quarta-feira, 26 de abril de 2017

31 ANOS DO DESASTRE NUCLEAR DE CHERNOBIL



Passa hoje exactamente o 31º aniversário do gravíssimo acidente nuclear de Chernobil e talvez seja avisado recordar para as gerações mais novas esta terrível data na qual fica inscrito um dos acontecimentos igualmente mais terríveis para a história da humanidade. Por isso, o título 26 de Abril de 1986. Nunca o esqueceremos! que António Eloy, coordenador do Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) escolheu para o artigo de opinião que escreveu para a última edição do Expresso não podia ser melhor.  
É esse mesmo artigo que aqui vamos deixar na íntegra, não só para assinalar uma data que precisa ser mantida bem viva mas também para alertar consciências para o que se passa aqui bem perto de nós no que diz respeito à central nuclear de Almaraz.
Vivia-se na então URSS ainda no mito da sociedade perfeita, na alta capacidade da dita revolução técnica e científica e do homem novo.
Sabemos que assentava em pés de barro. No secretismo, na falta de informação ou na sua sonegação. Na falta de liberdades públicas e num regime que se baseava em clientelismos e compadrios, sem cultura de inovação nem de competição.
Sabemos que o dito homem novo não era senão um determinismo social e motivado por estímulos e não qualquer ilusão no horizonte.
Já na era de Gorbatchov a sociedade soviética preparava-se para a desagregação e a emergência de máfias, já em gestação, e o regresso do populismo czarista que tinha sido a dominância depois da revolução capitalista que derrubou o czar e instalou “os sovietes mais a eletricidade” que nunca foram senão a ditadura do grupo, ou mesmo do individuo, que se alapou com a máquina czarista, travestida com outro nome e com a expropriação primitiva das terras para acumulação, para a nomenclatura, das mais-valias.
Mas chegamos ao 26 de abril de 1986. Gorbatchov tentava salvar um sistema moribundo mas não esperava o que lhe caiu em cima.
Um grave, muito grave acidente nuclear, que como era habitual se tentou escamotear durante algum tempo. Só quando na Suécia se verificaram altos níveis de radiação e fecharam todas as suas centrais se soube o que se tinha passado. Um acidente considerado impossível, a explosão de um reator nuclear.
Ainda hoje continua o segredo imposto sobre os impactos da radiação na Ucrânia, Bielorrússia e Rússia, ainda hoje a catástrofe continua, ainda hoje milhões continuam a poder sofrer as consequências, muitos milhares já não estão para contar, o que hoje também sabemos pelos magníficos livros da Nobel Svetlana Alexievich.
E ainda hoje parece que nada ocorreu para as empresas que continuam, apesar dos acidentes anteriores em Semipalatinsk, Harriburg ou posteriores em Fukushima, e de tantos, tantos outros que quase diariamente ocorrem em alguma das cerca de 400 centrais em todo o mundo.
A nuclear, além das centrais tem um longo historial de contaminação radioativa, desde as bombas de Hiroxima e Nagasáqui, a Semipalatinsk, aos locais de mineração ou de cemitérios nucleares, muitos nos mares, ou ao urânio enriquecido usado como perfurante e que já, tal como as bombas, já mataram cidadãos nacionais.
Mas hoje voltemos a Chernobil, no seu aniversário. Milhares de mortos depois, segundo registos de ONG que não têm as restrições da OMS que só conta os diretamente falecidos, uma zona imensa em continuação de restrição total (apesar de exploração do horror por “turismo” de aventura) e continuam a vender-nos que não há riscos, que fiquemos sossegados.
Nas sete centrais nucleares ibéricas em funcionamento, quase todas a chegar aos quarenta anos, mais de 10 da sua estimativa de vida inicial, o risco é geometricamente crescente. Os problemas, as falhas, as paragens “técnicas” as omissões, os segredos e as mentiras fazem parte do dia a dia.
As empresas titulares compram ou influenciam de forma insidiosa as autoridades, o Conselho de Segurança Nuclear, a sua administração política, não tem a mínima competência para (contrariando os pareceres dos técnicos!) dar luz verde a uma continuação de uma atividade industrial que além de desnecessária coloca em risco a nossa vida.
Hoje lembramos Chernobil. Porque temos Chernobil aqui, aqui ao pé de nós.
Vamos fechar Almaraz e todas as demais (centrais). Vamos levar o tema à Cimeira Ibérica, vamos manifestar-nos em Madrid no dia 10 de junho. Não, não nos vamos calar!

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