domingo, 28 de março de 2021

MAIS CITAÇÕES (124)

 
Ainda o OE 2021 não tinha um mês de vida e o Governo já ressuscitava das cinzas os apoios à quebra de actividade que tinham sido lançados em 2020 porque o novo apoio provou ser um flop – deixava muitas pessoas desprotegidas e era manifestamente insuficiente.

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No dia 14 de janeiro, findo o Conselho de Ministros que decorreu no Palácio da Ajuda, o ministro Siza Vieira anunciou que os trabalhadores que prestam serviços a recibos verdes ou outros profissionais independentes “passam a recuperar o apoio que esteve em vigor durante o ano passado”. 

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Afinal, havia um alçapão no decreto-lei que resultava num corte considerável com o que aconteceu em 2020 – o tal “apoio financeiro” deixava de ser calculado em função dos rendimentos de 2019 e passava a ter por base os rendimentos de 2020, fortemente afetados pela pandemia.

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O que era a solução para dezenas de milhar de trabalhadores foi inexplicavelmente vilipendiado pelo Governo.

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O resto ficará para a história como uma guerra de um Governo minoritário contra o Parlamento, a pedir a um Presidente da República de direita para vetar um diploma que melhora apoios sociais fundamentais no momento em que o país atravessa uma enorme crise económica.

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Longe vão os dias em que deputadas e deputados do PS se dirigiam ao Tribunal Constitucional para contestar cortes nos salários e nas pensões, agora levantam a Constituição para reduzir apoios sociais.

Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)

 

O vírus, percebe-se bem agora, é um fenómeno essencialmente social, que resulta, em boa parte, de um modelo económico predatório que, na busca infinita de acumulação, desprezou os limites que a natureza nos impõe.

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A jusante, o vírus revelou e multiplicou as desigualdades sociais (de classe, de género, de etnia), atingindo os mais vulneráveis (os pobres, os racializados, as mulheres).

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De igual modo, expôs as enormes fragilidades de um sistema de reprodução social extremamente desgastado por décadas de desinvestimento público (saúde, habitação, redes de cuidados).

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A pandemia catapultou com maior veemência um ecossistema de ódio e de desconfiança, que se alimenta e é alimentado pelos algoritmos da inteligência artificial usados nas plataformas e redes sociais.

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Em simultâneo, a normalização dos estados de exceção abre as portas a uma certa naturalização dos limites aos Direitos Fundamentais.

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Finalmente, recrudescem os excludentes nacionalismos, tão hiperbolicamente visível no fechamento de fronteiras ou na disputa sobre as vacinas, a par do desvanecimento das estruturas internacionais de solidariedade.

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[Os decisores] não quiseram ou não souberam interpretar os comportamentos sociais, reduzindo-os, tantas vezes, a meras manifestações psicológicas ou patológicas.

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Importaria desocultar os mecanismos que produzem a descrença nas descobertas científicas.

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Mobilizar o conhecimento sociológico incomoda e desestabiliza processos de decisão superficiais e burocráticos.

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A única perspetiva realista é a de não regressarmos ao “normal” que mais não é do que um caldeirão de crises infinitas onde tudo o que é comum se derrete.

João Teixeira Lopes, “Público” (sem link)

 

As origens destes movimentos [ditos pela “verdade”] são muito diferentes, têm várias fontes e algumas tradições, mas hoje fazem parte de uma nova extrema-direita que está a emergir em vários países europeus e nos EUA.

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O custo social e económico da pandemia e do combate à pandemia são os factores a que se deve prestar mais atenção, para se diminuir o processo de radicalização em curso.

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Todas estas teorias da conspiração estão aí e circulam em Portugal, e têm um único motivo: não há pandemia, há uma “gripezinha”, os mortos não morreram de covid, mas de outras enfermidades.

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A maioria destas irresponsáveis patetices não se ficam pelos cartazes “verdadeiros”, encontram-se também em artigos de opinião no Observador, (…) ou nas manifestações do Chega e proliferam como vírus nas redes sociais. 

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Se nós fôssemos, mais do que já somos, uma sociedade má, tomávamos à letra estas reivindicações. Muito bem, querem ter estas “liberdades”, façam uma declaração de que se responsabilizam pelos custos do tratamento da covid, caso fiquem infectados.

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E se fôssemos uma sociedade ainda pior, não os deixávamos entrar no SNS, onde os tratamentos são gratuitos, porque os pagamos todos nós. 

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E depois exigir uma segunda declaração sobre a responsabilidade de indemnizar todos os que se provem que foram infectados por um dos “verdadeiros” e, no caso de essa infecção resultar numa morte, condenação por homicídio.

Pacheco Pereira, “Público” (sem link)

 

Não há pessoas sem vínculos e os políticos têm todos ligações, desde logo pessoais.

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Será que os laços entre dois políticos maçons são mais fortes do que entre dois políticos que andaram no mesmo colégio privado?

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O que não se pode é incorporar extensivamente o pressuposto de que todas as decisões estão capturadas por uma grande conspiração.

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Temo que, num tempo não muito distante, sobrem poucos com qualidade, disponíveis para se sujeitarem a este voyeurismo.

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O risco de tanta transparência acabar por ter como resultado agregado um empobrecimento da classe política é real.

Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)

 

O “Cabo Esquecido” é a província mais pobre de Moçambique. E a mais rica. Foi ali que se descobriram dos melhores rubis e uma das maiores reservas de gás natural do mundo. 

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Mas mais de metade da população vive abaixo do limiar de pobreza.

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A extração dos seus bens, sem qualquer benefício para quem lá vive, talvez tenha ajudado a fazer crescer a Shabaab.

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Os crimes dos mercenários e das Forças Armadas são o que fica na penumbra. Ou a corrupção dos círculos do poder político, que não querem um apoio externo que meta o nariz nos seus negócios.

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O desprezo de Maputo pela população de Cabo Delgado, a rapina das suas riquezas e os interesses de traficantes de droga, madeiras e pedras vindas do garimpo ilegal (para quem os fundamentalistas são úteis) ajudam a explicar o que ali se passa.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

A aula deve ser para aprender conteúdos valiosos, pausa de reflexão filosófica mas, também, um exercício democrático, no sentido de recriar espaços de liberdade – propícios para a interrogação sobre si, o outro, o mundo.

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A aula é o ato docente por excelência que caracteriza a seu ofício e – por definição – só pode ocorrer em presença.

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Chamar “aula” a instrução remota “online” é totalmente fora de lugar, uma impostura intelectual que não pode mais voltar a ter lugar no pós-pandemia.

Roberto della Santa, “Público” (sem link)


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