cidadãos algarvios e não só, que consideram o sistema de pagamento da A22 inteiramente obsoleto e socialmente injusto. Ganham os que exploram a A22, grandes cartéis estrangeiros, que tiveram o seu tráfego reduzido à metade. Ganham os grandes construtores que sabem que o atual investimento terá de ser refeito dentro de poucos anos.

Sem comentários:

Enviar um comentário