(…)
No dia 14 de janeiro, findo o Conselho de
Ministros que decorreu no Palácio da Ajuda, o ministro Siza Vieira anunciou que
os trabalhadores que prestam serviços a recibos verdes ou outros profissionais
independentes “passam a
recuperar o apoio que esteve em vigor durante o ano passado”.
(…)
Afinal, havia um alçapão no decreto-lei que
resultava num corte considerável com o que aconteceu em 2020 – o tal “apoio
financeiro” deixava de ser calculado em função dos rendimentos de 2019 e
passava a ter por base os rendimentos de 2020, fortemente afetados pela
pandemia.
(…)
O que era a solução para dezenas de milhar de
trabalhadores foi inexplicavelmente vilipendiado pelo Governo.
(…)
O resto ficará para a história como uma guerra
de um Governo minoritário contra o Parlamento, a pedir a um Presidente da
República de direita para vetar um diploma que melhora apoios sociais
fundamentais no momento em que o país atravessa uma enorme crise económica.
(…)
Longe vão os dias em que deputadas e deputados
do PS se dirigiam ao Tribunal Constitucional para contestar cortes nos salários
e nas pensões, agora levantam a Constituição para reduzir
apoios sociais.
Pedro Filipe Soares,
“Público” (sem
link)
O vírus, percebe-se bem agora, é um fenómeno essencialmente social,
que resulta, em boa parte, de um modelo económico predatório que, na busca
infinita de acumulação, desprezou os limites que a natureza nos impõe.
(…)
A jusante, o vírus revelou e multiplicou as desigualdades
sociais (de classe, de género, de etnia), atingindo os mais
vulneráveis (os pobres, os racializados, as mulheres).
(…)
De igual modo, expôs as enormes fragilidades de
um sistema de reprodução social extremamente desgastado por décadas de desinvestimento
público (saúde, habitação, redes de cuidados).
(…)
A pandemia catapultou com maior veemência um
ecossistema de ódio e de desconfiança, que se alimenta e é alimentado pelos
algoritmos da inteligência artificial usados nas plataformas e redes sociais.
(…)
Em simultâneo, a normalização dos estados de
exceção abre as portas a uma certa naturalização dos limites aos Direitos
Fundamentais.
(…)
Finalmente, recrudescem os excludentes
nacionalismos, tão hiperbolicamente visível no fechamento de fronteiras ou na
disputa sobre as vacinas, a par do desvanecimento das estruturas internacionais
de solidariedade.
(…)
[Os decisores] não quiseram ou não souberam
interpretar os comportamentos sociais, reduzindo-os, tantas vezes, a meras
manifestações psicológicas ou patológicas.
(…)
Importaria desocultar os mecanismos que
produzem a descrença nas descobertas científicas.
(…)
Mobilizar o conhecimento sociológico incomoda e
desestabiliza processos de decisão superficiais e burocráticos.
(…)
A única perspetiva realista é a de não
regressarmos ao “normal” que mais não é do que um caldeirão de crises infinitas
onde tudo o que é comum se derrete.
João Teixeira Lopes,
“Público” (sem
link)
As origens destes movimentos [ditos pela “verdade”]
são muito diferentes, têm várias fontes e algumas tradições, mas hoje fazem
parte de uma nova extrema-direita que está a emergir em vários países europeus
e nos EUA.
(…)
O custo social e económico da pandemia e do
combate à pandemia são os factores a que se deve prestar mais atenção, para se
diminuir o processo de radicalização em curso.
(…)
Todas estas teorias da conspiração estão aí e
circulam em Portugal, e têm um único motivo: não há pandemia, há uma
“gripezinha”, os mortos não morreram de covid, mas de outras enfermidades.
(…)
A maioria destas irresponsáveis patetices não
se ficam pelos cartazes “verdadeiros”, encontram-se também em artigos de
opinião no Observador, (…) ou nas manifestações do Chega e proliferam como
vírus nas redes sociais.
(…)
Se nós fôssemos, mais do que já somos, uma
sociedade má, tomávamos à letra estas reivindicações. Muito bem, querem ter
estas “liberdades”, façam uma declaração de que se responsabilizam pelos custos
do tratamento da covid, caso fiquem infectados.
(…)
E se fôssemos uma sociedade ainda pior, não os
deixávamos entrar no SNS, onde os tratamentos são gratuitos, porque os pagamos
todos nós.
(…)
E depois exigir uma segunda declaração sobre a
responsabilidade de indemnizar todos os que se provem que foram infectados por
um dos “verdadeiros” e, no caso de essa infecção resultar numa morte,
condenação por homicídio.
Pacheco Pereira, “Público”
(sem link)
Não há pessoas sem vínculos e os políticos têm todos ligações,
desde logo pessoais.
(…)
Será que os laços entre dois políticos maçons são mais fortes do
que entre dois políticos que andaram no mesmo colégio privado?
(…)
O que não se pode é incorporar extensivamente o pressuposto de que
todas as decisões estão capturadas por uma grande conspiração.
(…)
Temo que, num tempo não muito distante, sobrem poucos com
qualidade, disponíveis para se sujeitarem a este voyeurismo.
(…)
O risco de tanta transparência acabar por ter como resultado
agregado um empobrecimento da classe política é real.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
O “Cabo Esquecido” é a província mais pobre de Moçambique. E a
mais rica. Foi ali que se descobriram dos melhores rubis e uma das maiores
reservas de gás natural do mundo.
(…)
Mas mais de metade da população vive abaixo do limiar de pobreza.
(…)
A extração dos seus bens, sem qualquer benefício para quem lá
vive, talvez tenha ajudado a fazer crescer a Shabaab.
(…)
Os crimes dos mercenários e das Forças Armadas são o que fica na
penumbra. Ou a corrupção dos círculos do poder político, que não querem um
apoio externo que meta o nariz nos seus negócios.
(…)
O desprezo de Maputo pela população de Cabo Delgado, a rapina das
suas riquezas e os interesses de traficantes de droga, madeiras e pedras vindas
do garimpo ilegal (para quem os fundamentalistas são úteis) ajudam a explicar o
que ali se passa.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A aula deve ser para aprender conteúdos
valiosos, pausa de reflexão filosófica mas, também, um exercício democrático,
no sentido de recriar espaços de liberdade – propícios para a interrogação
sobre si, o outro, o mundo.
(…)
A aula é o ato docente por excelência que
caracteriza a seu ofício e – por definição – só pode ocorrer em presença.
(…)
Chamar “aula” a instrução remota “online” é
totalmente fora de lugar, uma impostura intelectual que não pode mais voltar a
ter lugar no pós-pandemia.
Roberto della Santa,
“Público” (sem
link)
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