(…)
Compreende-se
esta aceitação geral: é o medo da morte que nos determina.
(…)
A
verdade é que, em várias dimensões da nossa vida estamos há muito no retângulo da
morte.
(…)
Desde
que as Nações Unidas reconheceram a existência de alterações climáticas nos
anos 70, as emissões mundiais de gases com efeito de estufa duplicaram.
(…)
Estamos
no retângulo ambiental vermelho e continuamos a ter políticas que sãp, para o
Ambiente equivalentes ao que as festas clandestinas ou o não uso de máscaras
são para a Covid.
(…)
São
eles [os nossos filhos e netos] os grupos de risco e, irresponsavelmente, não estamos
a encará-los como tal, antes a acelerar a sua morte.
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Quando
a catástrofe ambiental se tornar irreversível, não haverá vacina para a fazer recuar.
(…)
No
domínio [da habitação] estamos no retângulo vermelho há décadas.
(…)
Quem
entregou ao mercado e à banca a satisfação do direito à habitação sabia o que
daí ia resultar.
(…)
É, há tempo
demais, de uma situação de catástrofe que se trata.
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Continuamos
a aceitar políticas de promoção da aquisição face ao arrendamento mesmo sabendo
que o recurso ao crédito afoga muitas famílias em dívidas que não conseguem
pagar.
(…)
Passar
do retângulo vermelho para os amarelos ou para o verde supõe a coragem de
reverter estas políticas de décadas e deixarmos de olhar a habitação como um
assunto do mercado, mas sim como um direito de todos.
José Manuel Pureza, “Visão” (sem link)
Duas dezenas de países, quase todos da UE, fizeram uma “pausa” na
vacinação com a AstraZeneca.
(…)
Se este efeito [eventos tromboembólicos] leva a suspender
um fármaco, teremos um baby boom na envelhecida Europa daqui a um ano, com a
suspensão imediata da pílula.
(…)
Ao reagir desordenadamente ao medo das pessoas, as autoridades
minaram a credibilidade deste processo [das vacinas].
(…)
E os sucessivos atrasos têm custos em vidas perdidas,
incomensuravelmente superiores a qualquer efeito detetado nas vacinas.
(…)
Não é preciso ser cientista para saber que é impossível vencer uma
pandemia com base na fantasia do risco zero.
(…)
Quando tudo falha, a maioria dos europeus ou responsabiliza a
Europa, como entidade abstrata, ou os políticos nacionais.
(…)
Esta ausência de pressão popular torna-a mais suscetível à pressão
dos poderes económicos. É por isso que a União é incapaz de se impor às
farmacêuticas.
(…)
Se a forma que tem de o fazer é parar a vacinação, pondo vidas em
risco, estamos ainda pior do que eu pensava.
(…)
Os acordos de comércio internacionais permitem levantar as
patentes quando esteja em causa a saúde pública, mas Bruxelas come e cala
enquanto a indústria farmacêutica incumpre prazos de entrega.
(…)
Há uma crise de autoridade democrática. Para baixo, como se vê
pela suspensão descoordenada na vacinação, os Governos nacionais são incapazes
de resistir ao medo das pessoas.
(…)
Para cima, como se vê pelo fiasco da vacinação na Europa, a
Comissão Europeia é incapaz de se impor às farmacêuticas.
(…)
O mal está feito e esta semana os antivacinas fizeram a festa.
(…)
Milhões dispensam uma vacina que os pobres do mundo adorariam ter
para si.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A ideia de uma trajetória moral feita de avanços e recuos e que,
no fim, assenta na vitória da justiça é poderosa e reconfortante.
(…)
As nossas sociedades foram progredindo à medida que a escola
conquistou espaço ao território hegemónico das famílias, tornando o acesso à
educação mais democrático e um instrumento eficaz de mobilidade social.
(…)
O progresso é indissociável da forma como o trabalho tornou a vida
privada um espaço autónomo, dando novas possibilidades de lazer.
(…)
Não é difícil perceber que o grande confinamento representou um
retrocesso nesta caminhada.
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Em apenas um ano, a escola regressou a casa, trazendo à tona
desigualdades estruturais que perdurarão.
(…)
Vivemos um tempo em que o arco de progresso recua.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
Trinta e cinco anos depois [do ingresso na UE]
é fácil ver que se cumpriu o destino: Portugal progrediu até ao limite do que
era permitido a um país semi-periférico. E aí permanecemos.
(…)
O PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] segue
acriticamente as receitas vindas da UE (resiliência, transição digital e
transição climática), em vez de proceder a uma análise profunda, retrospectiva
e prospectiva, das realidades do país e de, à luz dela, propor variações que
sejam não apenas benéficas para o país mas para o conjunto da União.
(…)
Uma reflexão sobre a nossa realidade levaria a
questionar muitas das opções do PRR.
Boaventura Sousa
Santos, “Público” (sem link)
Ambas as organizações [Maçonaria e Opus Dei] podem
gerar efeitos políticos semelhantes, no âmbito do clientelismo e do
patrocinato, mas são diferentes na sua génese e no seu modus operandi.
(…)
Penso, de resto, que a sua importância [da
Maçonaria] é habitualmente exagerada e que a sua influência na coisa pública é
hoje muito menor do que a que existiu no passado.
(…)
A Maçonaria tem uma intervenção na vida pública
que produz efeitos na política, seja pela “protecção” de carreiras, seja pelas
escolhas para certas áreas da política democrática de grande sensibilidade.
(…)
A Maçonaria tem um sistema de valores que a
colocam no plano cívico e político em sentido estrito e uma forma de
organização que implica o segredo ou a “discrição” que é uma aberração em
democracia.
Pacheco Pereira, “Público”
(sem link)
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